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MOTOR
Apenas piloto
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Bicampeão da Indy, Gil de
Ferran voltou ao país nesta
semana para lembrar o bananal
que é sim o melhor piloto brasileiro da atualidade. Analistas sabem disso, parte da mídia também, o problema é o público.
E Gil não liga. "Meu trabalho
não é ser ídolo, é vencer corridas.
Não estou insatisfeito com a imagem que tenho no Brasil", disse
em entrevista, após gastar seu primeiro dia em São Paulo para
reencontrar os velhos amigos da
Lapa, bairro da zona oeste paulistana onde se criou -segundo
consta, bebedeira histórica.
Gil não liga e não faz força também. Acha que o público deve
avaliá-lo pelo que faz na pista,
não pelo que diz ou deixa de dizer. E ele diz mais, muito mais
que qualquer outro. Compará-lo
a Barrichello, por exemplo, é covardia. A verborragia adolescente
do ferrarista, que só tem espaço
na grande mídia porque corre na
categoria transmitida pela Globo,
não se compara ao discurso compacto mas pertinente do ex-colega de Europa, que um dia foi
obrigado -não há outro termo- a optar pela Indy.
Em 94, enquanto Barrichello se
alimentava da súbita notoriedade de ser o herdeiro de Senna, Gil
disputava a F-3000 com brilho limitado -todos o consideravam
bom, mas nem tanto para lhe dar
uma vaga decente na F-1.
Para o ano seguinte, sua opção
era alugar um cockpit nas nanicas da época ou se mandar para a
Indy, que começava a se abrir definitivamente para o mercado
brasileiro. Gil chegou a ouvir algumas promessas de Bernie Ecclestone, mas achou que seria melhor tentar a sorte na América
-parecia saber que um sujeito
com seu perfil seria presa fácil em
um paddock infestado por predadores de diversos portes.
Só que o tal perfil lhe rendeu alguns anos difíceis também na
Indy. Preso afetivamente a uma
equipe pequena, viveu de resultados esporádicos até a transferência para um time grande, a Penske. O lado "piloto só serve para
correr" que tanto preza finalmente apareceu. O bicampeonato, enfim, foi uma consequência.
Gil é de fato o melhor piloto
brasileiro da atualidade, mas de
uma matiz bem diferente da qual
o público se acostumou. Não é
brilhante ou heróico como seus
antepassados esportivos (mais
precisamente, da percepção que
hoje em dia se faz desses), é apenas bom piloto, um Hakkinen se
há necessidade de comparação.
Em carro ruim, será um esforçado. Em carro bom, campeão.
Bem diferente de Barrichello,
que se divide entre o espetacular e
o espetaculoso, elegantemente
poupado pelo amigo: "Tem muito
talento, sensibilidade. E a sorte e
o azar de andar ao lado de Schumacher. O problema é que ele tem
o melhor carro do mundo, mas o
melhor piloto do mundo também
tem esse melhor carro."
Gil pagou e ainda deve pagar
muito por uma draconiana opção
profissional, a de resumir seu papel à pista, algo que poderia ser
considerado até mesmo uma limitação imposta por sua personalidade. E por mais que a mídia
ignore isso, é fato que seus resultados, pelo menos no aspecto esportivo, parecerão sempre mais
puros, sólidos, genuínos.
Claro, dentro de uma categoria
mal administrada e que não ganha cobertura da maior emissora
de TV, sua trajetória continuará
sendo acompanhada por poucos.
Mas se nem ele liga para isso, o
que se há de fazer?
Bom enquanto durou
Christian Fittipaldi avaliou como "adorável" sua estréia na Nascar,
no último sábado, em Homestead, apesar do acidente que lhe tirou
da corrida em sua metade. Christian deu uma rodada espetacular
na volta 106, após toque de rival (a imagem do acidente está disponível no www.nascar.com). Pela participação, o brasileiro, o primeiro a correr na valorizada stock car americana, ganhou US$
13.300. Sobre uma eventual transferência, por enquanto, nada.
Macau
O paulista João Paulo de Oliveira será o único representante brasileiro na 48ª edição do GP de Macau de F-3, que acontece na madrugada de amanhã na ex-colônia portuguesa. Com o mesmo Dallara-Opel que utilizou no campeonato alemão deste ano (uma vitória
na temporada), Oliveira obteve o 17º posto no grid. Tido como favorito, o japonês Takuma Sato, campeão inglês e com vaga na Jordan em 2002, largará em segundo, atrás do sueco Bjorn Wirdheim.
E-mail: mariante@uol.com.br
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