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JOGOS DE INVERNO
Jaqueline Mourão se torna a primeira a dobrar Olimpíadas
Brasileira troca pedal por esqui e obtém feito inédito
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Jaqueline Mourão solta uma
gargalhada ao rememorar que tudo ocorreu por acaso.
Uma nevasca atingiu a região de
sua casa no Canadá, país onde está radicada desde o ano passado.
Sem condições de levar a bicicleta para as ruas -ela é o principal nome do ciclismo feminino
brasileiro e competiu em Atenas-2004-, aceitou convite do marido para uma sessão de esqui.
Ontem, menos de um ano depois de experimentar o esporte
pela primeira vez, logrou um feito
histórico: ganhou vaga na Olimpíada de Inverno, que será disputa em Turim (Itália) no próximo
mês. Uma mulher do país nunca
havia conquistado espaço nas
duas versões dos Jogos.
"Quando vi aquela neve toda na
janela, fiquei desesperada. Achei
que nunca mais iria pedalar. Fui
esquiar sem pretensão nenhuma,
só para me manter ativa. Não poderia imaginar que tudo acabaria
assim", relata a atleta de 29 anos.
Mineira de Belo Horizonte, ela
disputará os 10 km cross country,
modalidade na qual os competidores percorrem trechos de subida e descida na neve. "É um esporte que exige muito do sistema
cardiovascular. Eu, como sempre
pedalei, já estava pronta, já tinha o
motor funcionando. Só precisei
aprender a técnica", explica.
As aulas não ocorreram com
um professor qualquer. Guido
Visser, seu marido canadense, é
campeão mundial master de esqui e defendeu o país na Olimpíada de Inverno em Nagano-1998.
"Logo no primeiro dia, vi que a Jaque tinha um vigor impressionante. Não me admira que a vaga
brasileira tenha acabado nas
mãos dela", relata.
Em outubro do ano passado,
quando Jaqueline encerrou sua
temporada no mountain bike,
Visser convenceu a atleta a treinar
e disputar torneios de esqui. Cinco provas bastaram para que ela
despachasse outras duas brasileiras e festejasse a vaga nos Jogos.
"Só espero agora que ela tenha
mais sorte do que eu. Lembro que
competi em Nagano debaixo de
uma baita nevasca. Terminei em
último lugar", conta o marido.
Na verdade, a nova chance
olímpica também tem sabor de
redenção para Jaqueline. Em
2004, ela sonhava com um lugar
entre as dez melhores ciclistas do
mundo, mas seu pneu furou logo
no início da disputa. "Precisei parar para trocar e acabei em 18º.
Agora, com o esqui, sei que não
tenho grandes chances, mas quero completar o percurso sem supressas desagradáveis."
Antes dela, só Matheus Inocêncio havia defendido o Brasil nas
duas versões olímpicas -competiu em Salt Lake City-2002 no trenó de bobsled e correu os 110 m
com barreiras em Atenas-2004.
Jaqueline não pretende escolher
uma modalidade para dedicação
exclusiva. Acredita que pode pedalar e esquiar pelos próximos
anos. "São atividades complementares. Se posso me dar bem
nas duas, por que não tentar?"
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