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FUTEBOL
Jorge e o Outro
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Purgatório. Quarta-feira.
21h30.
Numa arquibancada em forma
de ferradura, milhares de almas
corintianas (e umas poucas brasilienses) se preparam para assistir,
num gigantesco telão, à final da
Copa do Brasil. Faltam pouco
mais de cinco minutos para começar a partida quando o locutor
oficial do evento proclama em alta voz pelo sistema de som:
- Ex-senhoras e ex-senhores, é
com muito orgulho e satisfação
que anunciamos a chegada do
sempre altaneiro, do campeão
dos campeões: sãããããão Jorge!
As almas explodem num urro
de felicidade e, segundos depois,
montado em seu cavalo branco,
secundado pelo inseparável dragão, são Jorge entra pela arena
saudando a multidão de fantasmas transparentes. Após dar alguns autógrafos e tirar fotos, ele
caminha para a tribuna de honra, onde se senta ao lado de um tipo vestido de amarelo dos pés à
cabeça:
- O senhor se importa?
- Claro que não. Será um prazer estar ao lado de um torcedor
adversário.
Os dois voltaram seus olhares
para o telão. O primeiro tempo teve um jogo veloz, bem disputado,
embora com poucas oportunidades claras de gol. A equipe amarela impressionava pela organização e pelo condicionamento físico, enquanto o Corinthians parecia cansado e sem arranque. Então, quando Wellington Dias
acertou a bela cobrança de falta,
o torcedor misterioso não se conteve e gritou sozinho:
- Uau, uau, uau, esse time é
infernal!
O santo corintiano não se abalou. Escaldado pela experiência
dos últimos jogos, ele suspeitava
que o técnico Carlos Alberto Parreira iria fazer modificações táticas no intervalo e o time viria com
tudo em busca do empate.
Não deu outra. O Brasiliense
continuou com maior posse de
bola e seguiu pressionando, mas o
Corinthians começou a criar
chances perigosas, até que, lá pelas tantas, Deivid empatou. São
Jorge, abraçado ao dragão e ao
cavalo, cantava:
- "Teu passado é uma bandeira, teu presente uma lição..."
O resto todo mundo sabe. O Corinthians foi cozinhando o Brasiliense e, para desespero dos rivais,
levantou o segundo troféu em
apenas quatro dias:
- Ai, ai, disse são Jorge descansando o sorriso por uns segundos.
Vamos ganhar a tríplice coroa!
Como não ouviu resposta, o
santo olhou para o lado e viu o
homem de roupa amarela enxugando uma lágrima.
- Puxa, o senhor gosta mesmo
do Brasiliense!
- Ao inferno com o Brasiliense!, gritou ele com raiva. Eu estava era torcendo por aquele menino que criei com tanto carinho,
aquele jovem que aprendeu minhas lições com rara atenção,
aquele discípulo amado que dedicou toda a sua vida a dar um destino mais nobre e apropriado ao
dinheiro público.
- O senhor está falando do
Luiz Estevão?
- Claro que sim, seu santo de
meia tigela!, esbravejou o homem, levantando-se num movimento teatral.
Inconformado com a grossura
da resposta, são Jorge rebateu:
- Vá para o diabo!
O sujeito, depois de dar uma última olhada para o telão, secou
outra lágrima e disse:
- Não se pode ir para o que se
é.
Então colocou o rabo entre as
pernas e saiu cabisbaixo.
Gagos 1
André Stevanato enviou uma
escalação para gagos: Dida
(Corinthians); Dida (Corinthians), Dedê (Noroeste), Dêda (Santos) e Dedé (Atlético-MG); Dudu (Palmeiras) e
Dudu (Guarani); Didi (Corinthians), Dodô, Dadá Maravilha e Dedé (Vasco).
Gagos 2
Como também pode gaguejar-se uma idéia, há a seleção
de Antonio Segura: Lalá
(Santos); Lalas (EUA), Cacá
(AFE), Nenê (Corinthians) e
Dedê (Sport); Dudu (Palmeiras), Didi (Botafogo), Kaká e
Lelê (Vasco); Dodô e Vavá.
Gagos 3
E, para que os gaguejam nomes inteiros, temos o escrete
de Eduardo Pereira: Rogério
Ceni; Rogério, Júnior Baiano,
Roque Júnior e Júnior; Ricardinho (Cruzeiro), Ricardinho
(Corinthians), Juninho Pernambucano e Juninho Paulista; Ronaldo e Ronaldinho.
E-mail torero@uol.com.br
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