São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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FUTEBOL

Atletas não se lembram de estádio espanhol e da equipe de Telê Santana

"Tragédia de Sarriá", em 82, inexiste para seleção de 02

DOS ENVIADOS A BARCELONA

Se em Barcelona não restam escombros do estádio Sarriá, na seleção brasileira que amanhã joga contra a Catalunha são escassas as lembranças do futebol-arte apresentado na Copa da Espanha pelo time do técnico Telê Santana.
Soa incrível para quem tem mais de 30 anos, mas entre os 23 jogadores brasileiros que irão à Copa do Mundo-2002 o nome do estádio em que há 20 anos o Brasil foi desclassificado pela Itália não vem precedido da palavra tragédia. Significa apenas um passado já bem distante.
Para os jovens atletas da atual seleção brasileira, a baliza quando o assunto é futebol está fincada em 1994, mais precisamente nos gramados dos EUA e na vitória pragmática da equipe de Carlos Alberto Parreira.
O estilo do meia-atacante Kaká, um dos mais técnicos do grupo atual, até lembra alguns momentos de Zico, Sócrates, Júnior e Falcão. Já o jogador do time de Luiz Felipe Scolari sabe pouco -ou quase nada- sobre a equipe que perdeu de 3 a 2 em Sarriá.
"Sei apenas que era uma seleção forte, mas que não conseguiu ser campeã", afirmou Kaká, que logo em seguida apresenta uma "desculpa geracional".
Em 5 de julho de 1982, no episódio conhecido por alguns como a "tragédia de Sarriá", Kaká ainda era um bebê de colo, com pouco mais de dois meses de vida. "A Copa que marcou a minha vida foi a de 1994. Acompanhei todos os jogos e sou fã até hoje", disse. Para ele, o futebol brasileiro evoluiu muito de 82 até os dias atuais. Está mais competitivo e mais bem organizado taticamente.
O meia-atacante Ronaldinho, tido como o herdeiro do futebol-arte de 1982, é outro que se encanta com o time de 1994 e tem informações esparsas da geração comandada por Telê Santana.
"Na Copa de 1994 comecei a gostar de futebol. Jogava no juvenil e sonhava com a seleção. Vi muitas fitas do passado, mas o time do Parreira é a minha referência", declarou Ronaldinho, nascido em março de 1980. A média de idade da equipe nacional é de 26 anos e 9 meses.
Outra promessa da CBF para o futuro, o volante Kleberson só tem uma informação sobre a seleção de 1982, e assim mesmo a confessa sem muita segurança: "Era o time do Sócrates".
Titular da seleção nas Copas de 1982 e 1986, Sócrates fez o primeiro gol do Brasil na derrota sofrida diante da Itália no Sarriá.
A falta de "memória", no entanto, não afeta apenas os novatos da equipe atual.
O jogador mais velho da equipe, Cafu, 31 anos, duas Copas disputadas -em 1994 e 1998-, a caminho da terceira, disse que nada se lembra da seleção de 1982.
"Naquela época eu nem gostava de futebol. Só conheço aquele time de fita", revelou ele, surpreso ao ser informado de que Sarriá ficava em Barcelona.
A mesma surpresa teve o lateral-esquerdo Júnior: "Foi aqui? Não sabia". (FÁBIO VICTOR, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)


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