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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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ARTIGO

O definitivo adeus

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

Interrompam a brincadeira quando ela está no auge, costumava recomendar aos pais um amigo meu, experiente pedagogo. Sábio conselho: desta forma, as crianças guardarão da referida brincadeira uma saudosa imagem.
Michael Jordan não fez isto. Deu por encerrada sua carreira não só uma, mas três vezes. E o final, que agora se supõe definitivo, inevitavelmente tem a conotação de melancolia. A pergunta se impõe: como, num país em que imagem é tudo, o astro não se preocupou em preservar a aura de imbatível?
A resposta não é fácil. Em se tratando de esporte profissional, a motivação financeira logo vem à mente. Mas não deve ser isto, ou não deve ser só isto: a esta altura, Jordan já deve ter o pé-de-meia forrado, e olhem que o dele não é pequeno.
Não, a motivação deve ser outra, resumida no termo que o próprio Jordan usou, referindo-se ao jovem LeBron James: paixão. Todo esporte mobiliza paixão, mas no caso do basquete, com sua vertiginosa rapidez e sua espantosa sucessão de pontos marcados, tal mobilização chega ao paroxismo.
Não é fácil abandonar o basquete, e Jordan, como outros, pretende manter uma carreira na NBA. Afinal, diz, a vida continua e o basquete também.
Mas o jogador profissional Michael Jordan deixa de existir, inclusive de maneira simbólica. Até o Miami Heat retirou o 23 do time. Era o número de Jordan e continuará sendo.
Uma homenagem, mas também um sinal de que a era Jordan terminou. Desaparece o superstar, surge o cidadão Michael Jordan que, um dia será um provecto senhor, que caminhará, como muitos provectos senhores, pelas ruas das cidades americanas. Mas cujo coração baterá mais forte cada vez que avistar, numa praça, um garoto fazendo uma daquelas cestas maravilhosas que ultrapassam o limite do esporte e se configuram como arte pura.


Moacyr Scliar joga basquete e se sente realizado quando consegue fazer, pelo menos, uma cesta: a de Natal


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