São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2000 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NATAÇÃO Sprint final de estreante garante bronze ao Brasil
ROBERTO DIAS ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY Edvaldo Valério da Silva Filho pulou na piscina de Sydney ao lado do australiano Ian Thorpe, que acabara de ganhar ouro nos 400 m rasos, e do norte-americano Gary Hall Jr., dono de dois ouros e duas pratas olímpicas. Estreante nos Jogos Olímpicos, Valério Bala, como é conhecido, havia sido escolhido para fechar a equipe brasileira no revezamento 4 x 100 m livre, numa tentativa de aproveitar seu sprint no final da prova -e de proporcionar menos turbulência a Gustavo Borges, o segundo a cair na água. Deu certo. Quando o nadador baiano caiu na piscina, a equipe brasileira ocupava o quarto lugar. Nos primeiros 50 m de sua participação, Valério chegou a cair para sexto. Mas arrancou na piscina final para dar ao Brasil a medalha de bronze, a primeira do país nos Jogos de Sydney. Nas eliminatórias, pela manhã, o último a nadar pela equipe brasileira fora Borges, e não Valério. Como a classificação era dada como certa, a comissão técnica optara pelo conservadorismo, ainda mais depois que a Holanda, principal concorrente pelo bronze, fora desclassificada por queimar a passagem do revezamento. "Voltamos e falamos para eles segurarem na hora de pular para não corrermos risco", afirmou Sergio Silva, técnico de Valério. Na final, a ousadia na hora de pular na água pesou a favor da equipe brasileira. Somados os tempos de reação dos quatro nadadores, o Brasil perdeu 1s19. Austrália, a primeira colocada, e EUA, segundo, perderam 1s52. Ontem, com Fernando Scherer largando, os brasileiros começaram mal a prova. Ele passou a vez a Borges com a equipe ocupando o quinto lugar. Agora recordista nacional em medalhas (quatro, leia abaixo), Borges fez o melhor tempo entre os quatro (48s61) e avançou para a quarta posição, mantida por Carlos Jayme. Mas foi justamente o único integrante da equipe a não treinar nos EUA quem conseguiu colocar o país no pódio. "Quando eu bati o braço, não queria nem saber o tempo que fiz", declarou Valério, primeiro nadador negro do Brasil a disputar uma Olimpíada. Na chamada "zona mista", onde os atletas dão entrevistas após as provas, a multidão de jornalistas que esperava ver o sorriso australiano acabou assistindo a uma invasão dos demais nadadores brasileiros, que quiseram se antecipar na comemoração. "Eu sabia, eu sabia", repetia o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes, enquanto abraçava Carlos Arthur Nuzman, do comitê olímpico nacional. O presidente FHC também cumprimentou a equipe. Mandou telegrama que dizia: "Vocês fizeram o Brasil começar a comemorar mais cedo. Parabéns, Fernando Henrique Cardoso". Com a colocação de ontem, a natação brasileira chega a sua terceira Olimpíada consecutiva de conquistas. Havia obtido uma medalha em Barcelona-92, com a prata nos 100 m livre de Borges, e três em Atlanta-96, com a prata nos 200 m livre e o bronze nos 100 m livre de Borges e o bronze nos 50 m livre de Scherer. Para Sydney, porém, a equipe brasileira enxergava um horizonte um pouco mais complicado, por dois motivos. As provas do nado livre, especialidade nacional, estavam mais concorridas do que nunca, com a ascensão dos australianos. E havia um problema para o revezamento 4 x 100 m livre, onde os brasileiros depositavam suas esperanças: Fernando Scherer. Com uma torção no tornozelo direito em agosto e ainda fora de forma, ele não nadou bem na eliminatória. Numa reunião à tarde, antes da final, os três outros integrantes da equipe fizeram-lhe um pedido: "Melhore". Nem assim Scherer rendeu o esperado. "O pessoal superou minhas dificuldades", disse ele. O tempo que garantiu o bronze (3min17s40) é inferior, por exemplo, ao obtido pela equipe brasileira quando conquistou o ouro no revezamento 4 x 100 m livre no Pan-Americano de Winnipeg, no ano passado (3min17s18). Texto Anterior: Folha Sydney 2000 Que homens! Próximo Texto: Frase Índice |
|