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FUTEBOL
Deuses do futebol: Urucubaco
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas entre o
céu dos deuses e a terra do futebol
do que sonha a nossa vã crônica
esportiva.
Determinadas situações do jogo
e certas fases pelas quais os times
passam não são, como pensam alguns, obra do acaso. Ao contrário,
são uma manifestação da vontade de seres superiores, seres que
controlam a nossa vida desde o
dia em que o Caos gerou a Noite.
Explico melhor: é que, querendo
entender a confusa situação pela
qual passa o Palmeiras, fui até o
oráculo dos oráculos, Zé Cabala, e
perguntei a ele como se poderia
explicar tanta concentração de
má sorte num mesmo time.
- Isso, meu rapaz, só pode ser
explicado pela Teogonia.
- Não seria teologia?
- Não, é teogonia mesmo,
aquele negócio que explica o surgimento dos deuses.
Juntei minhas sobrancelhas e
armei um bico com os lábios para
mostrar que não tinha entendido
nada. Temendo que eu mantivesse aquela expressão por muito
mais tempo, Zé Cabala tratou de
iluminar as trevas da minha ignorância.
Ele, então, explicou-me que certo dia, enquanto passeava pela
Terra, Júpiter apaixonou-se por
uma princesa tebana de nome Semele. E logo conheceu-a melhor
(no sentido bíblico da palavra).
Essa infidelidade gerou a profunda irritação da mulher de Júpiter, Juno, que provocou um incêndio para destruir a rival.
Antes de morrer, porém, Júpiter
conseguiu salvar os gêmeos que
Semele tinha concebido. E, para
concluir o período de gestação, ele
os enxertou em suas coxas.
Ao que nasceu da coxa direita
chamou Baco, e ao que nasceu da
coxa esquerda, Urucubaco.
A vida de Baco, o deus do vinho,
já é bastante conhecida. Mas poucos conhecem a história de seu irmão, o terrível Urucubaco.
Enquanto Baco era o favorito
do pai, recebendo mimos e carinhos, Urucubaco era esquecido
até nos aniversários. "Eu nunca
lembro o dia em que você nasceu", dizia Júpiter, enquanto presenteava o outro gêmeo.
Este desprezo fez com que Urucubaco jurasse espalhar sua infelicidade até o fim dos tempos.
Para não ser reconhecido, Urucubaco, assim como seu pai, assume formas diversas e, segundo Zé
Cabala, atualmente está transformado num dos muitos quero-queros que vivem a passear pelos
gramados do CT da Barra Funda.
Só a maldição desse deus azarado pode explicar a atual má fase
do Palmeiras, porque não há lógica capaz de explicar a sucessão de
azares pelas quais o time tem passado neste ano de 2002.
Só para lembrar, o alviverde foi
eliminado da Copa do Brasil pelo
ASA, de Arapiraca; deixou de disputar a decisão do Rio-São Paulo
por causa dos inúmeros cartões
amarelos; perdeu na semifinal da
Copa dos Campeões para o modesto Paysandu e, na rodada desse final de semana, tomou um gol
do Bahia no finzinho do segundo
tempo do jogo.
Intrigado, perguntei a Zé Cabala qual seria a solução para o infortúnio alviverde. Depois de consultar os canhotos de sua folha de
cheques (onde ele diz ler o futuro,
mas, principalmente, o passado),
Zé Cabala afirmou que Urucubaco se acalmaria com algumas oferendas.
- Que tipo de oferendas, perguntei a ele.
- Ora, meu caro, o problema
do Verdão pode ser curado com
umas simples verdinhas. Diga ao
Levir para me procurar.
Urucubaco 2
O deus da má sorte também
pode ser visto em outros lugares. Hélio Castro Neves
viu-o bem de perto na última
prova da IRL. Só que transformado num carro amarelo.
Especialidade
Jair Picerni está se especializando em recuperar jogadores medianos para formar
um conjunto eficiente. Ele
daria um ótimo restaurador.
Reviravolta
Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco vamos ver a torcida corintiana gritando: "Ei,
ei, ei, o Doni é o nosso rei!"
Obrigado!
Vendo a má fase de seus volantes e vendo Magrão, Claudecir, Fernando e até Galeano
fazendo boas partidas, a torcida palestrina deve estar rogando mil pragas em um certo técnico que ganha R$ 150
mil por mês e dirige um time
de Belo Horizonte.
E-mail torero@uol.com.br
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