|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PARAOLIMPÍADA
Evento, que tem a participação de 4.000 deficientes, leva em conta a Olimpíada e seus atletas
Comparação impulsiona início dos Jogos
FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY
O ministro australiano dos Jogos, Michael Knight, afirmou certa vez que o evento que organizava tinha duas partes distintas: a
Olimpíada e a Paraolimpíada.
Na manhã de amanhã, a partir
das 7h, começa a segunda parte
do programa, com a cerimônia de
abertura da Paraolimpíada de
Sydney, a versão para atletas portadores de deficiência. O evento,
que conta com 19 modalidades,
prossegue até o dia 29 e terá a participação de 4.000 atletas.
Como as provas dos dois eventos ocorrem nos mesmos locais
em um curto intervalo de tempo,
a comparação entre Olimpíada e
Paraolímpiada é inevitável, especialmente entre os organizadores.
A produtora da cerimônia de
abertura da Paraolimpíada, Karen Richards, afirmou ter ficado
assustada quando assistiu à similar olímpica no mês passado.
Afinal, segundo ela, seria necessário produzir algo que competisse com o evento com um orçamento muito menor.
Também é comum ouvir atletas
paraolímpicos reclamando que
estão mais bem ranqueados que
vários olímpicos, mas que são
muito menos reconhecidos.
O CPB (Comitê Paraolímpico
Brasileiro) tem uma postura dúbia. O presidente da entidade,
João Batista de Carvalho e Silva,
afirma que uma boa campanha
em Sydney ganha ainda mais projeção aliada ao desempenho abaixo da expectativa dos olímpicos.
Já o psicólogo contratado pelo
comitê para acompanhar a delegação, Dietmar Samulsk, afirma
que não há como comparar os desempenhos. ""São diferentes condições e diferentes critérios utilizados", diz Samulsk, que evitou a
comentar o trabalho do consultor
Roberto Shinyashiki realizado para o Comitê Olímpico Brasileiro.
É nesse clima de comparação
que o Brasil está na Austrália com
uma delegação de 64 atletas.
É a maior equipe do país na história do evento, que começou a
ser realizado em Roma-1960.
O Brasil estreou em Heidelberg-1972, na Alemanha. Em sete edições, o país obteve 78 medalhas.
A melhor participação aconteceu em Seul-1988, quando o Brasil
esteve 27 vezes no pódio, sendo
quatro delas no topo. Em Atlanta-1996, os atletas do país conseguiram 21 medalhas (dois ouros).
""Com certeza as medalhas virão
e nos ajudarão a superar a marca
de Atlanta, não só do total de medalhas, mas também as de ouro",
disse o presidente do CPB.
As projeções do Brasil em
Sydney, porém, sofreram um
abalo na última semana, quando
o nadador Luis Silva foi reclassificado em uma categoria mais forte. Ele era favorito a seis ouros -
quatro em provas individuais. Em
sua nova categoria, o recorde
mundial de Silva nos 50 m livre
não aparece nem entre as cinco
melhores marcas.
Para o presidente do CPB, é necessário um bom resultado em
Sydney para tentar diminuir a diferença que existe entre os atletas
olímpicos e paraolímpicos.
O dirigente citou como exemplo
o desempenho dos nadadores
olímpicos e paraolímpicos em
Atlanta-1996.
Gustavo Borges conquistou a
prata nos 200 m livre e o de bronze nos 100 m livre, e Fernando
Scherer ficou em terceiro nos 50
m livre. Também em Atlanta, José
Afonso Medeiros, o Caco, venceu
os 50 m livre na Paraolimpíada.
""As medalhas trouxeram reconhecimento e deram condições
para eles (Borges e Scherer) treinarem", afirmou Silva.
Segundo o dirigente, Caco não
teve o mesmo tratamento e dois
anos depois, durante o Mundial
da Nova Zelândia, não conseguiu
resultados expressivos.
Para outros, contudo, o desporto paraolímpico proporcionou
muito mais projeção.
Para explicar como o esporte alterou sua vida, Roseane dos Santos, que compete nas provas de
lançamento (dardo e disco) e de
arremesso (peso) do atletismo,
disse ter ""adorado" o fato de ter a
perna esquerda amputada.
""Foi a melhor coisa da minha
vida. Se eu não tivesse amputado
a perna, eu não estaria aqui em
Sydney", disse a atleta, 28, que foi
atropelada há cerca de dez anos.
Outro satisfeito com o desporto
paraolímpico é Kléber Veríssimo,
diretor técnico do CPB. ""Trabalhei com o futebol profissional. Se
eu tivesse continuado na área, não
seria o que sou hoje", disse ele,
que foi técnico do time campeão
mundial de futebol para amputados em 99 -a modalidade não
integra os Jogos Paraolímpicos.
O jornalista Fernando Itokazu viaja a
convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro
Texto Anterior: Futebol - José Roberto Torero: A batalha de Itararé Próximo Texto: Atletismo terá várias finais dos 100 m rasos Índice
|