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FUTEBOL
A batalha de Itararé
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Itararé é o nome de um simpático município que fica no
sudoeste do Estado. Tem um clima ameno e 45 mil habitantes
que, provavelmente, sabem tudo
da vida uns dos outros.
Como boa parte das cidades
brasileiras, Itararé tem uma origem bonita: a vila surgiu como
ponto de parada dos bandeirantes que iam trucidar guaranis catequizados pelos jesuítas.
A cidade, como não podia deixar de ser, tem um time (equipe
que, este ano, não fez boa campanha no Campeonato Paulista da
Série B-2). Na sua chave, o Itararé
foi tão mal que só não ficou atrás
do Iracemapolense, de Iracemápolis, e do Elosport, que eu sinceramente não sei de onde é.
Itararé é também a insígnia
acoplada ao nome de Aparício
Torelly, editor do jornal "A Manha", grande pensador brasileiro
e autor de frases antológicas como "Pobre quando come frango,
um dos dois está doente" e "Dize-me com quem andas e te direi se
vou contigo".
Mas Itararé dá nome também a
uma grande batalha, a grande
batalha do movimento político de
1930, que colocaria frente a frente
as tropas simpáticas ao grupo revolucionário liderado por Getúlio
Vargas e os esquadrões fiéis ao
presidente Washington Luís.
A notícia desse confronto inevitável correu de boca em boca, foi
citada na imprensa e ajudou a
formar um tenebroso clima de
guerra civil. Soldados se dirigiam
para o front, mães rezavam por
seus filhos, crianças ficaram à beira da orfandade e mulheres anteviam os dias da viuvez.
Os dois exércitos marchavam
um ao encontro do outro e, pelos
cálculos dos estrategistas, a grande carnificina deveria acontecer
em Itararé. Quando o rio de sangue deveria começar a correr, no
entanto, intensos boatos começaram a chegar às trincheiras: eles
davam conta de que o movimento revolucionário ganhara a simpatia do povo, o presidente fora
deposto e as tropas leais ao governo estavam desertando. Diante
dos novos fatos, o exército pró-Washington Luís resolveu aderir
ao espírito do tempo.
Assim, o terrível, o tão anunciado confronto não aconteceu.
Tive uma sensação parecida
com a da Batalha de Itararé no
último sábado, quando fui à Vila
Belmiro assistir a Santos x Vasco.
Nos dias anteriores ao jogo, a
imprensa fez o que pôde para
criar um clima de duelo entre Romário e Edmundo. Era, afinal, a
chance de se levar alguma emoção a essa inacreditável chatice
chamada Copa João Havelange.
Por sorte também, havia bons
antecedentes do ponto de vista
promocional: os dois eram inimigos mortais, tinham contas a
acertar e fariam, do jogo, a ocasião para provar quem era o
maior. Nas tevês se usava e abusava de declarações antigas de
um contra o outro. Pavio curto e
incontinência verbal fazendo a
festa dos noticiários esportivos.
Sentei-me e esperei pelas grandes jogadas. Esperei, esperei e
acabei não vendo nada.
Romário esteve apagado, sonolento; jogou um futebol de burocrata; parecia que não via a hora
de ir para o chuveiro e pegar o
avião de volta. Edmundo até que
se esforçou, mas esteve longe dos
seus melhores dias. Como se isso
não bastasse, conseguiu errar dois
pênaltis. Guardadas as devidas
proporções é como se um soldado
errasse duas vezes o tiro na hora
de um fuzilamento.
No fim, a sensação era a de se
ter comprado gato por lebre. Não
houve duelo, não houve lances
antológicos e, em muitos momentos, não houve nem sequer um
bom jogo de futebol.
O Vasco tem, ao lado do Cruzeiro, o melhor esquadrão da atualidade, mas, principalmente do
meio-campo para trás, não chega
a empolgar. O Santos cresceu e,
em relação aos últimos jogos, até
que se saiu bem, porém continua
devendo regularidade e um futebol mais compatível com sua folha de pagamento.
Se der a lógica, os dois times estarão na próxima fase e aí terão
que mostrar mais equilíbrio e
apetite para vencer seus jogos. Se
se enfrentarem de novo, talvez tenhamos uma verdadeira batalha,
pois o que eu mais temo é que se
confirme uma das máximas do
Barão de Itararé, aquela que diz:
"De onde menos se espera é que
não sai nada mesmo".
E-mail torero@uol.com.br
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