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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Michelle Paulla

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Meu nome? No RG está Maria José, mas eu gosto mesmo é de Michelle Paulla. E com quatro eles. Idade? Isso não se pergunta. Faz de conta que eu tenho 29. Minha maior glória? Tirei segundo lugar no concurso de Miss Niterói. Se eu pinto os cabelos? Quem não pinta. Se bem que aquela tintura importada do tempo das vacas gordas, nunca mais, meu filho. Uso das baratas mesmo. Queima um pouco a raiz, mas fica amarelinho que nem o da Mari Alexandre.
Meu primeiro namorado-jogador foi o Redernilson. Conheci na Bélgica. Ele era alagoano, mas jogava no Standard de Liège. O que eu estava fazendo em Liège? Digamos que estava atuando no setor de entretenimento.
O Redernilson nem era titular, mas a gente estava sempre comendo nos restaurantes chiques, avião pra lá e pra cá. Um vidão, meu amigo. Conheci Amsterdã, Paris e até recebi a benção do papa. Estava indo tudo às mil maravilhas até o Reder quebrar a perna. Então nós tivemos que voltar. Aguentei aquela vida de pão e água por um tempo, mas sabe como é: uns nasceram para passar dificuldade e outros não.
Aí, advogado, aquelas coisas, foi um para um lado, outro para o outro. Com a grana da separação, comprei um terreno lá em Niterói.
Eu estava no maior baixo-astral, tomando comprimido para dormir e tudo, quando conheci o Zonga. O Zonga era apontado como revelação no Vasco. Diziam que ia ser o novo Garrincha. Você não se lembra do Zonga? Ele deu o passe para o Roberto Dinamite fazer aquele gol contra o Olaria.
O Zonga era generoso. Gastava muito com noitada. Está vendo essa bolsa? É do tempo do Zonga.
Aí, a gente se casou, estávamos felizes, coisa e tal, quando veio um técnico que não gostava dele. Encostou o coitado. A diretoria, então, decidiu emprestar o Zonga. Proposta daqui, proposta dali, a melhor foi a do Juventus. Não o da Itália. O de São Paulo mesmo. Nem morta que eu ia para lá!
Aí, advogado, aquelas coisas, foi um para um lado, outro para o outro. Com a grana da separação, levantei a casa lá em Niterói.
Chegou, então, o dia que eu conheci o Robson. O Robson era juvenil do América-MG e estavam ajeitando a ida dele para um time da Grécia, o Olympiakos, eu acho. Fiquei toda animada e decidi que ele seria o homem da minha vida por uns tempos. Foi aí que aconteceu: um dia, eu cheguei no treino e, quando olhei em volta, vi umas cinco a seis loiras ali grudadas no alambrado. Elas usavam calças apertadas, decotes cavados e pintavam o cabelo que nem eu, a diferença é que eram muito mais novas.
Naquele instante, eu percebi que teria que fazer uma reavaliação da minha vida. Era o momento de ir para o interior.
Então vieram os meus relacionamentos com o Nena, do Dracena; com o Décio Pelé, do Sinop; com o Rambo, do Fast, e agora com essa gracinha que é o Silvão, do Ji-Paraná. O quê? Nunca ouviu falar do Ji-Paraná? É, eu sei, jornal de riquinho não vai cobrir o Campeonato Rondoniense.
Bom, o Silvão já está meio em fim de carreira, mas é um amor. Esse implante foi ele quem pagou. Estamos nos dando superbem, graças a Deus. Só que ultimamente eu ando desconfiada de uma oxigenada que tem aparecido por lá. Hoje em dia a gente não pode dormir no ponto. Tem que marcar o tempo todo. Esse jogo é duro, meu filho, esse jogo é duro.

Rosa
Em resposta à última coluna, o leitor Fábio Henrique dos Santos mandou uma seleção só com jogadores tirados do universo de Guimarães Rosa. Eis o time: Zé-Bebelo; Joca Ramiro, Joãozinho Bem-Bem, Sô Candelário e Antônio Dó; Jazevedão, Olivino Oliviano, Joé Cazuzo e João Concliz; Rasga-em-Baixo e Fancho-Bode. Auxiliar técnico: Compadre meu Quelemém. Técnico: o Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Sem-Gracejos, o Não-Sei-Que-Diga, o Que-Nunca-Se-Ri, o Grã-Tinhoso, o Cão-Miúdo, o Pai do Mal, o Tendeiro, o Que-Não-Fala, o Muito Sério, o Cão Extremo, o Solto-Eu, o Ele, o Sempre-Sério, o Pai da Mentira, o Bode Preto, o Morcegão, o Xu.

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