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BEISEBOL
Longe das crias, mães alimentam os novatos
Longe dos filhos atletas, instalados na Vila, matriarcas cozinham por esporte
Histórica, contribuição da figura materna, que vai de "oniguiri" a palpite no time, é mantida durante os Jogos em casa alugada no Rio
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"As mães, no beisebol, têm
mais poder do que você pode
imaginar", explica, pausadamente e com sutil movimento
afirmativo de cabeça, Shuhei
Tsuji, diretor técnico da confederação brasileira do esporte
que, diga-se, não tem mulheres
entre os seus praticantes.
É o reconhecimento de sua
contribuição histórica.
Seja cozinhando para os atletas, às vezes em fogareiros improvisados com tijolos, vendendo pratos japoneses em
eventos para levantar dinheiro
ou organizando rifas e bazares
na comunidade japonesa para
arrecadar verba para viagens.
Miyoko Yagura, Edna Ogasawada e Mitiko Sato vivenciaram essas experiências.
São mães de jogadores ou ex-atletas da seleção, que, hospedadas em uma casa alugada em
Jacarepaguá, acompanham a
disputa do beisebol no Pan.
"Levávamos nas viagens pratos japoneses. E tinham de ser
frios, pois não havia refrigeradores. Eram oniguiri [bolinho
de arroz], nishimê [peixe frito à
milanesa], harussami [salada
de macarrão de arroz], conservas de pepino", lembra Mitiko,
mãe de Reinaldo e Renan, rebatedores do Brasil. "Às vezes,
improvisavam fogareiros, armados com tijolos."
"Quem está na seleção pegou
esse começo, a visão de luta, do
mutirão, quando todos tinham
de ajudar. Os atletas mais novos contam com mais facilidade. Mas dá uma saudade daquela época", afirma Mitiko, com
certo ar de nostalgia.
"Hoje é moleza. Antes, nós
mães carregávamos panelas,
comida. Éramos quatro, cinco
mães para alimentar 25, 30
pessoas", compara Myioko, 54.
Os pratos estão mais variados e não se restringem mais a
pratos japoneses. Com as facilidades de infra-estrutura, arroz
e feijão já fazem parte da dieta
dos atletas em viagens.
"Está ficando mais caro
acompanhar os times, as vagas
"saem" mais caras. Além disso,
agora é cada um por si. Não há
[espírito de] equipe, se o filho
está no time, ajuda. Se não,
não", aponta Myioko, que prossegue auxiliando atletas, apesar
de seus filhos não mais integrarem seleções do país.
E se engana quem pensa que
a participação das mães é limitada à cozinha. Ações como rifas ou venda de alimentos durante o "baiten", ou torneio
com cinco ou seis equipes cuja
meta é levantar dinheiro, são
importantes. Porém não tanto
como há décadas atrás, quando
havia uma "miss beisebol".
Ao examinar recortes com
fotos das misses, algumas pessoas exclamam, supresas, "nossa, têm até senhoras".
Sim. Isso porque, conforme
explica com um sorriso maroto
um integrante da confederação, elas não eram definidas
por critérios estéticos, mas pela
capacidade de vender rifas, cujo valor era revertido em favor
das equipes de beisebol.
""Estou agora no Japão, mas,
pelo que vi desde que voltei para o Brasil, essa tradição de
mães no beisebol continua.
Olha, já as vi assumirem o posto
de manager ou até chefe das delegações", relembra Ronaldo,
filho de Mitiko, que joga hoje
em dia na liga semiprofissional
japonesa pela Yamaha.
Voltando ao trio formado pelas mães Miyoko, Edna e Mitiko, elas não irão cozinhar para
os atletas que representam o
Brasil no Pan, que irão se alimentar no refeitório da Vila
Pan-Americana.
Mas irão preparar refeições
para cerca de 30 jovens do centro de treinamento de Ibiúna
(interior de São Paulo) da confederação, que viajaram para
acompanhar as partidas da modalidade nos Jogos do Rio.
Para Mitiko, já é uma maneira de matar as saudades.
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