São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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Querem poluir a camisa da "Azzurra"

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

São Paulo e Lusa fizeram no Canindé um clássico que fez jus à boa campanha dos dois times no Paulistão.
Foi um jogo tecnicamente bem jogado, com pouca violência, raros chutões e muitas variações de jogadas.
O São Paulo mostrou-se mais uma vez uma equipe versátil e veloz, que gosta mais de jogar nos contra-ataques (como no primeiro tempo) do que sufocando o adversário (como no início do segundo).
É o melhor time do campeonato porque conta com o chamado "material humano" (Serginho, Raí e Marcelinho estão jogando por música) e com um treinador ousado e clarividente.
Que outro técnico teria hoje em dia a audácia de trocar um zagueiro por um atacante logo no início do segundo tempo -e com o jogo empatado-, como fez Carpegiani ontem?
Tem-se falado muito do invejável banco de reservas do Palmeiras, mas o do São Paulo, hoje, não fica muito atrás.
Basta pensar em Warley, Dodô, Alexandre, Edu.
Só na defesa é que a carestia aperta.
A Lusa também merece felicitações. Desfalcada, improvisada, manca, sem jogadores de finalização, mesmo assim enfrentou o São Paulo de igual para igual.
Parabéns sobretudo ao volante Simão, que defende e ataca com a mesma eficiência e desenvoltura.
E parabéns também para Alexandre, que quase fez um maravilhoso gol de letra no finalzinho da partida.

Vai ser bonita a disputa pelo segundo lugar do Grupo 3 -e, portanto, pela classificação às semifinais-, entre Palmeiras e Lusa. Tudo indica que a definição só acontecerá no confronto entre as duas equipes, no próximo domingo. Sai de baixo.
O alviverde, depois de duas batalhas árduas no meio da semana, contra o Corinthians e o Flamengo, mostrou sua força ontem goleando a Inter de Limeira com um time misto. Haja pernas e haja coração.
Já que o dia hoje é de felicitações, parabéns a Raí, não só porque anteontem completou 34 anos, mas também porque, apesar de ainda não ter reconquistado plenamente a forma física, joga um futebol cada vez mais depurado e sutil, que ajuda o time e enche os olhos de quem gosta de ver a bola rolando redonda pelo gramado.
Podem me chamar de antiquado, romântico e o escambau (aliás, só pode ser antiquado e romântico quem usa a palavra "escambau"), mas considero deprimente a notícia de que a seleção italiana poderá ostentar em sua camisa a marca de um patrocinador.
A "Azzurra", três vezes campeã do mundo, não é apenas um patrimônio da nação italiana, mas de todos os aficionados do futebol pelo mundo afora.
Poluir esse símbolo de todo um povo e sua cultura com uma marca de automóvel, queijo ou xampu é um triste sinal destes nossos tempos de "topa tudo por dinheiro".
Como toda idéia de jerico, essa tende a se alastrar. Já imaginaram a "Celeste" (Uruguai), a "Fúria" (Espanha), a "Laranja Mecânica" (Holanda) e a "Canarinho" cheias de penduricalhos publicitários? O pior é que tem quem goste.


E-mail: jgcouto@uol.com.br

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