São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Deuses do futebol: Urucubaco

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas entre o céu dos deuses e a terra do futebol do que sonha a nossa vã crônica esportiva.
Determinadas situações do jogo e certas fases pelas quais os times passam não são, como pensam alguns, obra do acaso. Ao contrário, são uma manifestação da vontade de seres superiores, seres que controlam a nossa vida desde o dia em que o Caos gerou a Noite.
Explico melhor: é que, querendo entender a confusa situação pela qual passa o Palmeiras, fui até o oráculo dos oráculos, Zé Cabala, e perguntei a ele como se poderia explicar tanta concentração de má sorte num mesmo time.
- Isso, meu rapaz, só pode ser explicado pela Teogonia.
- Não seria teologia?
- Não, é teogonia mesmo, aquele negócio que explica o surgimento dos deuses.
Juntei minhas sobrancelhas e armei um bico com os lábios para mostrar que não tinha entendido nada. Temendo que eu mantivesse aquela expressão por muito mais tempo, Zé Cabala tratou de iluminar as trevas da minha ignorância.
Ele, então, explicou-me que certo dia, enquanto passeava pela Terra, Júpiter apaixonou-se por uma princesa tebana de nome Semele. E logo conheceu-a melhor (no sentido bíblico da palavra).
Essa infidelidade gerou a profunda irritação da mulher de Júpiter, Juno, que provocou um incêndio para destruir a rival.
Antes de morrer, porém, Júpiter conseguiu salvar os gêmeos que Semele tinha concebido. E, para concluir o período de gestação, ele os enxertou em suas coxas.
Ao que nasceu da coxa direita chamou Baco, e ao que nasceu da coxa esquerda, Urucubaco.
A vida de Baco, o deus do vinho, já é bastante conhecida. Mas poucos conhecem a história de seu irmão, o terrível Urucubaco.
Enquanto Baco era o favorito do pai, recebendo mimos e carinhos, Urucubaco era esquecido até nos aniversários. "Eu nunca lembro o dia em que você nasceu", dizia Júpiter, enquanto presenteava o outro gêmeo.
Este desprezo fez com que Urucubaco jurasse espalhar sua infelicidade até o fim dos tempos.
Para não ser reconhecido, Urucubaco, assim como seu pai, assume formas diversas e, segundo Zé Cabala, atualmente está transformado num dos muitos quero-queros que vivem a passear pelos gramados do CT da Barra Funda.
Só a maldição desse deus azarado pode explicar a atual má fase do Palmeiras, porque não há lógica capaz de explicar a sucessão de azares pelas quais o time tem passado neste ano de 2002.
Só para lembrar, o alviverde foi eliminado da Copa do Brasil pelo ASA, de Arapiraca; deixou de disputar a decisão do Rio-São Paulo por causa dos inúmeros cartões amarelos; perdeu na semifinal da Copa dos Campeões para o modesto Paysandu e, na rodada desse final de semana, tomou um gol do Bahia no finzinho do segundo tempo do jogo.
Intrigado, perguntei a Zé Cabala qual seria a solução para o infortúnio alviverde. Depois de consultar os canhotos de sua folha de cheques (onde ele diz ler o futuro, mas, principalmente, o passado), Zé Cabala afirmou que Urucubaco se acalmaria com algumas oferendas.
- Que tipo de oferendas, perguntei a ele.
- Ora, meu caro, o problema do Verdão pode ser curado com umas simples verdinhas. Diga ao Levir para me procurar.

Urucubaco 2
O deus da má sorte também pode ser visto em outros lugares. Hélio Castro Neves viu-o bem de perto na última prova da IRL. Só que transformado num carro amarelo.

Especialidade
Jair Picerni está se especializando em recuperar jogadores medianos para formar um conjunto eficiente. Ele daria um ótimo restaurador.

Reviravolta
Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco vamos ver a torcida corintiana gritando: "Ei, ei, ei, o Doni é o nosso rei!"

Obrigado!
Vendo a má fase de seus volantes e vendo Magrão, Claudecir, Fernando e até Galeano fazendo boas partidas, a torcida palestrina deve estar rogando mil pragas em um certo técnico que ganha R$ 150 mil por mês e dirige um time de Belo Horizonte.

E-mail torero@uol.com.br



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