São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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FUTEBOL

Jorge e o Outro

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Purgatório. Quarta-feira. 21h30.
Numa arquibancada em forma de ferradura, milhares de almas corintianas (e umas poucas brasilienses) se preparam para assistir, num gigantesco telão, à final da Copa do Brasil. Faltam pouco mais de cinco minutos para começar a partida quando o locutor oficial do evento proclama em alta voz pelo sistema de som:
- Ex-senhoras e ex-senhores, é com muito orgulho e satisfação que anunciamos a chegada do sempre altaneiro, do campeão dos campeões: sãããããão Jorge!
As almas explodem num urro de felicidade e, segundos depois, montado em seu cavalo branco, secundado pelo inseparável dragão, são Jorge entra pela arena saudando a multidão de fantasmas transparentes. Após dar alguns autógrafos e tirar fotos, ele caminha para a tribuna de honra, onde se senta ao lado de um tipo vestido de amarelo dos pés à cabeça:
- O senhor se importa?
- Claro que não. Será um prazer estar ao lado de um torcedor adversário.
Os dois voltaram seus olhares para o telão. O primeiro tempo teve um jogo veloz, bem disputado, embora com poucas oportunidades claras de gol. A equipe amarela impressionava pela organização e pelo condicionamento físico, enquanto o Corinthians parecia cansado e sem arranque. Então, quando Wellington Dias acertou a bela cobrança de falta, o torcedor misterioso não se conteve e gritou sozinho:
- Uau, uau, uau, esse time é infernal!
O santo corintiano não se abalou. Escaldado pela experiência dos últimos jogos, ele suspeitava que o técnico Carlos Alberto Parreira iria fazer modificações táticas no intervalo e o time viria com tudo em busca do empate.
Não deu outra. O Brasiliense continuou com maior posse de bola e seguiu pressionando, mas o Corinthians começou a criar chances perigosas, até que, lá pelas tantas, Deivid empatou. São Jorge, abraçado ao dragão e ao cavalo, cantava:
- "Teu passado é uma bandeira, teu presente uma lição..."
O resto todo mundo sabe. O Corinthians foi cozinhando o Brasiliense e, para desespero dos rivais, levantou o segundo troféu em apenas quatro dias:
- Ai, ai, disse são Jorge descansando o sorriso por uns segundos. Vamos ganhar a tríplice coroa!
Como não ouviu resposta, o santo olhou para o lado e viu o homem de roupa amarela enxugando uma lágrima.
- Puxa, o senhor gosta mesmo do Brasiliense!
- Ao inferno com o Brasiliense!, gritou ele com raiva. Eu estava era torcendo por aquele menino que criei com tanto carinho, aquele jovem que aprendeu minhas lições com rara atenção, aquele discípulo amado que dedicou toda a sua vida a dar um destino mais nobre e apropriado ao dinheiro público.
- O senhor está falando do Luiz Estevão?
- Claro que sim, seu santo de meia tigela!, esbravejou o homem, levantando-se num movimento teatral.
Inconformado com a grossura da resposta, são Jorge rebateu:
- Vá para o diabo!
O sujeito, depois de dar uma última olhada para o telão, secou outra lágrima e disse:
- Não se pode ir para o que se é.
Então colocou o rabo entre as pernas e saiu cabisbaixo.

Gagos 1
André Stevanato enviou uma escalação para gagos: Dida (Corinthians); Dida (Corinthians), Dedê (Noroeste), Dêda (Santos) e Dedé (Atlético-MG); Dudu (Palmeiras) e Dudu (Guarani); Didi (Corinthians), Dodô, Dadá Maravilha e Dedé (Vasco).

Gagos 2
Como também pode gaguejar-se uma idéia, há a seleção de Antonio Segura: Lalá (Santos); Lalas (EUA), Cacá (AFE), Nenê (Corinthians) e Dedê (Sport); Dudu (Palmeiras), Didi (Botafogo), Kaká e Lelê (Vasco); Dodô e Vavá.

Gagos 3
E, para que os gaguejam nomes inteiros, temos o escrete de Eduardo Pereira: Rogério Ceni; Rogério, Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; Ricardinho (Cruzeiro), Ricardinho (Corinthians), Juninho Pernambucano e Juninho Paulista; Ronaldo e Ronaldinho.

E-mail torero@uol.com.br



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