São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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DOSSIÊ RONALDINHO
Treinador brasileiro diz que foi ele quem decidiu a escalação do atacante na decisão do Mundial
Zagallo recua e assume responsabilidade

da Sucursal do Rio

O técnico da seleção brasileira, Mario Jorge Lobo Zagallo, recuou ontem e assumiu a responsabilidade pela escalação do atacante Ronaldinho na decisão da Copa do Mundo, no último domingo.
"Se ele não entrasse, iriam falar também. Tem que ter peito para falar na hora. A decisão foi minha. Eu faria tudo de novo", afirmou.
Horas depois da derrota para a França, no entanto, o treinador havia dito que escalara o jogador devido a um pedido do próprio Ronaldinho. "O melhor jogador do mundo chega para você e pede para jogar. Você vai dizer que não?", afirmou a rádios.
O técnico disse que o principal médico da seleção, Lídio Toledo, havia, inicialmente, se recusado a assumir a escalação do atacante da Inter de Milão (Itália) na partida.
Quando Ronaldinho chegou ao vestiário do Stade de France, depois de passar por exames em uma clínica -todos com resultado negativo-, Toledo liberou o jogador para disputar a partida.
"Não foi a Nike (patrocinadora da seleção), não foi o dr. Ricardo Teixeira (presidente da CBF), não foi o Lídio Toledo. O responsável pela escalação do Ronaldinho fui eu, Mario Jorge Lobo Zagallo", declarou ontem o treinador.
"Se agi errado ou certo, me julguem", acrescentou Zagallo, logo após participar de uma festa promovida pelos moradores do condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, zona sul do Rio.
"Depois de ficar sabendo que os exames não detectaram nada de anormal, o Ronaldinho chegou ao vestiário. Todos os integrantes da comissão técnica, inclusive o presidente, estavam reunidos em um local do vestiário. Perguntei ao Ronaldinho se ele queria jogar. Ele disse que sim e estava confiante", afirmou Zagallo.
"A partir daí, entrei em ação. Mandei ele trocar de roupa. Ninguém se opôs, e ele jogou. Mas não tenham dúvidas de que ninguém da seleção o colocaria no jogo se estivesse correndo risco de vida."
Zico, coordenador técnico da seleção na Copa da França, foi contra a escalação do jogador entre os titulares (leia textos nesta página).
O treinador disse que "não é verdade que o jogador sofreu uma infiltração no joelho ou tenha passado mal no sábado à noite", ao comentar sobre as condições físicas de Ronaldinho, que reclamou, na Copa, de dores nos joelhos.
O treinador brasileiro disse só ter tomado conhecimento dos problemas de Ronaldinho quando lanchava na concentração da seleção, por volta das 17h (horário francês), pelo menos duas horas depois do incidente.
Segundo Zagallo, a pressão da competição foi a responsável pelo problema de Ronaldinho.
"Ele é muito assediado. O Ronaldinho não tem privacidade. O rapaz mora sozinho na Europa, com os familiares no Brasil, é muito difícil ter força para superar toda a pressão sozinho. Na Copa, todos se estressam muito. Ele, talvez, não tenha suportado", acredita o treinador da seleção.
"Agora, espero que o clube dele crie um ambiente propício para o jogador se estruturar. Eu, que tenho uma estrutura familiar, sei que não é fácil. Na Copa América, explodi e fiquei roxo."
O treinador não mencionou o fato de que o atacante teve uma crise nervosa. A última versão oficial, dada ontem pelo médico Lídio Toledo, é a de que Ronaldinho sofreu uma distonia neurovegetativa por estresse (leia à pagina 3).
Coordenador técnico
Apesar de dificilmente conseguir permanecer como técnico da seleção brasileira, Zagallo não descarta a possibilidade de ocupar outro cargo na nova comissão técnica.
"É um caso a ser estudado", disse o treinador, que preferiu evitar comentar sobre a sua renovação com a CBF. O contrato de Zagallo como treinador da seleção brasileira termina em agosto.
Embora não esteja garantido na seleção, Zagallo se recusa a encerrar a carreira. "Você acha que com a minha saúde vou jogar tênis e ficar olhando o mar da minha casa? Tenho que estar em atividade", disse o treinador, de 66 anos, que pretende continuar no cargo até os Jogos Olímpicos de Sydney, no ano 2000.
Zagallo poderá ser o novo coordenador técnico ou ganhar um novo cargo na seleção após a renovação da comissão técnica promovida pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nos próximos dias.



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