São Paulo, Quarta-feira, 17 de Março de 1999
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Parmalat quer Oséas pelado só para ela

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Notícia de ontem deste caderno: "Parmalat proíbe que atacante Oséas pose nu em revista gay".
Na reportagem, um diretor da multinacional justifica: "Se o nu precisasse ser utilizado, teria que ser pela Parmalat, que tem os direitos de imagem do jogador. E, no momento, não estávamos querendo esse tipo de propaganda com o Oséas".
Traduzindo: a Parmalat quer ficar com seus pelados só para ela.
A situação seria cômica se não fosse preocupante. Já imaginou se a moda pega?
Uma coisa é o atleta profissional ter que cuidar da própria saúde, de modo a estar sempre apto a exercer seu ofício. Mas, até onde eu sei, posar nu não tira pedaço, nem distende músculo (pelo menos não de quem posa; de quem vê, é outra história).
Outra coisa, completamente diferente, é o jogador ser forçado a submeter sua vida particular, seu tempo livre, seus interesses pessoais, seu próprio corpo, ao arbítrio de uma empresa, só porque esta lhe paga o salário.
Talvez neoliberalismo seja isso: por trás de uma defesa retórica da liberdade, a real submissão do indivíduo aos interesses do capital.
Liberdade, só para as empresas. O indivíduo sem capital tem que ser "profissional", ou seja, fazer tudo o que o sinhozinho mandar.
Qualquer semelhança com a situação que os antepassados de Oséas viveram antes de 1888 não será mera coincidência.

Mas deixemos de lado a mesquinharia, que hoje é dia de decisão. "Como assim, decisão?", perguntará o leitor. "Afinal, é só um jogo da primeira fase da Libertadores."
Sim, caro leitor, mas é decisivo por pelo menos três motivos. Primeiro, porque qualquer Corinthians x Palmeiras é uma decisão. Um amistoso entre os dois times seria algo inconcebível, assim como um amistoso Brasil x Argentina é uma contradição em termos.
Segundo, porque veremos hoje em campo até que ponto a derrota para o São Paulo, domingo, abalou os ânimos corintianos -o que poderá ser um bom indicador do estofo moral do time para enfrentar torneios tão duros como os que tem pela frente.
Por fim, é um jogo decisivo porque Palmeiras e Corinthians lutam pela liderança nessa primeira fase para escapar do Vasco na segunda.
Um motivo extra para ver o jogo é observar o comportamento de Marcelinho, atleta que parece ser o retrato vivo da instabilidade corintiana.
Alternando performances memoráveis e desempenhos quase nulos, oscilando da alegria do drible à selvageria da botinada desleal, o camisa 7 corintiano é "uma caixinha de surpresas".
Certa vez, quando perguntaram a Neto por que Marcelinho, exímio chutador, estava errando tantas cobranças de falta, o ex-craque brincou: "Acho que ele está rezando demais".
É uma explicação a ser levada em conta. Se tratasse de compreender seu lado "bad boy", em vez de reprimi-lo sob uma fachada carola, Marcelinho talvez conseguisse superar sua dualidade. Afinal, ninguém é anjo o tempo todo. Nem demônio.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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