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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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BASQUETE

Gigantes do ringue

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Algumas partidas rejeitam eufemismos. Beiraram realmente o insuportável, tamanha a lentidão e a incapacidade dos times de botar a bola na cesta.
Basta conferir a lista dos recordes históricos, nem um pouco lisonjeiros, que San Antonio Spurs x New Jersey Nets emplacou ao longo do mata-mata decisivo:
* menos pontos de uma equipe numa metade de jogo (Nets, 30);
* menos pontos de duas equipes numa metade de jogo (63);
* menos pontos de uma equipe num segundo quarto (Nets, 9);
* menos pontos de uma equipe num terceiro quarto (Nets, 11);
* pior aproveitamento nos arremessos de uma equipe numa partida -desde 1955, quando foi implantado o cronômetro de 24 segundos (Spurs, 28,9%).
Nos Nets, constatou-se que Richard Jefferson só sabe contra-atacar, que Kenyon Martin sofre de labirintite quando está longe da tabela, que Dikembe Mutombo é um ex-jogador em atividade.
Nos Spurs, que Tony Parker pipoca em situações extremas, que Stephen Jackson sofre de labirintite sempre que está com a bola, que Manu Ginóbili calibra arremessos como se ainda trabalhasse no "sistema métrico" europeu.
Ainda assim, com todos os senões, as finais da NBA ofereceram uma aula de basquete a quem teve a paciência de acompanhá-las.
Um dos principais fundamentos do esporte é a visão de quadra, a capacidade de lidar com as cartas que o adversário leva à mesa.
Foi nesses ajustes, qual um pugilista técnico e bem preparado, que o San Antonio deu um banho durante todos os playoffs.
Contra o pesado Los Angeles Lakers, por exemplo, optou por pisar no acelerador, abusar do jogo de transição. Mas, contra o veloz New Jersey, preferiu bater bola e iniciar o ataque no garrafão.
À marcação individual da equipe californiana, reagiu com penetrações e bandejas. À zona estática do Dallas Mavericks, com corta-luzes e chutes certeiros de longa distância. À defesa mista do New Jersey, com tudo mesclado.
No sistema defensivo, convidou o Dallas a infiltrar, os Lakers e o New Jersey a arremessar de longe.
Prova da capacidade de entender o jogo, de assimilar golpes e seguir firme no combate, os texanos não perderam três vezes seguidas em mais de cem rodadas.
Sua obstinação pelo raciocínio ficou evidente à medida que a temporada avançava. O técnico Gregg Popovich, por exemplo, aumentou em 40% o tempo de jogo do cerebral Ginóbili nos playoffs.
Mas o grande trunfo do time foi a parelha de pivôs de mais de 2,10 m. O veterano David Robinson e o fabuloso Tim Duncan, tão inteligentes quanto musculosos, garantiram maleabilidade tática.
Com enterradas e jumps, com rebotes e um recorde de tocos, Duncan espanou os últimos tolos que ainda faziam reservas a seu jogo, "pela falta de carisma".
Ok, Kobe Bryant, Allen Iverson, Tracy McGrady etc dão um verniz diferente à quadra, mais colorido. Mas Duncan, como o coelho da pilha que dura, como o tenista Pete Sampras ou o subestimado pugilista Larry Holmes, provou definitivamente que o esporte é mais do que estilo. Bem mais.

Título 1
A pontaria de Steve Kerr, 37, salvou o San Antonio justamente nas partidas mais difíceis. No seu quinto título, o figurante virou herói.

Título 2
O final da dinastia dos Lakers mexeu com os brios (e a cintura) de Shaquille O'Neal. O pivô acaba de contratar um "personal trainer" para perder 20 kg dos 160 kg que arrastou diante dos Spurs.

Título 3
Como estive em viagem, não pude ver (ainda) os últimos jogos das finais do Brasileiro masculino. Mas ouço que elas premiaram o time mais equilibrado, o Ribeirão Preto. E que, de certo modo, legitimaram a escolha do técnico Lula para tentar tirar a seleção da draga.

E-mail melk@uol.com.br


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