São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2011

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ENTREVISTA
EDUARDO DE ROSE


Não tenho contato nem contrato, não defendo o atleta

MÉDICO NEGA TER QUESTIONADO O TRABALHO DO LABORATÓRIO OLÍMPICO DO RIO NO CASO DE DOPING DE PEDRO SOLBERG, DO VÔLEI DE PRAIA

DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO

O médico Eduardo de Rose, 68, maior autoridade brasileira em doping, afirmou não ter desqualificado o Ladetec, único laboratório do país autorizado a realizar testes, no caso de Pedro Solberg, 25, atleta do vôlei de praia.
Flagrado com o esteroide androstano em maio, o jogador foi suspenso preventivamente pela FIVB (Federação Internacional de Vôlei).
Após e-mail de De Rose à entidade, a sanção foi revogada até o julgamento, que deve ocorrer em setembro.
No texto, com cópia para a Wada (Agência Mundial Antidoping), que fez o teste, e o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), o médico diz no primeiro parágrafo não estar "totalmente convencido" de que o resultado da contraprova estava "tecnicamente correto."
Por telefone à Folha, De Rose, que representa a ABA (Agência Brasileira Antidoping) negou ter apontado erro no Ladetec, e sim na cadeia de custódia -procedimentos que visam manter a integridade da amostra de urina.
No caso de Solberg, ela era de responsabilidade do instituto sueco IDTM, que tem a chancela da Wada.

 


Folha - Por que o senhor pediu à FIVB que fosse revogada a suspensão de Pedro Solberg?
Eduardo de Rose
- Talvez não tenha ficado claro, mas minha preocupação é que o atleta já estava julgado e já estava suspenso. Ele não foi julgado, mas, quando tu dá uma pena sem julgamento, já está dando a decisão.

Mas a suspensão provisória não é procedimento-padrão em casos de teste positivo para esteroide?
O padrão da suspensão depende da substância, do método. Existem substâncias que, se forem encontradas na amostra A, como esteroide anabólico, diurético, estimulante, não tem discussão. O simples fato de a FIVB ter aceitado, não porque fui eu que fiz [o pedido], significa que a ponderação tem alguma base de verdade.

Mas na urina de Solberg foi detectada a presençade um esteroide.
Tem razão. Há diversos trabalhos científicos que mostram que esse esteroide [androstano] pode sair de uma contaminação bacteriológica. Se tem uma dúvida na cadeia de custódia, fica complicado. São dúvidas. Pode ser que eu tenha me expressado mal, porque não sou tão fluente em inglês [o e-mail para a federação internacional foi enviado em inglês].

Por que o senhor afirmou que não estava convencido de que o resultado do exame estava tecnicamente correto?
Eu disse que tinha algumas dúvidas em relação ao processo e não que o resultado técnico do Ladetec não estava correto. Que o processo, desde a coleta até o resultado, tinha algumas dúvidas. Minha visão do doping é muito para o lado do atleta. Só pedi para a federação de vôlei tirar a suspensão provisória. E se punirmos um atleta que não tinha que ser punido, que não está errado?

Solberg disse que o senhor mandou o e-mail à federação internacional por conta própria. O senhor confirma essa informação?
Ele falou errado, porque não há e-mail [dele], ele nunca me telefonou, nunca me procurou. Não quero comentar como esse caso chegou a mim. Mas veio, vamos dizer, na Agência Brasileira Antidoping. Não tenho contato nem contrato com o atleta. Não tenho nada a ver com a defesa dele, só estou fazendo minha função na agência.

A função da agência não é combater o doping?
Não estou fazendo isso porque o atleta se diz inocente, porque estaria louco fazendo para todo mundo. Porque 90% dos atletas flagrados em exames se consideram inocentes. Minha obrigação é interferir quando vejo que há alguma dúvida. Se tiver 99% de certeza e 1% de dúvida, já tenho dúvida. Se há a dúvida, é correto que eu sugira à FIVB que repense a suspensão provisória. Não fiz pedido para o atleta ser absolvido.

Mas o senhor não agiu assim em casos semelhantes. Por que a diferença de tratamento foi adotada agora?
Não é tanta coisa assim o que eu fiz. Talvez você tenha razão, talvez não seja a forma habitual que eu atue, mas me pauto pelo que é correto. Ficaria chateado se, por um problema técnico, um atleta fosse julgado culpado. O que o vôlei decidir, eu vou apoiar. Vamos ver como evolui esse caso, vou pedir que você me dê um crédito condicional.


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