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EUROPA
Caça às bruxas
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
O escândalo do momento
no futebol mundial é a conquista fraudulenta de uma cidadania européia qualquer para
obter espaço no milionário mercado do Velho Continente.
O caso do volante Edu, que teve
um passaporte português elaborado pelo experiente empresário
Juan Figer retido na Inglaterra,
expôs a questão no Brasil, mas o
futebol europeu vem sofrendo
bastante com o problema desde o
nascimento da União Européia.
Por determinação judicial, os
clubes dos países que integram o
Mercado Comum Europeu comemoram (na maioria dos casos) ou
aceitam (no caso da Inglaterra)
uma verdadeira ""invasão estrangeira". É possível ver um Barcelona atuando com 11 holandeses ou
um Arsenal com 11 franceses.
O presidente do Chelsea, Ken
Bates, por exemplo, acha que não
existem grandes jogadores britânicos e permitiu, em um jogo neste ano, que seu time atuasse com
11 atletas de fora do Reino Unido.
Mesmo tendo passado tanto
tempo do caso Bosman, a questão
continua rendendo polêmica. A
Fifa e a Uefa nunca se curvaram à
sentença que transformou o mercado de atletas na Europa.
Joseph Blatter, o presidente da
Fifa, está cada vez mais perto de
impor um número mínimo de jogadores ""nativos" por time -um
clube deverá ter pelo menos seis
jogadores de seu país de origem.
Mas tal proposta é prejudicial a
muita gente. Se os atletas vêem
reduzidas as suas chances de trabalho, os clubes vêem ainda mais
reduzida a sua procura por mão-de-obra qualificada, e os empresários vêem muito mais reduzidas as oportunidades de lucro.
Adquirir uma nacionalidade
européia virou ouro e, às vezes,
ouro de tolo. O zagueiro são-paulino Edmílson, em meio à sua longa transação com o Arsenal, esqueceu até se seus antepassados
são portugueses ou alemães.
Já no ano passado, um atacante
argentino de pouca expressão, Esteban Fuertes, passou pelo mesmo
constrangimento de Edu. Para jogar no Derby County, apresentou
um falso passaporte italiano, que
lhe rendeu uma volta frustrada à
Argentina. O vexame, porém, não
impediu Fuertes de jogar posteriormente no Lens, da França.
O caso mais famoso e que deverá continuar pautando a mídia é
o do volante argentino Verón, da
Lazio, que, ao contrário de Edu e
Fuertes, é um dos principais nomes do esporte na atualidade.
Verón conseguiu cidadania italiana, mas comprovadamente de
maneira irregular. A fraude, porém, é tão profissional quanto Verón. Só com seis meses de investigação um fiscal de Roma, Silverio
Piro, conseguiu provar a farsa.
Pelo menos cinco pessoas, além
de Verón e do presidente da Lazio, Sergio Cragnotti, poderão ser
processadas por estarem envolvidas na fraude que rendeu a Verón a condição de ""italiano" -os
jogadores, na maioria das vezes,
ainda são vítimas na história.
Pelo crime de falsidade ideológica, todos poderão pegar até
quatro anos de prisão. E, no âmbito esportivo, a Lazio poderá até
perder o título do Italiano que
conseguiu após longos 26 anos.
Verón, conhecido como ""Bruxinha", apelido que herdou de seu
pai, será o símbolo maior do período de caça às bruxas (estrangeiros) que a Europa vive agora.
Charles Dempsey
O dirigente escocês que, em
nome da Oceania, garantiu a
Copa de 2006 na Europa decidiu se aposentar. Deixa o
mundo do futebol (presidência da Confederação da Oceania e comitês da Fifa) com 79
anos para desfrutar o resto da
vida com ""tranquilidade".
Maracanazo
Somente após 50 anos da
maior derrota da história da
seleção brasileira é que começam a absolver os culpados
pelo fracasso e a valorizar
uma capacitada seleção uruguaia, de Máspoli, Obdulio
Varela e Schiaffino.
Maradona
O mais talentoso jogador das
últimas duas décadas, ao atacar até a mãe do papa, mostra
que está mais do que nunca
procurando holofotes. Acho
que não recusaria um convite
para atuar em um jogo de
despedida para Raí.
E-mail: rbueno@folhasp.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
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