São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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O PERSONAGEM
Crise abalou time, diz Zico

MARCIO AITH
enviado especial a Kashima e a Ichihara

Zico, ex-coordenador técnico da seleção, confirmou que a crise nervosa de Ronaldinho afetou a equipe no decisão contra a França.
Segundo Zico, que chegou ontem ao Japão, os jogadores ficaram emocionalmente abalados e perderam a tranquilidade.
Zico saiu de uma crise para outra. Ele reassumiu suas funções como coordenador do Kashima Antlers, que perdeu ontem por 3 a 2 para o Jef, de Ichihara (200 km de Tóquio). O técnico João Carlos demitiu-se após brigar com o lateral Jorginho, tetracampeão do mundo.

Folha - Você esteve com Ronaldinho antes da crise? Como foi o dia da decisão?
Zico -
Não o vi pela manhã. Eu fiquei lá na sala de almoço até quase umas 15h30 ou 16h. Quando voltei para o meu quarto fui informado do que tinha ocorrido. O pessoal não queria "dar mais alarde", não quis que a coisa se alastrasse para os que ainda não estavam sabendo. Queriam antes ver como o Ronaldinho ia se comportar. No lanche, ele estava apenas um pouquinho mole. Não sabia o que tinha acontecido e lanchou normalmente. Nós fizemos a reunião e foi aí que o Lídio nos disse que ia tomar todas as providências, fazer os exames. Ele foi para o hospital e nós, para o estádio. E foi aí que o Zagallo definiu a substituição pelo Edmundo. Só que, no estádio, veio a informação de que os exames tinham dado negativo. Quando o Ronaldinho chegou, fui chamado para uma reunião em que se informou que ele estava bem, que queria jogar e que o Lídio tinha liberado. E foi aí que o Zagallo liberou.
Folha - Foi correto? Por que Zagallo o escalou?
Zico -
Porque houve a liberação do departamento médico. Ele teve problemas, mas fez todos os exames, que não deram nada. Lídio garantiu que o Ronaldinho estava em condições de jogo e o liberou. Portanto, Zagallo escalou.
Folha - Ronaldinho quis jogar?
Zico -
Ele quis jogar. Fez todo o aquecimento normalmente junto com os outros jogadores. Mas é aquele negócio: jogador sempre vai querer jogar uma final de Copa do Mundo. Mas a gente notou claramente que dentro do campo ele não tinha a menor condição...
Folha - Então por que não foi substituído?
Zico -
É muito difícil tomar a decisão -e acredito que até passou pela cabeça do Zagallo- de tirar um jogador da importância dele numa final. Mas ficou claro que ele não estava bem e que, mesmo sendo o melhor jogador do mundo, quando a gente não está 100% não consegue realizar nada dentro do campo. Ficou uma lição muito grande para todos de que, principalmente numa Copa, você tem que estar 100%.
Folha - O problema de um só jogador provocou todo o colapso na equipe?
Zico -
É claro. É muito duro ver um companheiro -ainda mais sendo quem foi- nessa situação. Nós tivemos jogadores que estavam muito emocionados.
Folha - Quem ficou mais abalado?
Zico -
Os que viram, o Leonardo... A seleção não se encontrou em campo e eu acho que tem relação direta com o episódio.



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