São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BEISEBOL

Longe das crias, mães alimentam os novatos

Longe dos filhos atletas, instalados na Vila, matriarcas cozinham por esporte

Histórica, contribuição da figura materna, que vai de "oniguiri" a palpite no time, é mantida durante os Jogos em casa alugada no Rio

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"As mães, no beisebol, têm mais poder do que você pode imaginar", explica, pausadamente e com sutil movimento afirmativo de cabeça, Shuhei Tsuji, diretor técnico da confederação brasileira do esporte que, diga-se, não tem mulheres entre os seus praticantes.
É o reconhecimento de sua contribuição histórica.
Seja cozinhando para os atletas, às vezes em fogareiros improvisados com tijolos, vendendo pratos japoneses em eventos para levantar dinheiro ou organizando rifas e bazares na comunidade japonesa para arrecadar verba para viagens.
Miyoko Yagura, Edna Ogasawada e Mitiko Sato vivenciaram essas experiências.
São mães de jogadores ou ex-atletas da seleção, que, hospedadas em uma casa alugada em Jacarepaguá, acompanham a disputa do beisebol no Pan.
"Levávamos nas viagens pratos japoneses. E tinham de ser frios, pois não havia refrigeradores. Eram oniguiri [bolinho de arroz], nishimê [peixe frito à milanesa], harussami [salada de macarrão de arroz], conservas de pepino", lembra Mitiko, mãe de Reinaldo e Renan, rebatedores do Brasil. "Às vezes, improvisavam fogareiros, armados com tijolos."
"Quem está na seleção pegou esse começo, a visão de luta, do mutirão, quando todos tinham de ajudar. Os atletas mais novos contam com mais facilidade. Mas dá uma saudade daquela época", afirma Mitiko, com certo ar de nostalgia.
"Hoje é moleza. Antes, nós mães carregávamos panelas, comida. Éramos quatro, cinco mães para alimentar 25, 30 pessoas", compara Myioko, 54.
Os pratos estão mais variados e não se restringem mais a pratos japoneses. Com as facilidades de infra-estrutura, arroz e feijão já fazem parte da dieta dos atletas em viagens.
"Está ficando mais caro acompanhar os times, as vagas "saem" mais caras. Além disso, agora é cada um por si. Não há [espírito de] equipe, se o filho está no time, ajuda. Se não, não", aponta Myioko, que prossegue auxiliando atletas, apesar de seus filhos não mais integrarem seleções do país.
E se engana quem pensa que a participação das mães é limitada à cozinha. Ações como rifas ou venda de alimentos durante o "baiten", ou torneio com cinco ou seis equipes cuja meta é levantar dinheiro, são importantes. Porém não tanto como há décadas atrás, quando havia uma "miss beisebol".
Ao examinar recortes com fotos das misses, algumas pessoas exclamam, supresas, "nossa, têm até senhoras".
Sim. Isso porque, conforme explica com um sorriso maroto um integrante da confederação, elas não eram definidas por critérios estéticos, mas pela capacidade de vender rifas, cujo valor era revertido em favor das equipes de beisebol.
""Estou agora no Japão, mas, pelo que vi desde que voltei para o Brasil, essa tradição de mães no beisebol continua. Olha, já as vi assumirem o posto de manager ou até chefe das delegações", relembra Ronaldo, filho de Mitiko, que joga hoje em dia na liga semiprofissional japonesa pela Yamaha.
Voltando ao trio formado pelas mães Miyoko, Edna e Mitiko, elas não irão cozinhar para os atletas que representam o Brasil no Pan, que irão se alimentar no refeitório da Vila Pan-Americana.
Mas irão preparar refeições para cerca de 30 jovens do centro de treinamento de Ibiúna (interior de São Paulo) da confederação, que viajaram para acompanhar as partidas da modalidade nos Jogos do Rio.
Para Mitiko, já é uma maneira de matar as saudades.


Texto Anterior: Hipismo: Estreantes levam vaga olímpica e bronze
Próximo Texto: Apagão: Placar falha e prejudica torcida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.