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FUTEBOL
Ausências
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Há algumas importantes
ausências na atual fase do
Campeonato Brasileiro. A primeira delas -e a mais sentida-
é a do futebol propriamente dito.
Está escasso. Peladas imperam. Já
começo a ter saudades do clássico
Arranca Toco x Quebra Canela
de minha adolescência.
O desmanche de algumas equipes, a decadência incontível de
outras, o excessivo número de
participantes, tudo isso vai contribuindo para que o padrão dos
jogos decaia. Com exceção de
Cruzeiro e Santos, que mantêm
constantemente um nível bom,
graças aos treinadores e a alguns
excelentes jogadores, como os dois
Alex, Diego, Renato etc., os demais times, mesmo aqueles que
estão ali bicando as primeiras colocações, vivem a oferecer espetáculos pouco encorajadores.
A ausência do futebol está ligada a outras ausências mais específicas e concretas. Traduzida em
clubes, a principal delas é a de alguns times tradicionais e de grande torcida, a começar pelo Corinthians, que esteve presente em todas no ano passado, mas este ano,
apesar (ou por causa) da empáfia
de seus dirigentes, vai cumprindo
uma campanha medíocre no Brasileiro. Onde está o Corinthians?
Atualmente, dez pontos atrás do
rival São Paulo que, convenhamos, não consegue convencer
ninguém, como se viu, mais uma
vez, no suado empate de domingo
com o Figueirense.
Também Flamengo e Vasco,
clubes de multidões, que sempre
foram capazes de incendiar competições, fazem papel de segunda,
dando prosseguimento ao triste
espetáculo do encolhimento do
futebol carioca.
Considerado em bloco, o Rio de
Janeiro talvez seja a maior ausência dessa temporada. Entre os dez
primeiros da competição há clubes de Minas, São Paulo, Paraná,
Rio Grande do Sul e até de Santa
Catarina, que nunca formou a linha de frente do futebol brasileiro. Não há, porém, nenhum representante do Rio. O Criciúma
está bem à frente de Flamengo,
Vasco e Fluminense.
A culpa é de quem? Dos pontos
corridos, como gostaria o sr. Eurico Miranda? Ou de cartolas, como ele mesmo, que há anos vêm
se dedicando a esvaziar a bola da
Cidade Maravilhosa?
As coisas chegaram a tal ponto
no futebol carioca que não se vê
perspectiva de melhora. O clima,
que era de revolta, vai passando
para o de conformismo, de resignação. O que parece estar em curso não é apenas uma "fase" ruim,
mas uma crise estrutural, dessas
que tendem a permanecer por
longo período e a gerar consequências importantes de longo
prazo. O ambiente é o pior possível e continua sendo girado num
perverso e lamentável círculo vicioso, cujo dínamo é o incrível
presidente da federação local, o
sr. Eduardo Viana, o famigerado
Caixa D"Água.
Salva-se do naufrágio o Botafogo de Bebeto de Freitas, que encontrou o torneio adequado para
disputar. O mesmo, diga-se, onde
deveriam estar presentes os outros três, se quisessem efetivamente lutar por um título e não apenas fazer figuração.
Seleção
O Brasil mostrou mais uma vez
que tem excelentes jogadores
para formar uma brilhante seleção para a próxima Copa do
Mundo. Apesar do joguinho fajuto contra o Equador, na quarta, está claro que essas eliminatórias vão ser o que o torcedor
chama de uma baba. Trata-se,
portanto, de aproveitar o tempo para ir formando a equipe
ideal. Muita coisa ainda vai mudar. Jogadores hoje na reserva
acabarão por se impor. Outros
surgirão. Outros entrarão em
decadência. Até lá, é preciso
que a dupla Velho Lobo-Parreira mostre firmeza para obter os
resultados necessários, mas
também flexibilidade para experimentar. A nós, os sempre
ansiosos torcedores e comentadores, seria recomendável um
pouco de paciência.
E-mail mag@folhasp.com.br
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