São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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BOXE

"Ali"

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

As cenas de ringue ou relacionadas às disputas de título são a virtude do filme "Ali", que tem previsão de estréia nos cinemas brasileiros para o próximo dia 30. Esse, porém, é também o problema do filme.
Tive a oportunidade de assistir ao filme e comprovar que o ator Will Smith, que faz o papel do tricampeão dos pesos-pesados Muhammad Ali, aplicou-se em aprender boxe. Se não é e nunca vai ser confundido com um pugilista da primeira linha, pelo menos aprendeu o básico: pular corda, "brincar" com o punching ball e, nas cenas de luta, realmente demonstra postura de lutador. Nada daqueles absurdos que se vê nos filmes da série "Rocky", por exemplo.
O grande problema é que, fisicamente, Smith não se parece nada com Ali nem soube capturar seu charme e carisma natural. Na maior parte do tempo, Smith não consegue envolver a platéia o suficiente para convencê-la de que está acompanhando Ali, e não um ator tentando interpretá-lo. Este é o problema quando o personagem é alguém universalmente conhecido como Ali e cujas lutas e cenas relacionadas à sua vida, anos e anos após sua aposentadoria, seguem sendo exibidas na TV e divulgadas por outros meios de comunicação. Quer dizer, sua imagem está sempre fresca na memória das pessoas.
Assim, a tarefa de Smith foi mais difícil do que a de, digamos, Robert de Niro, que interpretou o ítalo-americano Jake LaMotta no excelente "Touro Indomável". Tudo porque LaMotta, apesar de sua história saborosa, não era tão popular quanto Ali, então o público que viu o filme não tinha parâmetros muito claros para comparações. Na verdade, apesar de não ser um desconhecido, foi o filme que tornou o ex-campeão dos médios uma celebridade para o grande público novamente.
Mas voltando a ""Ali", ironicamente, são nos momentos em que Smith reproduz os momentos nos quais o ex-campeão dos pesados adotava o papel de showman que ele mais lembra Ali. Como quando o ex-Cassius Clay comemora sua primeira vitória sobre Sonny Liston afirmando histericamente "Eu devo ser o maior de todos...", quando Ali recita um verso descrevendo como seria um combate contra o arqui-rival Joe Frazier e até mesmo quando provoca os rivais durante as respectivas cerimônias de pesagem. O problema é que tais momentos são poucos e curtos e não conseguem envolver o público o suficiente.
O filme também parece se concentrar demasiadamente no relacionamento entre Ali e os muçulmanos negros. Seu convívio com Angelo Dundee, por exemplo, é subestimado.
"Ali", no entanto, tem fatores que mostram a boa vontade da parte da produção. Detalhes frequentemente esquecidos, como a conversa entre Frazier e Ali durante o período em que o último teve a licença cassada, o fato de que Ali não gostava de ser comparado ao ex-campeão dos pesos-pesados Joe Louis [que, em sua opinião, não teria feito o suficiente pelos direitos dos negros] e o relacionamento do pugilista com o repórter Howard Cosell, são lembrados e explorados.
Ainda assim, a atenção mostrada a esses detalhes não é o suficiente para salvar o filme, que tem boas intenções, mas simplesmente não tem o fôlego suficiente para durar os 15 assaltos a que Ali estaria acostumado.

Polêmica
O invicto pena e ex-atleta olímpico Valdemir Pereira, o Sertão, tem prevista para amanhã luta contra o argentino Cirilo Coronel, em programação a partir das 19h, na Cespro, em São Caetano do Sul (a 11 km a sudeste de São Paulo). A entrada é franca. Uma polêmica, entretanto, marca o combate, pois a Confederação Brasileira de Boxe afirma que não reconhecerá a luta porque Coronel teve sua licença de pugilista cassada e também não conta com autorização da Federação Argentina de Boxe para vir ao Brasil. ""Estão me perseguindo. Cirilo Coronel vem com autorização [da província" de Missiones, então é legal. O [invicto meio-médio-ligeiro" Kelson Carlos lutou com ele e nada fizeram", reclama Servílio de Oliveira, promotor da programação. ""Missiones não tem o poder de conceder tal autorização. Quando o Kelson lutou com ele, também tentamos impedir. E, assim como faremos agora, não reconhecemos aquela luta oficialmente", justifica Luís Claudio Boselli, presidente da confederação.

E-mail eohata@folhasp.com.br



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