São Paulo, terça-feira, 17 de janeiro de 2006

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JOGOS DE INVERNO

Jaqueline Mourão se torna a primeira a dobrar Olimpíadas

Brasileira troca pedal por esqui e obtém feito inédito

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Jaqueline Mourão solta uma gargalhada ao rememorar que tudo ocorreu por acaso.
Uma nevasca atingiu a região de sua casa no Canadá, país onde está radicada desde o ano passado.
Sem condições de levar a bicicleta para as ruas -ela é o principal nome do ciclismo feminino brasileiro e competiu em Atenas-2004-, aceitou convite do marido para uma sessão de esqui.
Ontem, menos de um ano depois de experimentar o esporte pela primeira vez, logrou um feito histórico: ganhou vaga na Olimpíada de Inverno, que será disputa em Turim (Itália) no próximo mês. Uma mulher do país nunca havia conquistado espaço nas duas versões dos Jogos.
"Quando vi aquela neve toda na janela, fiquei desesperada. Achei que nunca mais iria pedalar. Fui esquiar sem pretensão nenhuma, só para me manter ativa. Não poderia imaginar que tudo acabaria assim", relata a atleta de 29 anos.
Mineira de Belo Horizonte, ela disputará os 10 km cross country, modalidade na qual os competidores percorrem trechos de subida e descida na neve. "É um esporte que exige muito do sistema cardiovascular. Eu, como sempre pedalei, já estava pronta, já tinha o motor funcionando. Só precisei aprender a técnica", explica.
As aulas não ocorreram com um professor qualquer. Guido Visser, seu marido canadense, é campeão mundial master de esqui e defendeu o país na Olimpíada de Inverno em Nagano-1998. "Logo no primeiro dia, vi que a Jaque tinha um vigor impressionante. Não me admira que a vaga brasileira tenha acabado nas mãos dela", relata.
Em outubro do ano passado, quando Jaqueline encerrou sua temporada no mountain bike, Visser convenceu a atleta a treinar e disputar torneios de esqui. Cinco provas bastaram para que ela despachasse outras duas brasileiras e festejasse a vaga nos Jogos.
"Só espero agora que ela tenha mais sorte do que eu. Lembro que competi em Nagano debaixo de uma baita nevasca. Terminei em último lugar", conta o marido.
Na verdade, a nova chance olímpica também tem sabor de redenção para Jaqueline. Em 2004, ela sonhava com um lugar entre as dez melhores ciclistas do mundo, mas seu pneu furou logo no início da disputa. "Precisei parar para trocar e acabei em 18º. Agora, com o esqui, sei que não tenho grandes chances, mas quero completar o percurso sem supressas desagradáveis."
Antes dela, só Matheus Inocêncio havia defendido o Brasil nas duas versões olímpicas -competiu em Salt Lake City-2002 no trenó de bobsled e correu os 110 m com barreiras em Atenas-2004.
Jaqueline não pretende escolher uma modalidade para dedicação exclusiva. Acredita que pode pedalar e esquiar pelos próximos anos. "São atividades complementares. Se posso me dar bem nas duas, por que não tentar?"


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