São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAULO VINICIUS COELHO

Pago para ver


O público está ligado com o sucesso dos clubes de grande torcida. É necessário mostrar que ir ao estádio é bacana


RONALDO JOGOU para 29 mil pagantes contra o Fluminense, na quarta. Uma semana antes, o jogo contra o Atlético-PR, pelas oitavas da Copa do Brasil, recebeu 33 mil torcedores. Tudo para ver o Fenômeno. Em janeiro, o Corinthians foi campeão da Copa São Paulo, também contra o Atlético- -PR. A final tinha 34 mil pessoas.
Com Ronaldo no Pacaembu, a média de público do Corinthians é de 27 mil pagantes por partida, igualzinha à da campanha do título brasileiro de 2005. Em 2008, na Série A, a média do Flamengo foi de 40 mil por jogo, e a do Grêmio, sem estrelas, de 31 mil pagantes por partida -o Corinthians levava 23 mil na Série B. Não se discute que Ronaldo tem mais apelo do que Tevez, há quatro anos, e que o Pacaembu deveria estar bombando. Ou pelo menos recebendo mais gente do que o Olímpico, do Grêmio, recebia em 2008.
Fazer isso talvez seja mais uma missão para Luis Paulo Rosenberg, capaz de criar uma campanha do tipo "veja Ronaldo fazendo história". Quem vive em São Paulo tem obrigação de ver Ronaldo no estádio, mas... Mas ninguém tem a ideia de que ver o Fenômeno em ação é tão especial quanto assistir ao Cirque du Soleil, quando vem ao Brasil.
No futebol brasileiro, só uma pequena parcela dos clubes descobriu a bilheteria. São aqueles sem acesso a grandes contratos de patrocínio, como Inter e Grêmio, que apostam no sócio-torcedor para encher estádio. Outros, como Corinthians e Palmeiras, descobriram só a renda. Veja a diferença. Uma coisa é perceber que a bilheteria pode virar receita. Outra coisa é crescer o olho e aumentar o preço do ingresso para arrecadar mais. Contra o Fluminense, o ingresso do setor VIP do Pacaembu custava R$ 250. O público de 29 mil pagantes proporcionou renda de R$ 1,1 milhão. No Maracanã, 50 mil torcedores pagaram ingresso para ver Flamengo x Internacional. A renda foi de R$ 900 mil. O que vale mais? O estádio lotado ou o bolso cheio?
Os alemães descobriram o público. Cobram o ingresso mais barato das grandes ligas europeias e têm a maior média de espectadores do planeta -36 mil por jogo. Aqui, o Clube dos 13 jamais discutiu como criar mecanismos para aumentar o público. Há até um consenso, exposto por Mauro Holzmann, seu ex-diretor de marketing: "Entre o público e a renda, eu escolho a renda".
Na hora em que o Brasil traz de volta alguns de seus grandes jogadores, é preciso dinheiro para pagá-los. Mas é também a chance de encher os estádios, o que também é dinheiro. Como mostra a Alemanha. Em toda a história do futebol brasileiro, nenhum campeonato teve mais público do que o Brasileirão de 1983, com 22 mil pagantes, em média. Há dois anos, em 2007, o Brasileiro teve a melhor média em 20 anos. O crescimento e a queda de público têm a ver com o sucesso dos clubes de grande torcida. Quatro dos cinco Brasileiros com mais torcedores foram vencidos pelo Flamengo. Mas não pode ser só isso. É preciso convencer as pessoas de que ir ao estádio é um programa legal. Neste ano você pode ver o Corinthians, de Ronaldo, e o Flamengo, de Adriano. Tá a fim? Se não, o indício é o de que o Brasil vai perder a chance de levar mais gente ao estádio.
pvc@uol.com.br


Texto Anterior: Misto: Tite pensa em copa e escala reservas
Próximo Texto: Corintianos já se dividem entre sonho e certeza
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.