São Paulo, terça, 17 de março de 1998

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BASQUETE NO MUNDO
Carecas

MELCHIADES FILHO
Michael Jordan e Charles Barkley popularizaram o "look". Mas o visual careca, hoje quase um símbolo do basquete, é mais antigo -e sua história é bem divertida.
O primeiro jogador a raspar voluntariamente a cabeça pisou as quadras da liga norte-americana há 25 anos.
Mais conhecido como "Slick", Donald Earl Watts chocou a NBA ao ser contratado pelo Seattle Supersonics.
No ano passado, o "pioneiro" esteve em Chicago durante as finais entre Bulls e Jazz, quando falou à Folha.
Watts contou que adotou a navalha na universidade, três anos antes de se profissionalizar no esporte, para driblar a falta de cacoete nos galanteios às colegas de classe.
"Ficar careca foi o jeito que encontrei de ser diferente. Algumas meninas gostavam, outras torciam o nariz. Mas eu tive sorte, comecei a ficar bem acompanhado", disse.
De fato, a embalagem skinhead não fazia sentido estético na época -a moda pedia madeixas compridas.
"Se o mercado fosse como o de hoje, em que a NBA vende de tudo e o exótico também tem vez, eu teria ficado milionário com promoções e patrocínios. No final das contas, só ganhei gozações. E muitas críticas da comunidade negra, por negligenciar o visual "black power'."
Já Jordan como Barkley, curiosamente, consagraram as carecas para disfarçar uma calvície parcial e hereditária.
Ambos raspam a cabeça duas vezes por semana -Jordan segue ritual solitário todas as terças e sextas, às tardes; Barkley pede ajuda aos colegas de time.
No meio da década de 80, quando a dupla chegou à NBA, os carecas-de-propósito não representavam nem 5% do total de jogadores da liga.
Hoje, essa legião é bem maior. Pelas minhas contas, aglutina 104 dos quase 500 atletas (21%) que pisaram a quadra no atual campeonato.

NOTAS

Telhado 1
Até este ano -quando Pervis Ellison (Boston) aderiu ao visual-, o pivô Bill Walton era o único atleta em 50 anos de NBA a ter ostentado um rabo-de-cavalo dentro das quadras. Em 1974, quando chegou à liga, ele assinou um contrato com o Portland (o mais rentável de todos os esportes até então) que proibia o time de exigir que fizesse a barba ou aparasse a cabeleira. O hippie Walton foi campeão em 76/77, está no Hall of Fame e é considerado um dos 50 melhores jogadores da história da liga. Hoje, é comentarista de TV.

Telhado 2
O ala-pivô Darnell Hillman pulou sem brilho por cinco equipes da NBA ao longo dos anos 70. Mas pelo menos imortalizou sua cabeleira "black power" -com 13 cm de altura, ela transformava o dono num gigante de 2,19 m (3 cm mais alto do que Shaquille O'Neal).

E-mail melk@uol.com.br



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