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A volta do terrível Frankenstein
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas
Era Lua cheia. Os cães uivavam. Chovia torrencialmente,
e os relâmpagos iluminavam o
negrume da noite com seus
flashes azulados. Longe do
centro da cidade, no seu úmido laboratório em São Miguel,
o doutor Franklin Steinberg,
Frank Stein para os íntimos,
dava loucas gargalhadas, feliz
por chegar ao fim de sua ousada experiência.
A idéia havia nascido 20
anos antes, quando ele era médico da CBF e carregado dos
exames antidoping. Desde
aquele tempo o doutor Frank
Stein vinha guardando frascos
e mais frascos de urina no freezer de sua casa.
Sua intenção era conseguir
reproduzir o DNA retirado da
uréia dos jogadores. Ele injetaria esse DNA nas diferentes
partes do corpo de um defunto
e, depois de trazê-lo de volta à
vida, teria o mais perfeito atacante de todos os tempos.
Naquela noite ele concluiria
tudo. Já sonhava com a fama,
a glória, os gols e as vitórias,
mas, principalmente, com os
20% que ganharia como empresário de seu superatleta.
Nos olhos do morto colocou o
DNA de Pelé, para que ele tivesse visão aguçada e sempre
atenta ao menor descuido dos
zagueiros, olhos que saberiam
ver o caminho do gol.
Nos braços deu uma injeção
com a urina de Serginho Chulapa, para que eles ficassem
grandes, longos e fortes, ideais
para afastar os zagueiros e
abrir espaços na área.
Para os pulmões usou o DNA
de Cafu, e no calcanhar inoculou o de Sócrates.
Para a perna direita recorreu
ao material genético de Nelinho e, para a esquerda, ao de
Rivellino. O atacante ideal soltaria chutes venenosos com as
duas pernas.
Faltava, para arrematar a
obra-prima, a escolha do DNA
para o cérebro. Depois de muito ponderar, o cientista acabou optando pelo cérebro de
Cruyff. que ele considerava ter
um misto de genialidade, senso profissional, inteligência tática e eficiência. Frank separou o frasco, esfregou as mãos
ansiosamente e foi ao banheiro, pois mexer naqueles vidros
sempre estimulava sua bexiga.
Acontece, porém, que a chuva daquela noite não parava.
E, como a prefeitura não tinha
feito a limpeza de bueiros do
seu bairro, enquanto ele estava no banheiro a água subiu
rapidamente.
Ao voltar, viu seus tubos de
ensaio boiando. Só um escapara, pois estava numa prateleira mais alta. Antes que seu laboratório ficasse totalmente
alagado e seus aparelhos fossem inutilizados, o doutor injetou a substância do último
frasco no cérebro do monstro.
Então o cientista ligou sua
máquina e raios de eletricidade iluminaram seu porão. A
experiência deu certo. Fez-se o
milagre da vida, e o monstro se
levantou. Mas, em vez de mostrar-se agradecido ao seu criador, começou a dar chutes para todos os lados e fugiu.
O doutor Frank Stein tentou
encontrar seu pupilo durante
dias e foi achá-lo numa delegacia. Seu super-homem estava preso. Tinha atropelado 20
pessoas, saído sem pagar de 10
restaurantes e agredido vários
policiais com pontapés e tapas.
Só então o cientista teve a
idéia de verificar de qual frasco ele tirara o DNA para o cérebro de sua criação. Enfim,
achara a causa da tragédia.
Era o frasco de Edmundo.
O escritor e cineasta José Roberto Torero escreve às terças e quintas
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