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análise
Sucesso de Phelps dá lição a professores
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Diagnosticado como portador de déficit de atenção, o
recordista de natação Michael Phelps foi desenganado profissionalmente quando era criança. Uma professora disse à sua mãe que ele
não era capaz de se concentrar em nada. Não tinha, portanto, futuro. Nem remotamente poderia passar na cabeça da professora a futura
habilidade do garoto em se
concentrar em centésimos
de segundo, batendo recordes sem parar. Recordes que
são resultados de uma rígida
disciplina. Fora das piscinas,
Phelps dá uma boa lição aos
professores.
Existe, de fato, um transtorno neurológico que produz dificuldade de atenção.
Digo isso porque eu também
fui diagnosticado, em exames psiquiátricos, com esse
distúrbio, associado a ansiedade e hiperatividade. Hoje
sei que esse é um dos fatores
que me levaram a trabalhar
com educação. Como jornalista, sou desafiado a agarrar
a atenção do leitor; a educação tem o desafio de agarrar a
atenção do aluno.
Atualmente, há uma epidemia de medicamentos para enfrentar esse tipo de déficit. Nada contra remédios,
desde que acompanhados de
terapias. Mas Phelps mostra
que, muitas vezes, a escola é
parte do problema, e não da
solução. Quando o jovem
descobre sua vocação e isso
significa também descobrir
um prazer, ele desenvolve
também habilidades de concentração. Pessoas com distúrbio de atenção também
apresentam momentos de
hiperconcentração.
Deixar um menino com toda aquela energia trancado
numa sala de aula, obrigado a
decorar coisas que não lhe
fazem sentido (e não fazem
para muita gente), é como
deixar um peixe fora d'água.
O problema é que a criança
"desenganada" acaba sofrendo de baixa auto-estima.
Quase ninguém acredita em
seu potencial. Nem ela própria. Cria-se assim um círculo vicioso que acaba por comprovar o desengano.
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