|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Revoluções
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A revolução anunciada
por Max Mosley na última
quarta-feira se baseia em duas linhas do regulamento, que dizem
o seguinte: o piloto deve conduzir
sozinho e sem ajuda. Era um daqueles itens chamados obrigatórios a qualquer livro de regras,
óbvios, filosóficos até. Agora mudou, ganhou força de lei.
É dele que sai quase tudo anunciado pelo presidente da FIA, da
proibição a toda e qualquer ajuda eletrônica à proibição do rádio
e da telemetria ativa. É esse item
que explica o único argumento/ameaça exposto pela FIA em
Heathrow, o de levar o regulamento às últimas consequências.
Sim, parece um alicerce muito
básico, pueril diante de tantos interesses. Mas não é possível ignorar que sua simplicidade se transforma em uma ferramenta de
grande pretensão. Mosley, como
bom advogado, fez a lição de casa
e foi além do que o público esperava, o que causou boa impressão
na mídia. Foi além, também, do
que os times esperavam. Muito
além. Tanto que quem se pronunciou a respeito nem foram eles, foram as montadoras, que rapidamente tiraram do freezer suas
discussões preferidas, a liga paralela em 2008 e a compra da grande fatia da Slec que está nas mãos
de bancos de investimentos.
Uma manobra coerente. Enquanto Mosley posa de paladino
da competitividade, as fábricas
escancaram que o problema é puramente uma disputa de poder.
Mas, como já disseram, ninguém
torce para a Fiat ou para a Renault. Ou seja, o público e a mídia
ficarão com o dirigente enquanto
a pirotecnia de suas determinações funcionarem. E muitas delas
devem causar algum efeito, a começar pelo fim do rádio.
A rigor, ele foi abolido para resguardar a proibição da telemetria. Um estudo qualquer do Grupo Técnico da FIA mostrou que o
dispositivo poderia ser usado para receber e enviar dados entre o
carro e os boxes, o que está, a partir de agora, vetado. Enfim, uma
boa justificativa para calar Ross
Brawn, estrategista das corridas
da Ferrari e das marmeladas.
Schumacher, claro, lembrou-se
da segurança, mas o argumento é
contestável, já que esse é o papel
dos fiscais de pista e até daquele
sujeito que segura o pit board, a
placa de sinalização utilizada pelos boxes (com o rádio, aliás, um
tanto quanto redundantes).
Além da telemetria -duro golpe para os grandes times, que já
tinham se acostumado a corrigir
problemas nos carros à distância-, o confinamento no Parque
Fechado entre treino e GP parece
particularmente interessante.
A medida foi tomada para impedir motores específicos para a
classificação, cruciais diante da
tentativa única que cada piloto
terá a partir deste ano. Mas fará
muito mais, obrigará os times que
perderem motores ou até mesmo
partes do carro a trabalhar nos
mesmos sob supervisão dos fiscais
e diante do público e dos concorrentes, algo impensável em uma
F-1 que conta com câmeras nos
boxes para coibir a espionagem.
Finalmente, parece excessivo
comentar o fim do controle de largada, do de tração e do câmbio
eletrônico, mesmo que ganhem
algum tipo de carência após as
equipes encherem a FIA com infindáveis relatórios e planilhas de
custo -vão dizer que vai gerar
mais gasto do que economia mudar tudo agora, a menos de dois
meses da abertura do Mundial.
Vão bater o pé. E vão parar no
instante que os fãs ligarem a TV.
Em crise
A FIA anunciou ontem que Jordan e Minardi vão levar US$ 32 milhões a mais da TV neste ano. Para salvar o pescoço das duas, justificou a entidade. O dinheiro era o quinhão da falida Arrows.
Sem crise
David Richards, o Ecclestone do Mundial de rali, afirmou que a categoria espera a adesão de duas novas montadoras até 2006 -já tem seis. E que está para confirmar duas novas etapas -favoritos são México e Japão-, além de reabilitar o rali da África. Audiência? Cresceu 12%, a ponto de, em 2002, pela primeira vez na história, o rali da Inglaterra ter superado o GP de F-1 local na TV.
Pretensão
Gustav Brunner, projetista da Toyota, disse que o time japonês espera chegar em quarto no Mundial deste ano. Não explicou como. No ano passado, fora o décimo, melhor apenas que a falida.
E-mail: mariante@uol.com.br
Texto Anterior: Vôlei: Superliga vê disputa pelo 1º lugar do turno Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Torcidas em movimento Índice
|