São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2001

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MOTOR

Apenas piloto

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Bicampeão da Indy, Gil de Ferran voltou ao país nesta semana para lembrar o bananal que é sim o melhor piloto brasileiro da atualidade. Analistas sabem disso, parte da mídia também, o problema é o público.
E Gil não liga. "Meu trabalho não é ser ídolo, é vencer corridas. Não estou insatisfeito com a imagem que tenho no Brasil", disse em entrevista, após gastar seu primeiro dia em São Paulo para reencontrar os velhos amigos da Lapa, bairro da zona oeste paulistana onde se criou -segundo consta, bebedeira histórica.
Gil não liga e não faz força também. Acha que o público deve avaliá-lo pelo que faz na pista, não pelo que diz ou deixa de dizer. E ele diz mais, muito mais que qualquer outro. Compará-lo a Barrichello, por exemplo, é covardia. A verborragia adolescente do ferrarista, que só tem espaço na grande mídia porque corre na categoria transmitida pela Globo, não se compara ao discurso compacto mas pertinente do ex-colega de Europa, que um dia foi obrigado -não há outro termo- a optar pela Indy.
Em 94, enquanto Barrichello se alimentava da súbita notoriedade de ser o herdeiro de Senna, Gil disputava a F-3000 com brilho limitado -todos o consideravam bom, mas nem tanto para lhe dar uma vaga decente na F-1.
Para o ano seguinte, sua opção era alugar um cockpit nas nanicas da época ou se mandar para a Indy, que começava a se abrir definitivamente para o mercado brasileiro. Gil chegou a ouvir algumas promessas de Bernie Ecclestone, mas achou que seria melhor tentar a sorte na América -parecia saber que um sujeito com seu perfil seria presa fácil em um paddock infestado por predadores de diversos portes.
Só que o tal perfil lhe rendeu alguns anos difíceis também na Indy. Preso afetivamente a uma equipe pequena, viveu de resultados esporádicos até a transferência para um time grande, a Penske. O lado "piloto só serve para correr" que tanto preza finalmente apareceu. O bicampeonato, enfim, foi uma consequência.
Gil é de fato o melhor piloto brasileiro da atualidade, mas de uma matiz bem diferente da qual o público se acostumou. Não é brilhante ou heróico como seus antepassados esportivos (mais precisamente, da percepção que hoje em dia se faz desses), é apenas bom piloto, um Hakkinen se há necessidade de comparação.
Em carro ruim, será um esforçado. Em carro bom, campeão.
Bem diferente de Barrichello, que se divide entre o espetacular e o espetaculoso, elegantemente poupado pelo amigo: "Tem muito talento, sensibilidade. E a sorte e o azar de andar ao lado de Schumacher. O problema é que ele tem o melhor carro do mundo, mas o melhor piloto do mundo também tem esse melhor carro."
Gil pagou e ainda deve pagar muito por uma draconiana opção profissional, a de resumir seu papel à pista, algo que poderia ser considerado até mesmo uma limitação imposta por sua personalidade. E por mais que a mídia ignore isso, é fato que seus resultados, pelo menos no aspecto esportivo, parecerão sempre mais puros, sólidos, genuínos.
Claro, dentro de uma categoria mal administrada e que não ganha cobertura da maior emissora de TV, sua trajetória continuará sendo acompanhada por poucos.
Mas se nem ele liga para isso, o que se há de fazer?

Bom enquanto durou
Christian Fittipaldi avaliou como "adorável" sua estréia na Nascar, no último sábado, em Homestead, apesar do acidente que lhe tirou da corrida em sua metade. Christian deu uma rodada espetacular na volta 106, após toque de rival (a imagem do acidente está disponível no www.nascar.com). Pela participação, o brasileiro, o primeiro a correr na valorizada stock car americana, ganhou US$ 13.300. Sobre uma eventual transferência, por enquanto, nada.

Macau
O paulista João Paulo de Oliveira será o único representante brasileiro na 48ª edição do GP de Macau de F-3, que acontece na madrugada de amanhã na ex-colônia portuguesa. Com o mesmo Dallara-Opel que utilizou no campeonato alemão deste ano (uma vitória na temporada), Oliveira obteve o 17º posto no grid. Tido como favorito, o japonês Takuma Sato, campeão inglês e com vaga na Jordan em 2002, largará em segundo, atrás do sueco Bjorn Wirdheim.

E-mail: mariante@uol.com.br


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