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Time de Scolari assume na Espanha papel de matar as jogadas dos rivais
A falta tática, na falta de arte
Juca Varella/Folha Imagem
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O atacante Edílson entra com bola e tudo ao marcar o primeiro de seus dois gols na goleada da seleção por 5 a 0 contra o Espanyol B |
Capitão Emerson anuncia estratégia, oposta à da geração de 82, cujo futebol-arte viveu no país europeu sua glória e frustração
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FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A BARCELONA
Na mesma Espanha onde há 20
anos o futebol-arte viveu sua consagração e frustração, a seleção
brasileira lançou ontem oficialmente seu novo estilo, concebido
pelo técnico Luiz Felipe Scolari e
traduzido pelo capitão Emerson
na expressão "falta tática".
Não sem ironia, há duas décadas o Brasil lamenta que Cerezo,
Luisinho e cia. não tivessem parado Paolo Rossi e seus colegas italianos com uma pitada de antijogo no Sarriá, em Barcelona.
Nessas duas décadas, a seleção
se transfigurou tanto quanto o
Sarriá. O estádio não existe mais
-foi implodido para dar lugar a
um condomínio de luxo.
O time nacional, ao menos em
sua concepção, é o oposto da geração de 1982, traduzida pela criatividade e pelo refinamento de Zico, Sócrates e Falcão.
A atual seleção é obediente ao
futebol de resultados de Scolari e
apologista das faltas. Mas jogadores como Ronaldo, Ronaldinho,
Rivaldo e Denílson podem, em
lances que escapam da concepção
tática, dar momentos de brilho ao
time montado por Scolari.
Na capital da Catalunha, a Folha constatou ontem os dois abismos. Visitou o "cemitério" de
Sarriá e acompanhou o jogo-treino da seleção, no qual Emerson
cunhou um lema para a filosofia
que o treinador vem exigindo
desde que assumiu o cargo.
Antes de começar a partida, em
que o Brasil só goleou o time B do
Espanyol quando adotou uma
formação mais ofensiva, o volante
da Roma, capitão do escrete de
Scolari, explicou a tese.
"Existem faltas e faltas. A violenta tem que ser evitada porque
em uma Copa do Mundo não podemos levar muitos cartões. A falta tática existe, e não podemos
pensar que a seleção brasileira,
pela qualidade de seus jogadores,
não pode cometê-las. Tem que
marcar também. Caso contrário,
fica fácil para os adversários."
E completou: "A falta faz parte
do jogo. Às vezes você faz uma falta tática e pára a jogada no momento certo. Essa é a parte importante. Em alguns momentos do
jogo, a falta tática é necessária".
A sintonia entre Emerson e Scolari, ambos gaúchos, é perfeita.
Pouco tempo depois de o capitão brasileiro fazer a louvação da
"falta tática", o treinador anunciou sua decisão de desprezar o
esquema com apenas dois zagueiros, que tem se revelado mais
ofensivo no time brasileiro, no
amistoso de amanhã contra a seleção da Catalunha.
Quando terminou o jogo-treino, Scolari recuou de sua decisão
inicial e disse que, no 4-3-3, achou
a seleção muito exposta diante do
time de estudantes do Espanyol B.
Assim, seria um risco desnecessário repetir a experiência desde o
início contra a Catalunha.
O Brasil atuará no 3-5-2, com
três zagueiros, esquema levado
pelo treinador à seleção pela primeira vez após o fracasso na Copa
de 90, quando Sebastião Lazaroni
lançou a moda na seleção.
Ao chegar a Barcelona, Scolari
dissera que, por causa de desfalques no time titular, testaria o esquema com dois zagueiros no
amistoso no Camp Nou.
"Eu vou conversar com o Lúcio
e o Anderson Polga, que vão chegar amanhã [hoje", se vão poder
jogar. Caso um dos dois possa suportar, vou escalar o time com
três zagueiros pelo menos nos primeiros 45 minutos, para entrosar
mais o esquema da Copa", declarou o treinador do time nacional.
Scolari ficou desapontado com
a atuação do time no esquema 4-4-2 que iniciou o jogo-treino no
estádio Olímpico de Barcelona.
Apesar de ter goleado a fraca
equipe adversária, por 5 a 0, a seleção não saiu de um empate sem
gols quando jogava com o desenho tático mais utilizado no Brasil
-o mesmo da Copa de 82.
Sem contar com quatro titulares
da Copa (Lúcio e Rivaldo, contundidos, e Roberto Carlos e Anderson Polga, que só devem se
apresentar hoje), o time brasileiro
só deslanchou quando adotou o
4-3-3, com dois zagueiros e três
atacantes (Edílson na ponta direita, Denílson na esquerda e Ronaldo como centroavante).
O império defensivista na seleção brasileira encontra ressonância em outros países.
Com a fase de incerteza vivida
pelas grandes estrelas do meio-campo e ataque, como Rivaldo e
Ronaldo, alguns dos jogadores
brasileiros mais valorizados na
Europa são aqueles que têm como
função principal destruir a criatividade, entre eles Lúcio, Emerson
e Edmílson.
Para milhões de brasileiros, a
geração de 82 não morrerá tão cedo. Mas hoje, em Barcelona, ela
descansa em paz.
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