São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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ANÁLISE

O cerco policial às organizadas é uma missão complexa

BERNARDO BUARQUE DE HOLANDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O ano de 1988 iniciou o processo de criminalização das torcidas uniformizadas.
O assassinato do fundador da Mancha Verde, Cleofasóstenes Dantas da Silva, foi um marco no acirramento das rixas, não só por representar a morte de um líder, mas, sobretudo, por configurar um crime premeditado, fora das circunstâncias de jogo e com o uso de arma de fogo.
Desde então uma cronologia de incidentes fatais marca os confrontos entre esses grupos, com a amplificação do problema e a atenuação dos esforços pontuais da polícia e dos líderes de torcida.
Dentre as tentativas de controle da escalada do fenômeno, assinale-se, no Rio, a criação do Grupo Especial de Policiamento em Estádios e a recente fundação da Federação de Torcidas Organizadas do Rio. Não obstante, a cada ano, em cidades como Goiânia, São Paulo ou Belo Horizonte, é possível identificar ao menos uma dezena de mortos que se originam dessa espiral de violência.
A ação de ontem evidencia uma mudança de estratégia.
As operações policiais quase sempre se restringiram ao monitoramento nos dias de jogos, a novidade parece ser a disposição preventiva ante os conflitos, com o emprego da "inteligência", a fim de evitar embates programados.
É um primeiro passo no reconhecimento da complexidade do quadro atual, fruto do crescimento das organizadas. Os líderes perderam o controle dos associados e optaram por segmentar espacialmente sua estrutura organizacional, mediante a divisão em territórios que seguem a lógica das zonas geográficas da cidade.
No caso do Rio, as bases territoriais das torcidas receberam nomes bélico-militares, como pelotões e esquadrões, entre outras denominações mais ou menos intimidadoras. Tais subgrupos deram origem a lideranças locais, conhecidas no meio como monitores, que detêm uma espécie de autonomia perante o "poder central".
É em torno dessa dinâmica complexa, segmentada e territorial que a polícia tem se concentrado, tentando impedir brigas cujo cenário são regiões específicas.

BERNARDO BORGES BUARQUE DE HOLLANDA
é sociólogo e pesquisador do CPDoc da FGV do Rio



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