São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2001

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FUTEBOL

Torcida gaúcha esquece pressão e apela à marchinha que marcou tricampeonato na Copa-70 para apoiar a seleção

"Pra Frente, Brasil" volta e substitui vaias

DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
E DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Pela primeira vez em um jogo do Brasil em casa pelas eliminatórias da Copa-2002, as vaias foram um som raro, quase inexistente.
Mais de 30 anos após ter sido composta, a marchinha "Pra Frente, Brasil", de Miguel Gustavo, foi a trilha sonora que embalou a festa dos gaúchos ontem.
Nos arredores do estádio Olímpico e nas caixas de som espalhadas em volta do gramado, a canção-símbolo do tricampeonato de 1970, que se transformou num estandarte ufanista do governo militar, foi tocada à exaustão nos instantes que antecederam o jogo.
Os versos "Noventa milhões em ação/ pra frente, Brasil/ salve a seleção", que abrem o principal hit do período mais lendário do futebol nacional, foram cantados ontem por jovens e velhos, homens, mulheres e crianças.
Por mais anacrônica que pareça a música, ela parecia adequada ao tom dado pelo público à partida.
Os gaúchos apoiaram a seleção como há muito não se via. Vestiram camisas amarelas, tremularam bandeirolas, cantaram o hino e gritaram o nome dos jogadores e de Luiz Felipe Scolari.
Enfim, fizeram a "corrente pra frente" citada na balzaquiana marchinha da seleção.
O aquecimento dos times em campo foi um espetáculo à parte.
Do lado brasileiro, por ter sido a primeira vez nas eliminatórias em que a seleção teve confiança para se aquecer aos olhos da torcida.
Quanto aos paraguaios, por Chilavert. O goleiro entrou no gramado de chinelos e bermuda e, enquanto era xingado, acenava cinicamente e jogava beijinhos.
A empolgação gaúcha virou delírio quando o locutor anunciou os nomes de Eduardo Costa, Tinga, Marcelinho Paraíba e Scolari.
O clima ufanista só foi quebrado com as faixas distribuídas por sindicatos com críticas ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
A entrada para valer da seleção em campo foi ensurdecedora, misturando o foguetório de mais de um minuto com os berros de "Brasil" e "Ah, eu sou gaúcho".
E o início da festa foi perfeito, com o "gaúcho" Marcelinho Paraíba marcando aos 5min.
A primeira manifestação de insatisfação só apareceu aos 10min do segundo tempo, quando a entrada de Denílson foi pedida em coro. Scolari atendeu em seguida.
A pressão rival na etapa final mudou o comportamento da torcida, mas só por minutos. Vaias isoladas e um tímido coro de "burro" a Scolari foram ouvidos quando Marcelinho foi sacado.
Os paraguaios, que invadiram as ruas de Porto Alegre de dia, cruzaram a fronteira de volta para casa em silêncio. (FÁBIO VICTOR E LÉO GERCHMANN)



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