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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Não arriscar é um risco

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Na final do Mundial interclubes, o Boca Juniors jogou o que sabe, e o Milan, como é frequente, atuou aquém do que poderia, pela qualidade de seus jogadores. O time italiano nunca arrisca. Enfrentou o Boca como se a equipe argentina fosse o Real Madrid. Não arriscar é também um risco.
Há muitos atletas na Europa que são muito mais valorizados do que merecem. Parte da imprensa brasileira repete o que eles dizem. Temos a mania de achar que tudo lá é melhor. Assistimos a poucos jogos e a muitos melhores momentos. São tantas partidas que não dá tempo. Por isso, já existem comentaristas especializados em melhores momentos.
No início de sua carreira, Seedorf impressionou e foi merecidamente elogiado. Depois, se tornou apenas um bom jogador. Contra o Boca, ele repetiu o seu confuso futebol. Às vezes, faz uma boa jogada e é chamado de craque. Deve ser por causa do seu estilo diferente, do seu nome bonito e de suas trancinhas.
Ao ver o Seedorf jogar, me lembrei do Djorkaeff. Logo após a Copa de 94, passei a acompanhar de perto o futebol e assisti a muitas partidas da seleção francesa. Na Europa e no Brasil, só se falava no Djorkaeff. Era o craque da seleção. Não entendia a razão. Era um jogador mediano. Deveria ser também por causa de seu bonito nome.
Enquanto isso, ao lado do Djorkaeff, havia um jogador alto, elegante, cabeludo, que tinha um perfeito domínio da bola com os dois pés e uma excepcional técnica. Quando a bola chegava a seus pés, o futebol se tornava simples, claro, belo e eficiente. Ele a tratava com tanto carinho que a bola, grata, corada e feliz, beijava os seus pés. Mas pouco se falava dele. O craque era o Djorkaeff.
Esse supercraque só poderia ser o Zidane, o melhor e mais fascinante jogador do mundo.

Melhores do Brasileiro
A pequena queda de qualidade e de público do primeiro Campeonato Brasileiro por pontos corridos, em relação ao anterior, não foi por causa da fórmula de disputa, mas sim pela falta de planejamento dos clubes e pela saída de muitos jogadores.
Quando os clubes se prepararem melhor, o campeonato tiver 20 times e jogos somente no final de semana, a competição será mais atraente. O meio de semana ficaria reservado para a Libertadores, a Copa do Brasil, a Sul-Americana e as partidas da seleção, em datas diferentes. Não se justifica os cinco classificados para a Libertadores não participarem da Copa do Brasil.
É difícil formar uma seleção do torneio. Há vários atletas do mesmo nível. Vou citar alguns e deixar outros de fora. Podem reclamar.
Velloso foi o goleiro mais decisivo para a campanha de sua equipe. Fez defesas sensacionais. Citaria ainda Rogério Ceni, Julio César, Gomes, Silvio Luiz e Fábio.
Na lateral direita, Maurinho e Cicinho foram os destaques. Cicinho deixa muitos espaços nas suas costas. O mesmo acontece com o excelente Léo na esquerda. No Cruzeiro, Maurinho e Leandro defendem e atacam com enorme eficiência.
Na zaga, Alex e Edu Dracena foram os melhores. Os dois devem ser titulares da seleção pré-olímpica. Além deles, Cris, Rodolfo e Dininho jogaram muito bem. Dos volantes, Maldonado e Renato foram os mais brilhantes, seguidos do Dudu e do Fábio Simplício. Maldonado jogou no meio-campo, e não como um terceiro zagueiro, como fazia no São Paulo. Ele mostrou que tem muito mais talento do que parecia.
Dos armadores mais ofensivos, Alex foi espetacular, o craque do campeonato. Diego, Daniel Carvalho, Tcheco e Elano também se destacaram. No ataque, escolho Robinho, Luis Fabiano e Araújo, além de Nilmar, Marcel, os artilheiros Dimba e Renaldo e Dagoberto, a revelação do torneio.
Formaria o time com Velloso, Maurinho, Alex, Edu Dracena e Leandro; Maldonado, Renato, Alex e Diego; Robinho e Luis Fabiano. Léo e Araújo entrariam em todos os jogos no segundo tempo. Robinho jogaria pela esquerda, de armador e atacante, fazendo dupla função e com liberdade de se movimentar por todo o campo. É assim que quero vê-lo na seleção principal, no lugar do Zé Roberto, que é um bom atleta.
Luxemburgo foi o melhor treinador. Leão e Tite confirmaram as suas qualidades. Dos novos, aponto Bonamigo, Rojas e, principalmente, Cuca. É preciso renovar dentro e fora de campo.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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