São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2004

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Seleção defende o 1º lugar e ataca as eliminatórias

Equipe aproveita desgaste da viagem a Quito, onde enfrenta o Equador e a altitude, para criticar sistema de disputa do torneio que tem Argentina em sua cola

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A GUAYAQUIL

Para quem quer acabar com as intermináveis eliminatórias sul-americanas, o jogo de hoje do Brasil, às 19h, em Quito, contra o Equador, é pura munição.
Nenhuma partida será um fardo tão pesado para a seleção na sua trajetória para a Copa da Alemanha, em 2006, como esta.
A altitude de 2.850 m da capital equatoriana, a mais longa viagem e o menor tempo de preparação e descanso das 18 rodadas do classificatório e até a falta da tradicional passagem pela terra natal para os "europeus" irritam bastante comissão técnica e jogadores, que soltam de forma enfática críticas contra as eliminatórias.
"Nunca vi uma competição com dois anos e meio. Acho isso um despropósito e um desgaste muito grande. A Fifa e a Conmebol precisam rever isso aí", diz o técnico Carlos Alberto Parreira, que levou sua equipe para Guayaquil, no nível do mar, para fugir da altitude de Quito, para onde a seleção só viaja hoje pela manhã.
"É um jogo complicado. Já discutimos isso [altitude e calendário] há muito tempo, e ninguém vai fez nada para melhorar. A gente só é questionado sobre isso quando vem jogar aqui", afirma, irritado, o capitão Cafu.
"Deu uma melhorada [em relação ao classificatório para 2002]. Mas esse jogo contra o Equador é uma exceção. Joguei no domingo. Saí de casa às 6h da manhã da Alemanha e cheguei ao Equador às 2h do horário alemão", queixa-se o zagueiro Roque Júnior, que aproveita para fazer um alerta aos cartolas e críticos. "Isso vale como um lembrete para todo mundo que não é fácil jogar assim."
Até Kaká, que prefere evitar polêmicas, solta o verbo contra o jogo de hoje. "Partidas como essa, com um dia de viagem e meia hora de treino, mostram que uma eliminatória mais curta vai melhorar o rendimento dos jogadores", afirma o atleta do Milan.
A Conmebol já decretou o fim das eliminatórias com o formato atual. As novas regras, no entanto, não estão definidas, mas nenhuma equipe deve fazer mais do que dez partidas para carimbar seu passaporte para o Mundial.
Além das críticas, a seleção passou seu único dia inteiro no Equador discutindo como reverter as dificuldades de atuar na altitude. Jogando em cidades acima de 2.500 m nas eliminatórias, o Brasil tem, nos últimos dez anos, desempenho pior do que quase todos os adversários do continente -só é melhor que a Venezuela.
"Precisamos tocar a bola para evitar o desgaste e fazer com que o Equador se canse", afirma Ronaldo. "Chutar de longa distância é um bom caminho para marcar os gols", diz Kaká, que volta ao time depois de cumprir suspensão no empate sem abertura de placar contra a Colômbia, em Maceió.
Parreira faz mistério sobre o substituto de Zé Roberto, machucado, mas o mais provável é que entre Kléberson, titular do time pentacampeão e que treinou ontem na equipe A. "Tenho várias opções", afirma o técnico, citando Júlio Baptista, outro chamado por ter bastante fôlego, e Ricardinho.
Na rodada de hoje, a seleção corre o risco de perder sua liderança. O time tem só um ponto a mais do que a Argentina, que recebe a medíocre Venezuela em Buenos Aires. Os quatro primeiros sul-americanos vão diretamente para o Mundial alemão. O quinto colocado ainda tem a chance de vaga em uma repescagem contra um time da Oceania.
"Seria importante terminarmos na frente da Argentina", reconhece Ronaldo, artilheiro das eliminatórias, com nove gols, em uma pressão que a comissão técnica faz de tudo para afastar.
No primeiro encontro entre brasileiros e equatorianos neste classificatório para o Mundial, a seleção de Parreira teve dificuldades, mas levou a melhor e saiu de campo com os três pontos. O placar em Manaus, na segunda partida das equipes na competição, em setembro de 2003, foi magro: 1 a 0, gol marcado por Ronaldinho.
Depois da partida de hoje, o Brasil só volta a jogar pelas eliminatórias em março do próximo ano, quando irá receber o Peru.


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