São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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BASQUETE
Alessandra diz que não é robô e abandona a versão feminina da liga profissional norte-americana
Estresse faz brasileira deixar a WNBA

LUÍS CURRO
da Reportagem Local

Após uma temporada e meia de frustrações, a pivô Alessandra de Oliveira, 25, titular da seleção brasileira, abandonou a WNBA, a versão feminina da liga profissional norte-americana de basquete.
O Brasil segue representado na liga com a ala Janeth e com a ala-armadora Claudinha.
Alessandra, que chegou ontem ao Brasil, alegou estresse como principal razão de sua desistência da liga. Afirmou que está sem férias há dois anos e que precisa de um tempo para descansar.
Nesta temporada da WNBA, a pivô alcançou média de 3,9 pontos por partida. Ficou em quadra, em média, 17 minutos/jogo. No ano passado, também no Washington Mystics, perdeu muitos jogos devido a contusões.
Campeã mundial em 1994 e medalha de prata na Olimpíada de Atlanta-96, Alessandra é peça-chave no esquema do técnico Antonio Carlos Barbosa para levar o Brasil a mais uma medalha nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000.
Leia abaixo trechos da entrevista que ela cedeu à Folha, por telefone, de sua casa em Washington.

Folha - Qual a razão de sua saída da WNBA?
Alessandra de Oliveira -
Estou muito cansada. Desde 97, não tenho férias, não descanso. Isso foi acumulando, e minha cabeça, principalmente, e meu corpo não estavam me deixando jogar. Estou destruída, com estresse físico e mental. Se não estou bem, se estou no meu limite, tenho que parar. Não sou um robô.

Folha - Houve problemas de relacionamento na equipe?
Alessandra -
Não houve nada com a técnica ou com as companheiras. O problema sou eu. Pedi para ir embora.

Folha - E o que você planeja para o futuro?
Alessandra -
Assinei contrato de três anos com o Como (da Itália). O Europeu começa em setembro. Então, tenho que fazer uma pré-temporada para estar bem. Irei para a Itália no final de agosto. Até lá, fico no Brasil.

Folha - E há alguma chance de voltar à WNBA no ano que vem?
Alessandra -
Não. No ano que vem, não quero fazer três meses de loucura e não conseguir andar na Olimpíada. A WNBA é uma liga de verão (dura três meses). Tenho que pensar na Olimpíada (em setembro), que é a coisa mais importante para mim.
O Brasil está renovado e precisa de uma boa preparação para chegar com um time forte. Hoje, todos os países jogam um basquete de alto nível. E tenho que representar bem meu país na Olimpíada, que é um evento que passa na TV em mais de 140 países. É meu nome que está em jogo. A WNBA quase ninguém vê. Quero treinar o quanto antes com a seleção, e isso influenciou muito na minha decisão de sair da WNBA.

Folha - Como foi sua experiência no basquete dos EUA?
Alessandra -
Jogar nos EUA é como jogar em qualquer outro lugar. Mas eles deveriam usar melhor as estrangeiras. Há muito potencial desperdiçado. Você joga pouco, senti isso. Às vezes, o time está perdendo, e você fica assistindo do banco. Isso me deixou aborrecida. E não há jogadas específicas para que as estrangeiras sejam bem aproveitadas.

Folha - Você está arrependida de ter aceitado jogar nos EUA?
Alessandra -
Foi uma experiência. E uma experiência, boa ou ruim, é sempre uma lição de vida.

Folha - O que fará no Brasil?
Alessandra -
Vou a Santa Bárbara (SP), quero ver meu irmão e minha cachorra Cléo Cristina. Comer uma feijoada. Depois, fazer coisas banais, como andar perto de uma cachoeira, talvez no parque de Ibitipoca (MG).


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