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ANÁLISE
O cerco policial às organizadas é uma missão complexa
BERNARDO BUARQUE DE HOLANDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O ano de 1988 iniciou o
processo de criminalização
das torcidas uniformizadas.
O assassinato do fundador
da Mancha Verde, Cleofasóstenes Dantas da Silva, foi um
marco no acirramento das rixas, não só por representar a
morte de um líder, mas, sobretudo, por configurar um
crime premeditado, fora das
circunstâncias de jogo e com
o uso de arma de fogo.
Desde então uma cronologia de incidentes fatais marca os confrontos entre esses
grupos, com a amplificação
do problema e a atenuação
dos esforços pontuais da polícia e dos líderes de torcida.
Dentre as tentativas de
controle da escalada do fenômeno, assinale-se, no Rio, a
criação do Grupo Especial de
Policiamento em Estádios e a
recente fundação da Federação de Torcidas Organizadas
do Rio. Não obstante, a cada
ano, em cidades como Goiânia, São Paulo ou Belo Horizonte, é possível identificar
ao menos uma dezena de
mortos que se originam dessa espiral de violência.
A ação de ontem evidencia
uma mudança de estratégia.
As operações policiais quase
sempre se restringiram ao
monitoramento nos dias de
jogos, a novidade parece ser
a disposição preventiva ante
os conflitos, com o emprego
da "inteligência", a fim de
evitar embates programados.
É um primeiro passo no reconhecimento da complexidade do quadro atual, fruto
do crescimento das organizadas. Os líderes perderam o
controle dos associados e optaram por segmentar espacialmente sua estrutura organizacional, mediante a divisão em territórios que seguem a lógica das zonas geográficas da cidade.
No caso do Rio, as bases
territoriais das torcidas receberam nomes bélico-militares, como pelotões e esquadrões, entre outras denominações mais ou menos intimidadoras. Tais subgrupos
deram origem a lideranças
locais, conhecidas no meio
como monitores, que detêm
uma espécie de autonomia
perante o "poder central".
É em torno dessa dinâmica
complexa, segmentada e territorial que a polícia tem se
concentrado, tentando impedir brigas cujo cenário são regiões específicas.
BERNARDO BORGES BUARQUE DE HOLLANDA
é sociólogo e pesquisador do
CPDoc da FGV do Rio
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