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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Ausências

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Há algumas importantes ausências na atual fase do Campeonato Brasileiro. A primeira delas -e a mais sentida- é a do futebol propriamente dito. Está escasso. Peladas imperam. Já começo a ter saudades do clássico Arranca Toco x Quebra Canela de minha adolescência.
O desmanche de algumas equipes, a decadência incontível de outras, o excessivo número de participantes, tudo isso vai contribuindo para que o padrão dos jogos decaia. Com exceção de Cruzeiro e Santos, que mantêm constantemente um nível bom, graças aos treinadores e a alguns excelentes jogadores, como os dois Alex, Diego, Renato etc., os demais times, mesmo aqueles que estão ali bicando as primeiras colocações, vivem a oferecer espetáculos pouco encorajadores.
A ausência do futebol está ligada a outras ausências mais específicas e concretas. Traduzida em clubes, a principal delas é a de alguns times tradicionais e de grande torcida, a começar pelo Corinthians, que esteve presente em todas no ano passado, mas este ano, apesar (ou por causa) da empáfia de seus dirigentes, vai cumprindo uma campanha medíocre no Brasileiro. Onde está o Corinthians? Atualmente, dez pontos atrás do rival São Paulo que, convenhamos, não consegue convencer ninguém, como se viu, mais uma vez, no suado empate de domingo com o Figueirense.
Também Flamengo e Vasco, clubes de multidões, que sempre foram capazes de incendiar competições, fazem papel de segunda, dando prosseguimento ao triste espetáculo do encolhimento do futebol carioca.
Considerado em bloco, o Rio de Janeiro talvez seja a maior ausência dessa temporada. Entre os dez primeiros da competição há clubes de Minas, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e até de Santa Catarina, que nunca formou a linha de frente do futebol brasileiro. Não há, porém, nenhum representante do Rio. O Criciúma está bem à frente de Flamengo, Vasco e Fluminense.
A culpa é de quem? Dos pontos corridos, como gostaria o sr. Eurico Miranda? Ou de cartolas, como ele mesmo, que há anos vêm se dedicando a esvaziar a bola da Cidade Maravilhosa?
As coisas chegaram a tal ponto no futebol carioca que não se vê perspectiva de melhora. O clima, que era de revolta, vai passando para o de conformismo, de resignação. O que parece estar em curso não é apenas uma "fase" ruim, mas uma crise estrutural, dessas que tendem a permanecer por longo período e a gerar consequências importantes de longo prazo. O ambiente é o pior possível e continua sendo girado num perverso e lamentável círculo vicioso, cujo dínamo é o incrível presidente da federação local, o sr. Eduardo Viana, o famigerado Caixa D"Água.
Salva-se do naufrágio o Botafogo de Bebeto de Freitas, que encontrou o torneio adequado para disputar. O mesmo, diga-se, onde deveriam estar presentes os outros três, se quisessem efetivamente lutar por um título e não apenas fazer figuração.

Seleção
O Brasil mostrou mais uma vez que tem excelentes jogadores para formar uma brilhante seleção para a próxima Copa do Mundo. Apesar do joguinho fajuto contra o Equador, na quarta, está claro que essas eliminatórias vão ser o que o torcedor chama de uma baba. Trata-se, portanto, de aproveitar o tempo para ir formando a equipe ideal. Muita coisa ainda vai mudar. Jogadores hoje na reserva acabarão por se impor. Outros surgirão. Outros entrarão em decadência. Até lá, é preciso que a dupla Velho Lobo-Parreira mostre firmeza para obter os resultados necessários, mas também flexibilidade para experimentar. A nós, os sempre ansiosos torcedores e comentadores, seria recomendável um pouco de paciência.


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