São Paulo, quinta-feira, 16 de julho de 2009

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Verón hipnotiza anfitriões e decide

Meia cadencia o jogo, passa orientações até para o árbitro e levanta a quarta Libertadores da história do Estudiantes

Cruzeiro 1
Estudiantes 2


DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DO ENVIADO A BELO HORIZONTE

Ao final do primeiro tempo, cinco jogadores do Estudiantes já tinham caído em campo alegando agressões ou contusões, e paralisando o jogo. No intervalo, só voltaram após um pedido do árbitro Carlos Chandía. Durante toda a partida, Verón pedia aos colegas para desacelerar o ritmo da final.
A candência era a arma do Estudiantes diante de um Cruzeiro mais veloz e técnico. E funcionou a maior parte do jogo. Até quando os argentinos estavam em desvantagem.
Desde o início, o Cruzeiro tentava jogar com rapidez, principalmente em lançamentos longos para o atacante Kléber e o meia Wagner.
Mas, marcando com todos os homens em seu campo, os argentinos travavam os mineiros, com faltas quando era necessário. E saíam com toques curtos, em contra-ataques lentos.
Os passes argentinos eram como um mantra que ia hipnotizando a torcida cruzeirense. Conduzindo a situação estava o meia Verón. Até ao árbitro Chandía, ele dava instruções.
Por toda a etapa inicial, o Cruzeiro não conseguia sair da armadilha. "O jogo está pegado. Mas nosso time não está tocando a bola. O time parece nervoso", disse Kléber, no intervalo. Ele era marcado por dois adversários, quase todo o tempo.
A volta do intervalo viu um Cruzeiro mais apressado do que veloz. E foi na afobação que saiu o gol que parecia o do alívio para o time mineiro.
Aos 7min do segundo tempo, Henrique chutou da intermediária e a bola desviou em Desábato para entrar no canto de Andújar. A festa dominou o estádio e contagiou os jogadores, mas o Estudiantes manteve a mesma calma.
Em desvantagem, os argentinos seguiam tocando a bola com a mesma cadência, como se não tivesse saído um gol. A frieza recompensou.
Quatro minutos depois da euforia, veio o anticlímax para o Mineirão. Verón virou uma bola excelente para Cellay, que cruzou rasteiro. No meio da área, Fernandéz tocou para empatar o jogo.
E a velocidade cruzeirense virou afobação de vez. Quase todos os lances resultavam em passes apressados, dominados ou rebatidos pela zaga do Estudiantes com facilidade.
Do outro lado, mesmo em contra-ataques, os argentinos evitavam correr em demasia.
Aos 34 anos, seu craque Verón era um retrato do time. Dava sinais de cansaço e até acusou caimbrãs. Mas seguia tocando a bola de lado. "É um jogador muito inteligente taticamente", admitiu o técnico cruzeirense Adílson Batista.
Foi lentamente que Verón caminhou para cobrar um escanteio pela direita. Pôs a mão na cintura e um torcedor arremessou um copo, que não o acertou. Ele reclamou.
O árbitro não lhe deu ouvidos. Então, ele decidiu bater. A bola saiu com uma curva perfeita e encontrou Boselli, mais alto do que os zagueiros cruzeirenses, para virar o jogo, aos 28min do segundo tempo.
A hipnose se completava: o estádio estava sob o domínio de Verón. A torcida se calou. Os jogadores cruzeirenses, de afobados, pareciam entregues. E os argentinos seguiam tocando.
Ainda houve um chute de Thiago Ribeiro na trave. E houve duas conclusões erradas de Ribeiro e de Thiago Heleno, livres de marcação.
"Nesse momento, não tenho nem palavras. O negócio é procurar a família", disse o goleiro Fábio, quando voltou ao campo para a premiação.
Sua declaração foi poucos minutos antes de Verón, em meio a uma música de ópera, levantar a taça Libertadores, com chuva de papel picado. Era a Brujita, como é chamado o meia, completando seu feitiço. (PAULO PEIXOTO E RODRIGO MATTOS)


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