São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011

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RITA SIZA

O rating e o ranking


Com três times na Liga Europa, não importa que Portugal esteja praticamente na bancarrota


"ISTO ATÉ pode andar a correr mal com o rating, mas pelo menos está a correr bem com o ranking", ouvi eu, mal se confirmou que as três equipas de futebol portuguesas que jogavam nos quartos de final da Liga Europa -FC Porto, Benfica e Braga- passaram as respectivas eliminatórias e continuarem na competição. O ranking é a classificação das equipas feita pela Uefa; o rating diz respeito à apreciação que as agências de notação financeira têm feito da dívida soberana, dos bancos e das principais empresas públicas do país e "isto" designa, genericamente, Portugal.
A frase é todo um tratado de fina ironia, rebuscada alegoria e, claro, capacidade de síntese. Estamos a viver, aqui em Portugal, tempos históricos: depois da quarta-feira do resgate, tivemos a quinta--feira do futebol. A nação deprimiu-se com a primeira, mas logo a seguir vingou-se a festejar com a segunda. Não importa que o país esteja praticamente na bancarrota -e que os clubes de futebol, como as famílias, as empresas e o Estado, estejam inundados de dívidas, alegremente a viver acima das suas possibilidades.
Afinal, o jogo decisivo de uma competição europeia vai ter uma equipa nacional, e nem é difícil imaginar que a final da Liga Europa seja inteiramente portuguesa. Enfim, vamos ter portugueses em Dublin, a capital de um outro país em crise e que necessitou de resgate financeiro, onde se vai disputar a final. Haja sol e cerveja, depois logo se vê como pagamos a conta!
"Portugal confirma a sua maioria absoluta", titulava o jornal espanhol "Marca", no que só pode ser interpretado como uma piada de mau gosto: todos os inquéritos de opinião demonstram que, nas eleições legislativas que se avizinham, nenhum partido deverá conquistar os votos necessários para governar sozinho, o que dizem os analistas políticos, condena o país a mais negociações patéticas e estéreis que, em vez de resolver, só arrastam os problemas de Portugal. Mas alguém vai pensar nisso se trouxermos para casa a taça?

P.S.
Com três equipas portuguesas e três espanholas nas meias-finais das duas principais competições europeias, o jornal "The New York Times" discutia o "poderio ibérico" na Uefa e aconselhava os comentadores a rever opiniões sobre as melhores ligas do continente. Não tenho dúvidas sobre a espanhola, mas, infelizmente para o meu país, acho que os americanos estão a deixar-se enganar pela presente anomalia estatística para tirar conclusões erradas sobre a qualidade do Campeonato Português.


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