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BASQUETE
Família trapo
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A semana de Fabricio Oberto
estava uma confusão. Pedido de liberação para a Federação
Espanhola, rescisão do aluguel,
empacotamento da mudança, solicitação de visto de trabalho, releitura do contrato de US$ 7 milhões com a NBA. Mas o argentino de 30 anos, campeão olímpico
e vice mundial, prestes a dar o
passo mais ambicioso da bem-sucedida carreira, mesmo com a cabeça a mil, não se deslumbrou
nem sucumbiu à agenda. Achou
um tempinho, sentou-se ao computador e batucou o e-mail.
Sugeriu aos garotos que não se
impressionassem com o torneio,
que não se preocupassem com a
flutuação do rendimento em quadra. Revelou que, na idade deles,
ficou assustado. Desejou sorte.
O pivô do San Antonio não foi o
único da seleção principal a mandar alô para a equipe sub-17, enfurnada na Venezuela para o Sul-Americano. Sánchez, Palladino,
Kammerichs e Gutiérrez também
escreveram espontaneamente.
Mensagens simples, quase tolas,
mas que fizeram diferença na
conquista do título. A comissão
técnica leu-as no vestiário e no
alojamento, sempre que os meninos pareciam macambúzios.
Infelizmente a única "família
do basquete" do Brasil é a que
reúne os que desfrutam da crise
que abateu a modalidade. No resto, prevalece o cada um por si.
Não viviam nossos principais
atletas a condenar as condições
do Nacional organizado pela
CBB, da tabela malfeita ao desconforto do transporte rodoviário? Seria natural que se unissem
em torno do plano da liga interclubes independente. Nada disso.
Boa parte não hesitou em negociar com os poucos clubes que permaneceram fiéis à CBB -sem
exigir nenhuma contrapartida
além do salário. Do grupo que vai
à Copa América, por exemplo, somente um (Murilo, do Franca) se
alinhou com os "rebeldes".
Aos amigos e aos repórteres em
"off", os convocados não hesitam
em condenar o uniforme, em reclamar do equipamento dos treinos, em fazer pouco do conhecimento tático dos treinadores.
Em público, elogiam seus próprios feitos ou se calam. Deixam
Nenê, que se dispôs a gritar, à
mercê do revide do establishment.
(Eu mesmo cheguei a desconfiar da razão do boicote do pivô.
Jogar a Copa América seria "inconveniente" para um atleta em
ano final de contrato, que não
quer correr o risco de contusão.
Mas ele desfez minhas dúvidas ao
anunciar que manterá o protesto
no Mundial-2006, quando já terá
assegurado os milhões da NBA.)
Diante dos microfones daqui, os
atletas aplaudem o momento do
basquete no país e dizem que "lá
fora eles fazem tudo igual".
Longe, baixam a guarda. Como
Lucas Tischer, após um mês em
Phoenix: "Eu nunca tinha chegado a esse nível de exaustão. E olha
que os trabalhos não foram físicos, e sim de fundamentos". É
bom esclarecer que o pivô já foi
treinado por Lula Ferreira...
O técnico da seleção, aliás, adora repetir que "o lobo é a força da
matilha, e a força da matilha é o
lobo". A frase feita, bocó, ganha
sentido. No nosso basquete, para
a alegria dos conservadores, o homem é só o lobo do homem.
Presente de grego 1
Em maio, Adonis Sousa, 14, talento do basquete brasileiro, aceitou o
inesperado convite do Olympiakos e se mandou para Atenas. O presidente da CBB, Gerasime Bozikis, nascido na Grécia, disse que era
estupidez: "Não devemos nada em termos de organização nem em
parte técnica aos gregos. Somos muito melhores". Domingo, os gregos ganharam a prata no Mundial sub-21. Há dois anos, no sub-19,
levaram o bronze. O Brasil? Nem se classificou para as duas edições.
Presente de grego 2
O Mundial sub-21 disparou outro alerta na direção do Brasil. O bloco
das Américas obteve seu melhor desempenho em torneios de base,
com os quatro representantes entre os sete primeiros: Canadá (3º),
EUA (5º), Argentina (6º) e Porto Rico (7º). A Lituânia obteve o ouro.
E-mail: melk@uol.com.br
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