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BASQUETE
Gigantes do ringue
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Algumas partidas rejeitam
eufemismos. Beiraram realmente o insuportável, tamanha a
lentidão e a incapacidade dos times de botar a bola na cesta.
Basta conferir a lista dos recordes históricos, nem um pouco lisonjeiros, que San Antonio Spurs
x New Jersey Nets emplacou ao
longo do mata-mata decisivo:
* menos pontos de uma equipe
numa metade de jogo (Nets, 30);
* menos pontos de duas equipes
numa metade de jogo (63);
* menos pontos de uma equipe
num segundo quarto (Nets, 9);
* menos pontos de uma equipe
num terceiro quarto (Nets, 11);
* pior aproveitamento nos arremessos de uma equipe numa partida -desde 1955, quando foi implantado o cronômetro de 24 segundos (Spurs, 28,9%).
Nos Nets, constatou-se que Richard Jefferson só sabe contra-atacar, que Kenyon Martin sofre
de labirintite quando está longe
da tabela, que Dikembe Mutombo é um ex-jogador em atividade.
Nos Spurs, que Tony Parker pipoca em situações extremas, que
Stephen Jackson sofre de labirintite sempre que está com a bola,
que Manu Ginóbili calibra arremessos como se ainda trabalhasse
no "sistema métrico" europeu.
Ainda assim, com todos os senões, as finais da NBA ofereceram
uma aula de basquete a quem teve a paciência de acompanhá-las.
Um dos principais fundamentos
do esporte é a visão de quadra, a
capacidade de lidar com as cartas
que o adversário leva à mesa.
Foi nesses ajustes, qual um pugilista técnico e bem preparado,
que o San Antonio deu um banho
durante todos os playoffs.
Contra o pesado Los Angeles
Lakers, por exemplo, optou por
pisar no acelerador, abusar do jogo de transição. Mas, contra o veloz New Jersey, preferiu bater bola
e iniciar o ataque no garrafão.
À marcação individual da equipe californiana, reagiu com penetrações e bandejas. À zona estática do Dallas Mavericks, com corta-luzes e chutes certeiros de longa distância. À defesa mista do
New Jersey, com tudo mesclado.
No sistema defensivo, convidou
o Dallas a infiltrar, os Lakers e o
New Jersey a arremessar de longe.
Prova da capacidade de entender o jogo, de assimilar golpes e
seguir firme no combate, os texanos não perderam três vezes seguidas em mais de cem rodadas.
Sua obstinação pelo raciocínio
ficou evidente à medida que a
temporada avançava. O técnico
Gregg Popovich, por exemplo, aumentou em 40% o tempo de jogo
do cerebral Ginóbili nos playoffs.
Mas o grande trunfo do time foi
a parelha de pivôs de mais de 2,10
m. O veterano David Robinson e
o fabuloso Tim Duncan, tão inteligentes quanto musculosos, garantiram maleabilidade tática.
Com enterradas e jumps, com
rebotes e um recorde de tocos,
Duncan espanou os últimos tolos
que ainda faziam reservas a seu
jogo, "pela falta de carisma".
Ok, Kobe Bryant, Allen Iverson,
Tracy McGrady etc dão um verniz diferente à quadra, mais colorido. Mas Duncan, como o coelho
da pilha que dura, como o tenista
Pete Sampras ou o subestimado
pugilista Larry Holmes, provou
definitivamente que o esporte é
mais do que estilo. Bem mais.
Título 1
A pontaria de Steve Kerr, 37, salvou o San Antonio justamente nas
partidas mais difíceis. No seu quinto título, o figurante virou herói.
Título 2
O final da dinastia dos Lakers mexeu com os brios (e a cintura) de
Shaquille O'Neal. O pivô acaba de contratar um "personal trainer"
para perder 20 kg dos 160 kg que arrastou diante dos Spurs.
Título 3
Como estive em viagem, não pude ver (ainda) os últimos jogos das finais do Brasileiro masculino. Mas ouço que elas premiaram o time
mais equilibrado, o Ribeirão Preto. E que, de certo modo, legitimaram a escolha do técnico Lula para tentar tirar a seleção da draga.
E-mail melk@uol.com.br
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