São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2005

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Rio renega seu histórico para renascer no Nacional

Com pé-de-obra importado, sem o Maracanã e priorizando a defesa, Estado alcança o topo

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Nada da famosa "turma do chinelinho". Pé-de-obra importado e barato no lugar dos atletas locais a peso de ouro. Prioridade à defesa e nada de Maracanã.
O renascimento do futebol carioca tem uma cara bem diferente do que os fracassos dos últimos anos da cidade no Brasileiro.
Após as quatro rodadas iniciais do ano passado, Botafogo, Flamengo e Vasco estavam na zona de rebaixamento. Em 2005, no mesmo estágio, o Fluminense lidera, o Botafogo vem em segundo e o Flamengo é o oitavo.
A exceção agora é o Vasco, que só não está na zona de rebaixamento pelos pontos que ganhou do Brasiliense no tapetão.
Os clubes do Rio cortaram custos (a folha salarial média fica em torno da metade de um grande paulista) e mudaram hábitos.
No Botafogo, o técnico Paulo César Gusmão surpreendeu os jogadores na sua chegada. Ele impôs um regime para os atletas. ""Estabeleci três faixas de percentual de gordura para o grupo. O resultado está sendo visto no campo", disse Gusmão, que foi contratado há cerca de dois meses, após o fiasco da equipe no Estadual do Rio -foi eliminada nos dois turnos antes da final.
Um dos destaques da equipe no início do Brasileiro, o meia-atacante Almir é o símbolo da "fase diet" do Botafogo. Ele perdeu quase cinco quilos em pouco mais de um mês. O atacante Guilherme e o zagueiro Scheidt também emagreceram. Eles perderam cerca de três quilos cada um.
Gusmão atribuiu também o sucesso da equipe à preparação emocional realizada com os jogadores nos últimos dias. ""No Botafogo, o coletivo fala mais alto e passo sempre que todos são importantes", disse o treinador. Para chegar à liderança do Brasileiro, a diretoria não cometeu loucuras financeiras. A folha salarial do clube é de R$ 850 mil. O meia Ramon é o maior salário. Ele recebe cerca de R$ 100 mil.
No Fluminense, o presidente Roberto Hórcades também preferiu a política de ""pés no chão". Em 2004, o time investiu alto -Romário, Edmundo e Roger- e o resultado foi pífio.
"Fizemos um planejamento bom no início do ano e o resultado está aparecendo agora", disse o dirigente, que fez questão de modificar o modelo de patrocínio com a Unimed. Em 2004, a empresa escolhia e contratava os jogadores, o que não acontece mais. Os nomes dos novos jogadores são debatidos entre os dirigentes do clube e da empresa. A folha salarial é pouco maior que a do Botafogo, cerca de R$ 1 milhão.
No Flamengo, o técnico gaúcho Celso Roth faz treinos com o rigor de uma partida oficial, prática bem diferente da vivida pelo clube no ano passado, quando tinha Athirson e Felipe.
Revigorado, o Rio aprendeu a defender, ponto em que sempre foi débil. O Botafogo tem a melhor defesa. Flamengo e Fluminense aparecem em segundo lugar nesse ranking.
Nas 34 edições anteriores do Nacional, só 3 tiveram um time carioca com a meta menos vazada. O futebol paulista teve a melhor defesa em 21 Brasileiros.
Os times do Rio estão em alta com elencos recheados de forasteiros. Prova disso está na lista de artilheiros do quarteto até agora.
Dos 22 gols marcados pelos cariocas na competição (sem contar os dois do Vasco que foram anulados no tapetão), 21, ou 95%, foram feitos por jogadores nascidos em outros Estados.
Cada equipe tem um "perfil geográfico" diferente.
No líder Fluminense, quem manda são os paulistas. Dos nove gols da equipe, oito tiveram como autores atletas de São Paulo, incluindo os três de Tuta, maior goleador do time até o momento.
Já o Flamengo tem o Nordeste como única fonte de gols. Os quatro tentos da equipe até agora tiveram essa origem -o mais bonito deles foi feito pelo baiano Obina na vitória de anteontem, de virada, sobre o Santos.
Para completar, o palco principal do renascimento carioca não é o estádio que se confunde com seus clubes. Fechado para reforma, o Maracanã vem sendo substituído, com sucesso, pelo Luso-Brasileiro e o Raulino de Oliveira.


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