São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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BASQUETE
Auxiliar muda mentalidade da seleção feminina
Brasil busca mais eficiência defensiva

LUÍS CURRO
enviado especial a Havana

O técnico Antonio Carlos Barbosa, 54, da seleção brasileira feminina de basquete, que gosta de aliar velocidade e precisão, mantém até hoje a filosofia de jogo que tinha quando dirigiu a seleção adulta pela primeira vez, em 1976.
Só que hoje, 23 anos depois, ele pretende acrescentar eficiência defensiva à sua mentalidade historicamente ofensiva.
Para isso, decidiu trocar seu auxiliar técnico por alguém que pode ser considerado sua cara-metade -ou o Barbosa da defesa.
Neste ano, para o Sul-Americano (já vencido pelo Brasil), para o Pré-Olímpico (em andamento) e para o Pan-Americano (em julho), Barbosa decidiu abrir mão de Aylton Bueno e trabalhar com o brasiliense Paulo Bassul, 31.
Em entrevista à Folha, em Cuba, local do Pré-Olímpico, torneio que oferece para os três primeiros colocados vaga para Sydney-2000, Bassul afirmou acreditar ser a pessoa ideal para auxiliar Barbosa.
"Já tivemos experiências muito positivas em seleções juvenis, nas quais conquistamos um Pan-Americano e fomos quarto em um Mundial", declara ele, que sempre treinou categorias menores. Uma única vez, no ano passado, dirigiu um time adulto -a Ulbra (RS).
Bassul admira a capacidade de Barbosa de potencializar a equipe no ataque (""ele tem uma percepção monstruosa do que a equipe pode explorar ali") e tenta, com suas variações defensivas, desafiar o treinador da seleção.
"Você quer uma oportunidade melhor do que essa para um cara que gosta de trabalhar a defesa? Enfrentar em treinos um outro que está tentando quebrar o seu esquema o tempo inteiro?", perguntou.
Nessa "brincadeira", de um tentar levar vantagem sobre o outro, Bassul afirma que quem sai ganhando são as atletas da seleção.
""Faço as jogadoras botarem a cabeça para funcionar", diz Bassul, apreciador da marcação pressão individual quadra toda ("faço as jogadoras correrem muito") e da tática "matchup" (lê-se métiãp), um misto de marcação por zona e individual.
Segundo o assistente da seleção, a "matchup" é um tipo de defesa que não pode ser usado em qualquer equipe, mas que no time brasileiro se encaixa perfeitamente.
"Qual é a filosofia da "matchup'? Ela assume a forma que o outro time joga. Tem que ler o ataque. Você precisa contar com jogadoras rápidas e inteligentes, uma das características do nosso grupo."
"Não adianta decorar posicionamentos, como em uma marcação por zona normal. A cada mudança ofensiva do adversário, a defesa também tem uma mudança imediata. Isso se consegue com treinamento", acrescenta.
"O ataque adversário se confunde, pois tem momentos em que a "matchup" parece individual e tem outros em que parece zona."
As jogadoras, por enquanto, sentem um pouco de dificuldade para se adaptar a esse esquema. ""Ele (Bassul) gosta de colocar números nas jogadas da defesa. Tem que estar concentrada para acertar", diz a ala-armadora Silvinha.
Colocar no papel as variações da "matchup" é muito difícil, diz Bassul, pois se trata de raciocinar rapidamente de acordo com a movimentação do oponente.
Mas dá um exemplo prático do sucesso da "matchup": foi utilizado, assegura, na vitória contra os EUA que deu o título do Pan-Americano à seleção brasileira juvenil, em 97, em Cancún (México).
E finaliza lembrando que essa tática defensiva não é inovadora, mas usada por vário times e seleções no mundo. Das equipes brasileiras, citou a masculina da Tilibra/Bauru, do técnico Guerrinha, como executora da "matchup".


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