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CARREIRA
Meia tem dúvidas sobre qual
tema deve escolher na área de humanas
"Adolescente" Raí diz que voltará a ser estudante
RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A JOÃO PESSOA
Ao anunciar a sua aposentadoria, o meia Raí, 35, passa por uma
situação inusitada para quem
chega ao fim de sua vida profissional. Em dúvida sobre qual carreira irá seguir, o ídolo da torcida
são-paulina diz estar se "sentindo
como um adolescente".
Ele revelou, em entrevista exclusiva à Folha, que a sua meta agora
é voltar a estudar.
O meia, que está separado, disse
também encarar de maneira positiva o fato de ter se transformado
num símbolo sexual. Na última
terça-feira, o jogador anunciou a
sua retirada do futebol ao final da
participação do São Paulo na Copa dos Campeões.
Folha - Antes de anunciar a sua
retirada, você dizia que pretendia
continuar jogando. Quais motivos
o levaram a mudar de idéia?
Raí - Eu estava pensando em todas as possibilidades. Pensava em
continuar e também numa possível parada. Pesando os pontos a
favor e contra, acabei decidindo
que é um bom momento para parar. Quero fazer outras coisas,
quero ter outra carreira, que ainda não decidi qual é. Por isso,
quero ganhar tempo. Quanto
mais jogasse, mais encurtaria
uma outra carreira.
Folha - A idéia é se dedicar exclusivamente a uma atividade?
Raí - Vou me dedicar a algumas
coisas diferentes, mas vou ter
uma atividade principal, uma carreira na qual eu possa evoluir.
Folha - Qual atividade você gostaria de exercer?
Raí - Ainda não sei. Quero tirar
esses meses para pensar. Por enquanto, vou assumir a diretoria
executiva da Fundação Gol de Letra (que mantém com Leonardo).
Folha - Vai voltar a estudar?
Raí - Vou, na área de ciências
humanas, que eu gosto. Fiz dois
anos de história, além de dois de
educação física, quando jogava
no Botafogo-SP, mas não terminei nenhum dos dois cursos. Não
sei se vou fazer uma faculdade
tradicional, mas com certeza vou
participar de cursos.
Folha - Dentro dessa área, que temas que você quer estudar?
Raí - Quero decidir com calma,
como se estivesse voltando aos
meus 17 anos. Estou como um
adolescente que tem de escolher
uma carreira. Ainda tenho muitas
dúvidas.
Folha - Você tem dito que não
quer ser técnico. E outro cargo em
um time de futebol? Essa possibilidade está descartada?
RaÍ - Não, mas não quero trabalhar agora no futebol. Antes quero me preparar para isso.
Folha - É uma maneira de fugir
um pouco desse ambiente?
Raí - É uma forma de fugir e
também de não entrar despreparado. Tenho o meu know-how
adquirido em campo. Essa é a
maior riqueza que vou trazer
quando voltar a trabalhar com futebol. Mas quero também conhecer a parte teórica, fazer estágios,
conhecer o posto que vou assumir
em outros clubes.
Folha - O São Paulo ainda não fez
um convite para você trabalhar em
outras áreas no clube. Isso é uma
decepção?
Raí - Esse fato não me decepciona, pois não é uma coisa que eu
queira fazer agora.
Folha - Você tem a fama de ser o
jogador mais culto do Brasil, como
foi considerado o seu irmão Sócrates, na década de 80. Concorda com
isso?
Raí - O mais culto? Não sei, tem
muita gente por aí. Também não
me comparo ao Sócrates, que tinha muito mais informações.
Acho que isso se deve às oportunidades que eu tive. Poucos jogadores tiveram essas oportunidades. O futebol é reflexo da sociedade. Faço parte de uma minoria
e tento valorizar isso me mantendo informado e procurando trabalhar a cabeça.
Folha - Você chega a se sentir deslocado por ter uma formação diferente dos outros?
Raí - O lugar em que me sinto
mais à vontade é no ambiente de
futebol, com os jogadores. Muita
gente que não tem um alto nível
de formação sabe muito da vida.
Tem até uma música da Marisa
Monte que tem uma frase perguntando: "o quê é mais inteligente, o livro ou a sabedoria?" No
futebol, tem muita gente que não
tem cultura adquirida com livros,
mas tem muita sabedoria.
Folha - Você é considerado um
dos principais responsáveis pelo
crescimento do interesse das mulheres brasileiras pelo futebol. Incomoda ser tratado como um símbolo sexual?
Raí - Esse lado de fazer o público
feminino se interessar pelo futebol é uma das vantagens dessa exploração, entre aspas, que fizeram
da minha imagem. Estou me referindo à mídia. Conforme foram
mostrando mais a minha imagem
física, foram explorando esse outro lado. Acho que a maneira como eu conduzi isso, por não ser
nenhum playboy, só trouxe consequências positivas.
Folha - De toda a sua carreira,
quais os momentos que mais marcaram?
Raí - O gol de falta em Tóquio,
na final do Mundial Interclubes,
em 1992, foi um deles. Também
teve a minha primeira convocação para a seleção brasileira em
1987. Eu tinha 22 anos, foi no dia
do meu aniversário e eu jogava
pelo Botafogo. Outro momento
aconteceu quando eu era júnior e
decidi me casar, aos 17 anos.
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