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ARTIGO
O definitivo adeus
MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA
Interrompam a brincadeira quando ela está no
auge, costumava recomendar
aos pais um amigo meu, experiente pedagogo. Sábio conselho: desta forma, as crianças
guardarão da referida brincadeira uma saudosa imagem.
Michael Jordan não fez isto.
Deu por encerrada sua carreira
não só uma, mas três vezes. E o
final, que agora se supõe definitivo, inevitavelmente tem a
conotação de melancolia. A
pergunta se impõe: como, num
país em que imagem é tudo, o
astro não se preocupou em preservar a aura de imbatível?
A resposta não é fácil. Em se
tratando de esporte profissional, a motivação financeira logo vem à mente. Mas não deve
ser isto, ou não deve ser só isto:
a esta altura, Jordan já deve ter
o pé-de-meia forrado, e olhem
que o dele não é pequeno.
Não, a motivação deve ser
outra, resumida no termo que
o próprio Jordan usou, referindo-se ao jovem LeBron James:
paixão. Todo esporte mobiliza
paixão, mas no caso do basquete, com sua vertiginosa rapidez e sua espantosa sucessão
de pontos marcados, tal mobilização chega ao paroxismo.
Não é fácil abandonar o basquete, e Jordan, como outros,
pretende manter uma carreira
na NBA. Afinal, diz, a vida
continua e o basquete também.
Mas o jogador profissional
Michael Jordan deixa de existir, inclusive de maneira simbólica. Até o Miami Heat retirou o 23 do time. Era o número
de Jordan e continuará sendo.
Uma homenagem, mas também um sinal de que a era Jordan terminou. Desaparece o
superstar, surge o cidadão Michael Jordan que, um dia será
um provecto senhor, que caminhará, como muitos provectos
senhores, pelas ruas das cidades americanas. Mas cujo coração baterá mais forte cada vez
que avistar, numa praça, um
garoto fazendo uma daquelas
cestas maravilhosas que ultrapassam o limite do esporte e se
configuram como arte pura.
Moacyr Scliar joga basquete e se sente realizado quando consegue fazer,
pelo menos, uma cesta: a de Natal
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