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BASQUETE
Indygência
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Em entrevista ao "Estado
de S.Paulo", Hélio Rubens
identificou o responsável pelos
embaraços da seleção masculina
em Indianápolis: "Não adianta os
jogadores treinarem errado durante 11 meses no Brasil, e eu tentar consertar com um mês".
Correto. Falta, das categorias de
base às divisões de elite, trabalho
tático e técnico de ponta no país.
O mercado nacional vive por
um único, e rasteiro, objetivo.
Na molecada, a prioridade deveria ser o ensino, lúdico, de fundamentos e leitura de jogo.
Mas vale a pressão desmedida,
de pais e cartolas, por resultados.
É comum, por exemplo, o garoto
alto ser empurrado para a função
de pivô a despeito de suas habilidades e, pasme, seu potencial biotípico. A maioria desiste, ou tem
que se readaptar uma vez adulto.
Nos profissionais, deveria haver
a busca incansável pelo aperfeiçoamento, por um sistema de jogo
competitivo, capaz de otimizar as
qualidades e ocultar as deficiências do atleta brasileiro.
Prevalece, contudo, o "marketing tático": ajunta-se um grupo
de estrelas de brilho doméstico,
que, sem oponentes e sem compromisso com o futuro, trabalha
para coletar títulos (o Ajax, de
Goiânia, é a bola da vez, anote).
O dia-a-dia logra o desavisado,
ademais entorpecido pelo discurso adoçado da TV. Fala-se que o
basquete brasileiro evoluiu, que
está pronto para se reerguer.
Mas a ilusão se despedaça, a cada quatro anos, nos Mundiais.
Na verdade, o Brasil emburrece
nas quadras, alheio ao que se faz
de melhor no mundo.
Viu-se em Indianápolis uma
equipe acomodada, que não fez
uma única boa atuação e que só
fugiu das últimas posições graças
a uma cesta salvadora (a de Marcelinho, diante dos turcos, ou a de
Rogério, dos angolanos, escolha).
O Brasil, por exemplo, foi o
campeão de violações de relógio
no ataque -aquela situação em
que o time "morre" com a bola
nas mãos depois de 24 segundos,
sinal inequívoco de esterilidade.
Foi um fiasco nas coberturas de
defesa. E teve o pior rebote, em
números absolutos e percentuais
-no segundo "round", contra a
desmotivada Espanha, doidinha
para perder e fugir dos EUA nos
mata-matas, tomou de 44 x 18 na
guerra pela posse de bola.
Tão explícito no diagnóstico
anticlubístico, Hélio Rubens, por
elegância ou pressa, furtou-se de
nomear os bois ao "Estadão".
Mas, como as pistas são muito
claras, não é difícil descobrir.
Decerto o treinador não se referia aos que atuam(ram) sob seu
comando nos clubes: Rogério, Demétrius, Sandro Varejão e Helinho. Nem a Anderson e Leandrinho, cobras criadas na escola
"francana" -o último em Bauru,
onde também jogava Vanderlei.
Nem a Alex e Guilherme, atletas
de Lula, o assistente do técnico da
seleção, em Ribeirão Preto.
Suponho, por fim, que tampouco falasse dos jovens Tiago e
Baby, formados no exterior e
coadjuvantes em Indianápolis.
Chega-se, então, à conclusão de
que o dedo do técnico da seleção
incrimina Marcelinho, o único do
grupo, por exclusão, que treina
"errado" durante 11 meses.
É isso aí, gente, a culpa é do
Marcelinho. Culpa do cestinha,
que driblou, bateu para dentro,
ganhou no "um contra um", imitou os Bodirogas. Fora Marcelinho! Chispa! Xô! No Pré-Olímpico
de 2003, teremos Chuí de volta, as
jogadas numeradas vão "entrar",
e Helinho estará no auge.
Indygnação
Não engula o discurso de que o Mundial cobrou caro pela renovação. Os finalistas, Iugoslávia (27,6 anos) e Argentina (27,4), levaram a Indianápolis titulares tão jovens quanto os do Brasil (26,8). E
cada seleção levou a Indianápolis seis atletas de até 25 anos.
Indygestão
A equipe colheu, sim, os frutos da valorização das categorias de base e do intercâmbio de adultos. Mas, ao elogiar o desempenho da
seleção dos vizinhos, não ignore o que estruturalmente distingue
seu basquete do brasileiro: a existência de uma liga profissional,
autônoma em relação à confederação, que festejou 20 anos na semana em que os argentinos vibravam com o vice-campeonato.
Indyferença
Com atraso, minha seleção do Mundial: Ginóbili e Oberto (Argentina), Stojakovic e Bodiroga (Iugoslávia) e Nowitzki (Alemanha).
E-mail melk@uol.com.br
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