São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

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PARAOLIMPÍADA
Evento, que tem a participação de 4.000 deficientes, leva em conta a Olimpíada e seus atletas
Comparação impulsiona início dos Jogos

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

O ministro australiano dos Jogos, Michael Knight, afirmou certa vez que o evento que organizava tinha duas partes distintas: a Olimpíada e a Paraolimpíada.
Na manhã de amanhã, a partir das 7h, começa a segunda parte do programa, com a cerimônia de abertura da Paraolimpíada de Sydney, a versão para atletas portadores de deficiência. O evento, que conta com 19 modalidades, prossegue até o dia 29 e terá a participação de 4.000 atletas.
Como as provas dos dois eventos ocorrem nos mesmos locais em um curto intervalo de tempo, a comparação entre Olimpíada e Paraolímpiada é inevitável, especialmente entre os organizadores.
A produtora da cerimônia de abertura da Paraolimpíada, Karen Richards, afirmou ter ficado assustada quando assistiu à similar olímpica no mês passado.
Afinal, segundo ela, seria necessário produzir algo que competisse com o evento com um orçamento muito menor.
Também é comum ouvir atletas paraolímpicos reclamando que estão mais bem ranqueados que vários olímpicos, mas que são muito menos reconhecidos.
O CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) tem uma postura dúbia. O presidente da entidade, João Batista de Carvalho e Silva, afirma que uma boa campanha em Sydney ganha ainda mais projeção aliada ao desempenho abaixo da expectativa dos olímpicos.
Já o psicólogo contratado pelo comitê para acompanhar a delegação, Dietmar Samulsk, afirma que não há como comparar os desempenhos. ""São diferentes condições e diferentes critérios utilizados", diz Samulsk, que evitou a comentar o trabalho do consultor Roberto Shinyashiki realizado para o Comitê Olímpico Brasileiro.
É nesse clima de comparação que o Brasil está na Austrália com uma delegação de 64 atletas.
É a maior equipe do país na história do evento, que começou a ser realizado em Roma-1960.
O Brasil estreou em Heidelberg-1972, na Alemanha. Em sete edições, o país obteve 78 medalhas.
A melhor participação aconteceu em Seul-1988, quando o Brasil esteve 27 vezes no pódio, sendo quatro delas no topo. Em Atlanta-1996, os atletas do país conseguiram 21 medalhas (dois ouros).
""Com certeza as medalhas virão e nos ajudarão a superar a marca de Atlanta, não só do total de medalhas, mas também as de ouro", disse o presidente do CPB.
As projeções do Brasil em Sydney, porém, sofreram um abalo na última semana, quando o nadador Luis Silva foi reclassificado em uma categoria mais forte. Ele era favorito a seis ouros - quatro em provas individuais. Em sua nova categoria, o recorde mundial de Silva nos 50 m livre não aparece nem entre as cinco melhores marcas.
Para o presidente do CPB, é necessário um bom resultado em Sydney para tentar diminuir a diferença que existe entre os atletas olímpicos e paraolímpicos.
O dirigente citou como exemplo o desempenho dos nadadores olímpicos e paraolímpicos em Atlanta-1996.
Gustavo Borges conquistou a prata nos 200 m livre e o de bronze nos 100 m livre, e Fernando Scherer ficou em terceiro nos 50 m livre. Também em Atlanta, José Afonso Medeiros, o Caco, venceu os 50 m livre na Paraolimpíada.
""As medalhas trouxeram reconhecimento e deram condições para eles (Borges e Scherer) treinarem", afirmou Silva.
Segundo o dirigente, Caco não teve o mesmo tratamento e dois anos depois, durante o Mundial da Nova Zelândia, não conseguiu resultados expressivos.
Para outros, contudo, o desporto paraolímpico proporcionou muito mais projeção.
Para explicar como o esporte alterou sua vida, Roseane dos Santos, que compete nas provas de lançamento (dardo e disco) e de arremesso (peso) do atletismo, disse ter ""adorado" o fato de ter a perna esquerda amputada.
""Foi a melhor coisa da minha vida. Se eu não tivesse amputado a perna, eu não estaria aqui em Sydney", disse a atleta, 28, que foi atropelada há cerca de dez anos.
Outro satisfeito com o desporto paraolímpico é Kléber Veríssimo, diretor técnico do CPB. ""Trabalhei com o futebol profissional. Se eu tivesse continuado na área, não seria o que sou hoje", disse ele, que foi técnico do time campeão mundial de futebol para amputados em 99 -a modalidade não integra os Jogos Paraolímpicos.


O jornalista Fernando Itokazu viaja a convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro


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