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FUTEBOL
Torcida gaúcha esquece pressão e apela à marchinha que marcou tricampeonato na Copa-70 para apoiar a seleção
"Pra Frente, Brasil" volta e substitui vaias
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
E DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Pela primeira vez em um jogo
do Brasil em casa pelas eliminatórias da Copa-2002, as vaias foram
um som raro, quase inexistente.
Mais de 30 anos após ter sido
composta, a marchinha "Pra
Frente, Brasil", de Miguel Gustavo, foi a trilha sonora que embalou a festa dos gaúchos ontem.
Nos arredores do estádio Olímpico e nas caixas de som espalhadas em volta do gramado, a canção-símbolo do tricampeonato de
1970, que se transformou num estandarte ufanista do governo militar, foi tocada à exaustão nos instantes que antecederam o jogo.
Os versos "Noventa milhões em
ação/ pra frente, Brasil/ salve a seleção", que abrem o principal hit
do período mais lendário do futebol nacional, foram cantados ontem por jovens e velhos, homens,
mulheres e crianças.
Por mais anacrônica que pareça
a música, ela parecia adequada ao
tom dado pelo público à partida.
Os gaúchos apoiaram a seleção
como há muito não se via. Vestiram camisas amarelas, tremularam bandeirolas, cantaram o hino
e gritaram o nome dos jogadores
e de Luiz Felipe Scolari.
Enfim, fizeram a "corrente pra
frente" citada na balzaquiana
marchinha da seleção.
O aquecimento dos times em
campo foi um espetáculo à parte.
Do lado brasileiro, por ter sido a
primeira vez nas eliminatórias em
que a seleção teve confiança para
se aquecer aos olhos da torcida.
Quanto aos paraguaios, por
Chilavert. O goleiro entrou no
gramado de chinelos e bermuda
e, enquanto era xingado, acenava
cinicamente e jogava beijinhos.
A empolgação gaúcha virou delírio quando o locutor anunciou
os nomes de Eduardo Costa, Tinga, Marcelinho Paraíba e Scolari.
O clima ufanista só foi quebrado
com as faixas distribuídas por sindicatos com críticas ao presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A entrada para valer da seleção
em campo foi ensurdecedora,
misturando o foguetório de mais
de um minuto com os berros de
"Brasil" e "Ah, eu sou gaúcho".
E o início da festa foi perfeito,
com o "gaúcho" Marcelinho Paraíba marcando aos 5min.
A primeira manifestação de insatisfação só apareceu aos 10min
do segundo tempo, quando a entrada de Denílson foi pedida em
coro. Scolari atendeu em seguida.
A pressão rival na etapa final
mudou o comportamento da torcida, mas só por minutos. Vaias
isoladas e um tímido coro de
"burro" a Scolari foram ouvidos
quando Marcelinho foi sacado.
Os paraguaios, que invadiram
as ruas de Porto Alegre de dia,
cruzaram a fronteira de volta para
casa em silêncio.
(FÁBIO VICTOR E LÉO GERCHMANN)
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