São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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NATAÇÃO

Em busca de bolsa, Cielo se mudou para os EUA

Medalhista seguiu caminho contrário ao pretendido pelos cartolas

Confederação queria que os atletas treinassem no Brasil e, dois anos atrás, cortou patrocínio daqueles que treinavam no exterior


DA ENVIADA A PEQUIM

Os primeiros treinos de César Cielo com Gustavo Borges no clube Pinheiros, em São Paulo, aconteceram porque a mãe, Flávia, aflita, queria tirar da cabeça do filho adolescente a idéia de se mudar para os EUA.
Anos mais tarde, entretanto, a ida do rapaz para o exterior se tornou uma opção necessária, apoiada pela família. O nadador não encontrava no Brasil o que teria em Auburn: uma bolsa para estudar e treinar.
Em tempos de aporte estatal de recursos cada vez maior no esporte, César Cielo chegou ao pódio olímpico seguindo caminho contrário ao que cartolas da natação almejavam.
Em 2006, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos cortou o patrocínio de quem treinava no exterior. Queria suas estrelas sendo trabalhadas no país. Os Jogos de Pequim encerram o primeiro ciclo olímpico completo do Brasil com recursos da Lei Piva.
Cielo também seguiu trajetória que contraria padrões de treinos de quem almeja o topo do pódio. Ficou dividido entre Brasil e EUA, entre natação e estudos, entre a piscina de jardas e a de 50 metros.
"Acho que isso acabou sendo bom. Eu testei várias coisas para mim. Nos primeiros anos, foi complicado. Tinha de me adaptar. O apoio maior acabou vindo com os resultados", disse ele antes de ir para Pequim.
O trabalho deu tão certo que a CBDA convidou o técnico australiano Brett Hawke para acompanhar Cielo na Olimpíada. A idéia já havia sido colocada em prática nos Jogos de Sydney-2000, mas os técnicos convidados não tiveram seu trabalho bem avaliado.
Neste ano, na reta final de preparação olímpica, Cielo foi incluído na "tropa de elite" da seleção brasileira e recebeu atenção e verba especiais para disputar competições.
A opção por treinar no exterior obrigou-o a mudar também seu estilo de vida.
O nadador deixou a casa dos pais e teve de se virar sozinho, sem dominar completamente o idioma inglês. A vida na pequena cidade de Auburn, no Alabama, era tranqüila, com festas e namoros proibidos.
"Quando eu voltava para o Brasil, queria sair todo dia, aí ganhei a fama de baladeiro. Mas lá era 100% natação todos os dias", afirma ele, campeão nos 50 m livre e bronze nos 100 m livre nesta Olimpíada.
"Eu me acostumei a essa vida. Quando penso em morar em São Paulo, lembro do trânsito e me dá um desânimo..."
O brasileiro, porém, deve mesmo deixar Auburn ao final deste ano. Após anos sem poder assinar contratos de patrocínio porque era atleta universitário, decidiu se tornar profissional. Já tem propostas para treinar em clubes da Itália e da Austrália. Providencia a cidadania italiana. A vida nômade deve continuar.
(MARIANA LAJOLO)



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