São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


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CARREIRA
Meia tem dúvidas sobre qual tema deve escolher na área de humanas

"Adolescente" Raí diz que voltará a ser estudante

RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A JOÃO PESSOA

Ao anunciar a sua aposentadoria, o meia Raí, 35, passa por uma situação inusitada para quem chega ao fim de sua vida profissional. Em dúvida sobre qual carreira irá seguir, o ídolo da torcida são-paulina diz estar se "sentindo como um adolescente".
Ele revelou, em entrevista exclusiva à Folha, que a sua meta agora é voltar a estudar.
O meia, que está separado, disse também encarar de maneira positiva o fato de ter se transformado num símbolo sexual. Na última terça-feira, o jogador anunciou a sua retirada do futebol ao final da participação do São Paulo na Copa dos Campeões.

Folha - Antes de anunciar a sua retirada, você dizia que pretendia continuar jogando. Quais motivos o levaram a mudar de idéia?
Raí -
Eu estava pensando em todas as possibilidades. Pensava em continuar e também numa possível parada. Pesando os pontos a favor e contra, acabei decidindo que é um bom momento para parar. Quero fazer outras coisas, quero ter outra carreira, que ainda não decidi qual é. Por isso, quero ganhar tempo. Quanto mais jogasse, mais encurtaria uma outra carreira.

Folha - A idéia é se dedicar exclusivamente a uma atividade?
Raí -
Vou me dedicar a algumas coisas diferentes, mas vou ter uma atividade principal, uma carreira na qual eu possa evoluir.

Folha - Qual atividade você gostaria de exercer?
Raí
- Ainda não sei. Quero tirar esses meses para pensar. Por enquanto, vou assumir a diretoria executiva da Fundação Gol de Letra (que mantém com Leonardo).

Folha - Vai voltar a estudar?
Raí
- Vou, na área de ciências humanas, que eu gosto. Fiz dois anos de história, além de dois de educação física, quando jogava no Botafogo-SP, mas não terminei nenhum dos dois cursos. Não sei se vou fazer uma faculdade tradicional, mas com certeza vou participar de cursos.

Folha - Dentro dessa área, que temas que você quer estudar?
Raí
- Quero decidir com calma, como se estivesse voltando aos meus 17 anos. Estou como um adolescente que tem de escolher uma carreira. Ainda tenho muitas dúvidas.

Folha - Você tem dito que não quer ser técnico. E outro cargo em um time de futebol? Essa possibilidade está descartada?
RaÍ
- Não, mas não quero trabalhar agora no futebol. Antes quero me preparar para isso.

Folha - É uma maneira de fugir um pouco desse ambiente?
Raí
- É uma forma de fugir e também de não entrar despreparado. Tenho o meu know-how adquirido em campo. Essa é a maior riqueza que vou trazer quando voltar a trabalhar com futebol. Mas quero também conhecer a parte teórica, fazer estágios, conhecer o posto que vou assumir em outros clubes.

Folha - O São Paulo ainda não fez um convite para você trabalhar em outras áreas no clube. Isso é uma decepção?
Raí
- Esse fato não me decepciona, pois não é uma coisa que eu queira fazer agora.

Folha - Você tem a fama de ser o jogador mais culto do Brasil, como foi considerado o seu irmão Sócrates, na década de 80. Concorda com isso?
Raí
- O mais culto? Não sei, tem muita gente por aí. Também não me comparo ao Sócrates, que tinha muito mais informações. Acho que isso se deve às oportunidades que eu tive. Poucos jogadores tiveram essas oportunidades. O futebol é reflexo da sociedade. Faço parte de uma minoria e tento valorizar isso me mantendo informado e procurando trabalhar a cabeça.

Folha - Você chega a se sentir deslocado por ter uma formação diferente dos outros?
Raí
- O lugar em que me sinto mais à vontade é no ambiente de futebol, com os jogadores. Muita gente que não tem um alto nível de formação sabe muito da vida. Tem até uma música da Marisa Monte que tem uma frase perguntando: "o quê é mais inteligente, o livro ou a sabedoria?" No futebol, tem muita gente que não tem cultura adquirida com livros, mas tem muita sabedoria.

Folha - Você é considerado um dos principais responsáveis pelo crescimento do interesse das mulheres brasileiras pelo futebol. Incomoda ser tratado como um símbolo sexual?
Raí
- Esse lado de fazer o público feminino se interessar pelo futebol é uma das vantagens dessa exploração, entre aspas, que fizeram da minha imagem. Estou me referindo à mídia. Conforme foram mostrando mais a minha imagem física, foram explorando esse outro lado. Acho que a maneira como eu conduzi isso, por não ser nenhum playboy, só trouxe consequências positivas.

Folha - De toda a sua carreira, quais os momentos que mais marcaram?
Raí
- O gol de falta em Tóquio, na final do Mundial Interclubes, em 1992, foi um deles. Também teve a minha primeira convocação para a seleção brasileira em 1987. Eu tinha 22 anos, foi no dia do meu aniversário e eu jogava pelo Botafogo. Outro momento aconteceu quando eu era júnior e decidi me casar, aos 17 anos.


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