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Parmalat quer Oséas pelado só para ela
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Notícia de ontem deste caderno: "Parmalat proíbe que atacante Oséas pose nu em revista
gay".
Na reportagem, um diretor
da multinacional justifica: "Se
o nu precisasse ser utilizado, teria que ser pela Parmalat, que
tem os direitos de imagem do
jogador. E, no momento, não
estávamos querendo esse tipo
de propaganda com o Oséas".
Traduzindo: a Parmalat quer
ficar com seus pelados só para
ela.
A situação seria cômica se
não fosse preocupante. Já imaginou se a moda pega?
Uma coisa é o atleta profissional ter que cuidar da própria
saúde, de modo a estar sempre
apto a exercer seu ofício. Mas,
até onde eu sei, posar nu não tira pedaço, nem distende músculo (pelo menos não de quem
posa; de quem vê, é outra história).
Outra coisa, completamente
diferente, é o jogador ser forçado a submeter sua vida particular, seu tempo livre, seus interesses pessoais, seu próprio
corpo, ao arbítrio de uma empresa, só porque esta lhe paga o
salário.
Talvez neoliberalismo seja isso: por trás de uma defesa retórica da liberdade, a real submissão do indivíduo aos interesses do capital.
Liberdade, só para as empresas. O indivíduo sem capital
tem que ser "profissional", ou
seja, fazer tudo o que o sinhozinho mandar.
Qualquer semelhança com a
situação que os antepassados
de Oséas viveram antes de 1888
não será mera coincidência.
Mas deixemos de lado a mesquinharia, que hoje é dia de decisão. "Como assim, decisão?",
perguntará o leitor. "Afinal, é
só um jogo da primeira fase da
Libertadores."
Sim, caro leitor, mas é decisivo por pelo menos três motivos.
Primeiro, porque qualquer Corinthians x Palmeiras é uma
decisão. Um amistoso entre os
dois times seria algo inconcebível, assim como um amistoso
Brasil x Argentina é uma contradição em termos.
Segundo, porque veremos hoje em campo até que ponto a
derrota para o São Paulo, domingo, abalou os ânimos corintianos -o que poderá ser
um bom indicador do estofo
moral do time para enfrentar
torneios tão duros como os que
tem pela frente.
Por fim, é um jogo decisivo
porque Palmeiras e Corinthians lutam pela liderança
nessa primeira fase para escapar do Vasco na segunda.
Um motivo extra para ver o
jogo é observar o comportamento de Marcelinho, atleta
que parece ser o retrato vivo da
instabilidade corintiana.
Alternando performances
memoráveis e desempenhos
quase nulos, oscilando da alegria do drible à selvageria da
botinada desleal, o camisa 7
corintiano é "uma caixinha de
surpresas".
Certa vez, quando perguntaram a Neto por que Marcelinho, exímio chutador, estava
errando tantas cobranças de
falta, o ex-craque brincou:
"Acho que ele está rezando demais".
É uma explicação a ser levada
em conta. Se tratasse de compreender seu lado "bad boy",
em vez de reprimi-lo sob uma
fachada carola, Marcelinho
talvez conseguisse superar sua
dualidade. Afinal, ninguém é
anjo o tempo todo. Nem demônio.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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