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FUTEBOL
Futebol, negócio e paixão
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O profissionalismo iniciou no Brasil em 1933. Na
verdade, durante muito tempo o
futebol foi semiprofissional. O
verdadeiro profissionalismo ainda não começou.
Nos tempos antigos, o futebol
era mais divertido e criativo.
Uma brincadeira alegre e irresponsável. Os jogadores pouco treinavam e atuavam menos. Não
havia o amor à camisa, tão falado
hoje pelos saudosistas.
Hoje, o futebol é um grande negócio. Alguns poucos jogadores
ganham fortunas. Muitos ainda
comportam-se como amadores.
Reclamam de seus direitos, mas
não cumprem suas obrigações.
Os jogadores querem faturar
cada dia mais. Para isso, jogam
mais que o permitido por lei. Submetem-se aos desejos dos clubes.
O motivo alegado pelo Vasco, para não atuar contra o Cruzeiro
(mínimo de intervalo de 66 horas
entre as partidas) foi correto, mas
oportunista. Ninguém acredita
que a decisão foi espontânea e
partiu dos jogadores.
É a segunda vez que o sindicato
age a favor do Vasco.
Jogadores e sindicatos deveriam
aproveitar o momento e não jogar mais com intervalo menor de
66 horas. Isso obrigaria os clubes
a mudar o calendário.
Os torcedores conhecem os truques, malandragens de dirigentes
e jogadores. Não suportam ver os
dirigentes pisotearem o regulamento, nem os jogadores beijarem escudos de seus clubes, jurar
amor eterno e correr atrás de bolas perdidas. Querem autenticidade. Menos marketing. Mais
profissionalismo e bom futebol.
O torcedor não acredita na honestidade da maioria das pessoas
que trabalha no futebol. Tem razão. Houve tanta maracutaia,
que o futebol perdeu a credibilidade. Esse é um dos principais
motivos da ausência de público
nos estádios.
O torcedor está dividido. Sonha
com o romantismo e amadorismo
de outras épocas, mas sabe que se
não houver verdadeiro profissionalismo, o futebol não se organizará e não irá para frente.
Ao mesmo tempo, o público
brasileiro não está preparado para a transformação do futebol em
um negócio. Não é somente a razão que comanda a atividade humana. São também os códigos inconscientes de comportamento.
Não se mudam esses códigos por
decreto, quando se quer. É preciso
várias gerações para que a transformação seja assimilada e incorporada. Os empresários citam os
EUA como exemplo de profissionalismo. Não se pode comparar a
sociedade americana, com longa
experiência de capitalismo e cidadania, com a atual brasileira.
Aqui, de um lado impera o capitalismo selvagem. De outro, o preconceito contra o lucro.
A sociedade brasileira vive um
momento anárquico. Perdeu as
referências éticas. Sua postura oscila entre o moralismo e a permissividade. O futebol reflete a sociedade. O esporte brasileiro está
mudando, assim como o país .
Lentamente, mas está. O governo
precisa acelerar as transformações. Estamos aprendendo ser cidadãos. Não dá mais para um ser
mais esperto que o outro. A maioria perde com isso.
Esta semana, comprei, pela primeira vez, meu remédio genérico.
Paguei metade do preço. Mais um
pequeno sinal de mudança. Por
outro lado, existem denúncias de
que o governo, em vez de distribuir remédios genéricos, compra
os comuns, da indústria farmacêutica. Será possível?
O modelo brasileiro, comum na
sociedade e no futebol, terá que
mudar. Ele é baseado na troca de
favores e na perpetuação de poder
entre amigos e parentes e na lei
do mais esperto. As CPIs e os Ministérios Públicos iniciaram as
mudanças. Esperava-se que o clube-empresa fosse a solução para o
futebol brasileiro. Não foi. Além
das mudanças na Lei Pelé, que
prejudicaram os investimentos,
os empresários não entendem de
futebol. Entendem de negócios.
Para um clube ser bem administrado, não é necessário, obrigatoriamente, se tornar empresa.
É preciso criar um calendário decente, trocar a instituição do passe por uma multa rescisória, pagar os profissionais de acordo
com as arrecadações, mudar a legislação, responsabilizar os dirigentes e contratar profissionais
executivos, de preferência com
história no esporte.
Os investidores não podem esquecer que o futebol, antes de ser
bom produto, é uma grande paixão. Essa, tem seus próprios caminhos.
Ontem jogaram Cruzeiro e Vasco. A primeira partida entre São
Caetano e Grêmio foi espetacular.
O time do ABC fez três gols e poderia ter feito seis. Adhemar fez
um golaço. O Grêmio, graças ao
talento individual do Ronaldinho, fez dois e poderia ter feito
quatro. O primeiro foi com a marca dos excepcionais jogadores.
Hoje, se o São Caetano mudar
suas características e jogar na defesa, perde. Caso contrário, o resultado é imprevisível.
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