São Paulo, domingo, 16 de julho de 2000


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EUROPA
Caça às bruxas

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O escândalo do momento no futebol mundial é a conquista fraudulenta de uma cidadania européia qualquer para obter espaço no milionário mercado do Velho Continente.
O caso do volante Edu, que teve um passaporte português elaborado pelo experiente empresário Juan Figer retido na Inglaterra, expôs a questão no Brasil, mas o futebol europeu vem sofrendo bastante com o problema desde o nascimento da União Européia.
Por determinação judicial, os clubes dos países que integram o Mercado Comum Europeu comemoram (na maioria dos casos) ou aceitam (no caso da Inglaterra) uma verdadeira ""invasão estrangeira". É possível ver um Barcelona atuando com 11 holandeses ou um Arsenal com 11 franceses.
O presidente do Chelsea, Ken Bates, por exemplo, acha que não existem grandes jogadores britânicos e permitiu, em um jogo neste ano, que seu time atuasse com 11 atletas de fora do Reino Unido.
Mesmo tendo passado tanto tempo do caso Bosman, a questão continua rendendo polêmica. A Fifa e a Uefa nunca se curvaram à sentença que transformou o mercado de atletas na Europa.
Joseph Blatter, o presidente da Fifa, está cada vez mais perto de impor um número mínimo de jogadores ""nativos" por time -um clube deverá ter pelo menos seis jogadores de seu país de origem.
Mas tal proposta é prejudicial a muita gente. Se os atletas vêem reduzidas as suas chances de trabalho, os clubes vêem ainda mais reduzida a sua procura por mão-de-obra qualificada, e os empresários vêem muito mais reduzidas as oportunidades de lucro.
Adquirir uma nacionalidade européia virou ouro e, às vezes, ouro de tolo. O zagueiro são-paulino Edmílson, em meio à sua longa transação com o Arsenal, esqueceu até se seus antepassados são portugueses ou alemães.
Já no ano passado, um atacante argentino de pouca expressão, Esteban Fuertes, passou pelo mesmo constrangimento de Edu. Para jogar no Derby County, apresentou um falso passaporte italiano, que lhe rendeu uma volta frustrada à Argentina. O vexame, porém, não impediu Fuertes de jogar posteriormente no Lens, da França.
O caso mais famoso e que deverá continuar pautando a mídia é o do volante argentino Verón, da Lazio, que, ao contrário de Edu e Fuertes, é um dos principais nomes do esporte na atualidade.
Verón conseguiu cidadania italiana, mas comprovadamente de maneira irregular. A fraude, porém, é tão profissional quanto Verón. Só com seis meses de investigação um fiscal de Roma, Silverio Piro, conseguiu provar a farsa.
Pelo menos cinco pessoas, além de Verón e do presidente da Lazio, Sergio Cragnotti, poderão ser processadas por estarem envolvidas na fraude que rendeu a Verón a condição de ""italiano" -os jogadores, na maioria das vezes, ainda são vítimas na história.
Pelo crime de falsidade ideológica, todos poderão pegar até quatro anos de prisão. E, no âmbito esportivo, a Lazio poderá até perder o título do Italiano que conseguiu após longos 26 anos.
Verón, conhecido como ""Bruxinha", apelido que herdou de seu pai, será o símbolo maior do período de caça às bruxas (estrangeiros) que a Europa vive agora.

Charles Dempsey
O dirigente escocês que, em nome da Oceania, garantiu a Copa de 2006 na Europa decidiu se aposentar. Deixa o mundo do futebol (presidência da Confederação da Oceania e comitês da Fifa) com 79 anos para desfrutar o resto da vida com ""tranquilidade".

Maracanazo
Somente após 50 anos da maior derrota da história da seleção brasileira é que começam a absolver os culpados pelo fracasso e a valorizar uma capacitada seleção uruguaia, de Máspoli, Obdulio Varela e Schiaffino.

Maradona
O mais talentoso jogador das últimas duas décadas, ao atacar até a mãe do papa, mostra que está mais do que nunca procurando holofotes. Acho que não recusaria um convite para atuar em um jogo de despedida para Raí.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata



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