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FUTEBOL
Michelle Paulla
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Meu nome? No RG está Maria José, mas eu gosto mesmo é de Michelle Paulla. E com
quatro eles. Idade? Isso não se
pergunta. Faz de conta que eu tenho 29. Minha maior glória? Tirei
segundo lugar no concurso de
Miss Niterói. Se eu pinto os cabelos? Quem não pinta. Se bem que
aquela tintura importada do
tempo das vacas gordas, nunca
mais, meu filho. Uso das baratas
mesmo. Queima um pouco a raiz,
mas fica amarelinho que nem o
da Mari Alexandre.
Meu primeiro namorado-jogador foi o Redernilson. Conheci na
Bélgica. Ele era alagoano, mas jogava no Standard de Liège. O que
eu estava fazendo em Liège? Digamos que estava atuando no setor de entretenimento.
O Redernilson nem era titular,
mas a gente estava sempre comendo nos restaurantes chiques,
avião pra lá e pra cá. Um vidão,
meu amigo. Conheci Amsterdã,
Paris e até recebi a benção do papa. Estava indo tudo às mil maravilhas até o Reder quebrar a perna. Então nós tivemos que voltar.
Aguentei aquela vida de pão e
água por um tempo, mas sabe como é: uns nasceram para passar
dificuldade e outros não.
Aí, advogado, aquelas coisas,
foi um para um lado, outro para
o outro. Com a grana da separação, comprei um terreno lá em
Niterói.
Eu estava no maior baixo-astral, tomando comprimido para
dormir e tudo, quando conheci o
Zonga. O Zonga era apontado como revelação no Vasco. Diziam
que ia ser o novo Garrincha. Você
não se lembra do Zonga? Ele deu
o passe para o Roberto Dinamite
fazer aquele gol contra o Olaria.
O Zonga era generoso. Gastava
muito com noitada. Está vendo
essa bolsa? É do tempo do Zonga.
Aí, a gente se casou, estávamos
felizes, coisa e tal, quando veio
um técnico que não gostava dele.
Encostou o coitado. A diretoria,
então, decidiu emprestar o Zonga. Proposta daqui, proposta dali,
a melhor foi a do Juventus. Não o
da Itália. O de São Paulo mesmo.
Nem morta que eu ia para lá!
Aí, advogado, aquelas coisas,
foi um para um lado, outro para
o outro. Com a grana da separação, levantei a casa lá em Niterói.
Chegou, então, o dia que eu conheci o Robson. O Robson era juvenil do América-MG e estavam
ajeitando a ida dele para um time
da Grécia, o Olympiakos, eu acho.
Fiquei toda animada e decidi que
ele seria o homem da minha vida
por uns tempos. Foi aí que aconteceu: um dia, eu cheguei no treino e, quando olhei em volta, vi
umas cinco a seis loiras ali grudadas no alambrado. Elas usavam
calças apertadas, decotes cavados
e pintavam o cabelo que nem eu,
a diferença é que eram muito
mais novas.
Naquele instante, eu percebi
que teria que fazer uma reavaliação da minha vida. Era o momento de ir para o interior.
Então vieram os meus relacionamentos com o Nena, do Dracena; com o Décio Pelé, do Sinop;
com o Rambo, do Fast, e agora
com essa gracinha que é o Silvão,
do Ji-Paraná. O quê? Nunca ouviu falar do Ji-Paraná? É, eu sei,
jornal de riquinho não vai cobrir
o Campeonato Rondoniense.
Bom, o Silvão já está meio em
fim de carreira, mas é um amor.
Esse implante foi ele quem pagou.
Estamos nos dando superbem,
graças a Deus. Só que ultimamente eu ando desconfiada de uma
oxigenada que tem aparecido por
lá. Hoje em dia a gente não pode
dormir no ponto. Tem que marcar o tempo todo. Esse jogo é duro, meu filho, esse jogo é duro.
Rosa
Em resposta à última coluna,
o leitor Fábio Henrique dos
Santos mandou uma seleção
só com jogadores tirados do
universo de Guimarães Rosa.
Eis o time: Zé-Bebelo; Joca
Ramiro, Joãozinho Bem-Bem, Sô Candelário e Antônio Dó; Jazevedão, Olivino
Oliviano, Joé Cazuzo e João
Concliz; Rasga-em-Baixo e
Fancho-Bode. Auxiliar técnico: Compadre meu Quelemém. Técnico: o Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o
Azarape, o Coisa-Ruim, o
Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz,
o Tristonho, o Sem-Gracejos,
o Não-Sei-Que-Diga, o Que-Nunca-Se-Ri, o Grã-Tinhoso,
o Cão-Miúdo, o Pai do Mal, o
Tendeiro, o Que-Não-Fala, o
Muito Sério, o Cão Extremo,
o Solto-Eu, o Ele, o Sempre-Sério, o Pai da Mentira, o Bode Preto, o Morcegão, o Xu.
E-mail torero@uol.com.br
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