São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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Eleição no tênis inaugura temporada das oposições

Fortalecidas por dinheiro estatal, confederações vêem fim de chapa única e abrem disputa pelo poder

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cofres abarrotados e crise de resultados fizeram das confederações brasileiras terreno fértil para a germinação de um movimento que havia anos não surgia: ameaça real ao poder nas entidades.
A eleição na Confederação Brasileira de Tênis inaugura hoje a temporada das oposições.
Encabeçado por Jorge Lacerda Rosa, o grupo que ajudou a derrubar o presidente Nelson Nastás vai às urnas com o apoio da maioria das 25 federações e deve pôr fim a um "reinado" de 12 anos.
Concorrem com ele José Farani, dono da Academia de Tênis de Brasília, que tem apoio do grupo ligado a Nastás, e Hermenegildo Grassi, tenista veterano.
Desde o fim do primeiro mandato, Nastás se manteve no cargo com apoio da maioria. Nas duas vezes, fez a assembléia eletiva com mais de um ano de antecedência.
Irregularidades como esta ajudaram a incitar a oposição, que divulgou denúncias sobre a má administração da entidade.
Desde o advento da Lei Piva, em 2001, o esporte nunca teve tanto dinheiro. Dirigir uma confederação hoje significa ter recursos garantidos e entrar na luta por verba das estatais, que inflaram o apoio ao esporte nos últimos anos.
Na CBT, a má administração dos mais de R$ 2 milhões recebidos até 2004 provocaram a suspensão dos repasses da Lei Piva após investigação do TCU.
Os problemas na entidade fizeram com que Nastás fosse afastado. Desde a semana passada, a CBT é dirigida por administrador designado pela Justiça, que comanda hoje a eleição em Brasília.
"Faltou controle das prestações de contas. É muito dinheiro para demorar três anos para começar a se preocupar com ele. A primeira coisa que vamos fazer é contratar uma auditoria", afirma Rosa.
As disputas eleitorais não ficarão restrita às raquetes. O ciclismo é outro exemplo de como a verba pública mudou as confederações. Modalidade que não conta com patrocinador, o esporte só pôde realizar provas importantes graças à polpuda verba das loterias -R$ 1.147.500 só em 2004.
"Fizemos a Volta do Paraná e a Volta do Rio Grande do Sul com recursos da Lei Piva. Ela também financiou despesas nas Voltas de São Paulo e do Rio", conta José Luiz Vasconcellos, vice da CBC.
As provas valeram pontos para o ranking da União Ciclística Internacional e colocaram a equipe nacional nos Jogos de Atenas.
Candidato à reeleição, Bruno Caloi enfrentará João Andrade, diretor da Volta de Santa Catarina, única prova de estrada que não teve verba das loterias neste ano. O pleito será no Rio, no dia 7.
O basquete é outro esporte que viu crescer a oposição. Dois candidatos já se lançaram para concorrer com Gerasime Bozikis, na presidência da CBB há sete anos: José Medalha e Hélio Barbosa.
Um dos focos de descontentamento é a seleção masculina, que não foi às duas últimas Olimpíadas. Verba a entidade já obteve. Em 2005, receberá R$ 1,8 milhão pela Lei Piva e R$ 6 milhões da Eletrobras para a seleção.
A inscrição das chapas será no mês que vem. A disputa, em maio. "Começamos bem. Já falei com 12 presidentes e tive boa receptividade às minhas idéias", diz Barbosa, que se reuniu com dez delas no domingo, em Brasília.
Esporte não-olímpico, o futsal poderia ficar de fora dessa contabilidade, mas não deixou de contar com apoio do Estado. Neste ano, a CBFS assinou contrato de R$ 4 milhões com os Correios.
No Mundial de Taiwan, porém, a seleção foi um fiasco: obteve só o bronze, ficando fora da decisão da competição pela primeira vez.
Na próxima eleição, o presidente Aécio Borba terá concorrência pela primeira vez. Carlos Bittencourt, da atual diretoria, diz ter o apoio de 19 federações.
"Só me candidatei porque ele disse que não tentaria novo mandato. Ele está no poder há 25 anos. Será a primeira eleição da história", argumenta Bittencourt.
A oposição no tênis também ganhou espaço com os maus resultados. Quando cresceu a ofensiva contra Nastás, o grupo ganhou o apoio dos principais tenistas do país, que, liderados por Gustavo Kuerten, boicotaram a Davis.
Os atletas afirmavam que só voltariam à competição se Nastás saísse. Com o dirigente, o Brasil despencou para a terceira divisão.


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