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Eleição no tênis inaugura temporada das oposições
Fortalecidas por dinheiro estatal, confederações vêem fim de chapa única e abrem disputa pelo poder
ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cofres abarrotados e crise de resultados fizeram das confederações brasileiras terreno fértil para
a germinação de um movimento
que havia anos não surgia: ameaça real ao poder nas entidades.
A eleição na Confederação Brasileira de Tênis inaugura hoje a
temporada das oposições.
Encabeçado por Jorge Lacerda
Rosa, o grupo que ajudou a derrubar o presidente Nelson Nastás
vai às urnas com o apoio da maioria das 25 federações e deve pôr
fim a um "reinado" de 12 anos.
Concorrem com ele José Farani,
dono da Academia de Tênis de
Brasília, que tem apoio do grupo
ligado a Nastás, e Hermenegildo
Grassi, tenista veterano.
Desde o fim do primeiro mandato, Nastás se manteve no cargo
com apoio da maioria. Nas duas
vezes, fez a assembléia eletiva com
mais de um ano de antecedência.
Irregularidades como esta ajudaram a incitar a oposição, que
divulgou denúncias sobre a má
administração da entidade.
Desde o advento da Lei Piva, em
2001, o esporte nunca teve tanto
dinheiro. Dirigir uma confederação hoje significa ter recursos garantidos e entrar na luta por verba
das estatais, que inflaram o apoio
ao esporte nos últimos anos.
Na CBT, a má administração
dos mais de R$ 2 milhões recebidos até 2004 provocaram a suspensão dos repasses da Lei Piva
após investigação do TCU.
Os problemas na entidade fizeram com que Nastás fosse afastado. Desde a semana passada, a
CBT é dirigida por administrador
designado pela Justiça, que comanda hoje a eleição em Brasília.
"Faltou controle das prestações
de contas. É muito dinheiro para
demorar três anos para começar a
se preocupar com ele. A primeira
coisa que vamos fazer é contratar
uma auditoria", afirma Rosa.
As disputas eleitorais não ficarão restrita às raquetes. O ciclismo é outro exemplo de como a
verba pública mudou as confederações. Modalidade que não conta com patrocinador, o esporte só
pôde realizar provas importantes
graças à polpuda verba das loterias -R$ 1.147.500 só em 2004.
"Fizemos a Volta do Paraná e a
Volta do Rio Grande do Sul com
recursos da Lei Piva. Ela também
financiou despesas nas Voltas de
São Paulo e do Rio", conta José
Luiz Vasconcellos, vice da CBC.
As provas valeram pontos para
o ranking da União Ciclística Internacional e colocaram a equipe
nacional nos Jogos de Atenas.
Candidato à reeleição, Bruno
Caloi enfrentará João Andrade,
diretor da Volta de Santa Catarina, única prova de estrada que
não teve verba das loterias neste
ano. O pleito será no Rio, no dia 7.
O basquete é outro esporte que
viu crescer a oposição. Dois candidatos já se lançaram para concorrer com Gerasime Bozikis, na
presidência da CBB há sete anos:
José Medalha e Hélio Barbosa.
Um dos focos de descontentamento é a seleção masculina, que
não foi às duas últimas Olimpíadas. Verba a entidade já obteve.
Em 2005, receberá R$ 1,8 milhão
pela Lei Piva e R$ 6 milhões da
Eletrobras para a seleção.
A inscrição das chapas será no
mês que vem. A disputa, em maio.
"Começamos bem. Já falei com 12
presidentes e tive boa receptividade às minhas idéias", diz Barbosa,
que se reuniu com dez delas no
domingo, em Brasília.
Esporte não-olímpico, o futsal
poderia ficar de fora dessa contabilidade, mas não deixou de contar com apoio do Estado. Neste
ano, a CBFS assinou contrato de
R$ 4 milhões com os Correios.
No Mundial de Taiwan, porém,
a seleção foi um fiasco: obteve só o
bronze, ficando fora da decisão da
competição pela primeira vez.
Na próxima eleição, o presidente Aécio Borba terá concorrência
pela primeira vez. Carlos Bittencourt, da atual diretoria, diz ter o
apoio de 19 federações.
"Só me candidatei porque ele
disse que não tentaria novo mandato. Ele está no poder há 25 anos.
Será a primeira eleição da história", argumenta Bittencourt.
A oposição no tênis também ganhou espaço com os maus resultados. Quando cresceu a ofensiva
contra Nastás, o grupo ganhou o
apoio dos principais tenistas do
país, que, liderados por Gustavo
Kuerten, boicotaram a Davis.
Os atletas afirmavam que só
voltariam à competição se Nastás
saísse. Com o dirigente, o Brasil
despencou para a terceira divisão.
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