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São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 2003

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MOTOR

Revoluções

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A revolução anunciada por Max Mosley na última quarta-feira se baseia em duas linhas do regulamento, que dizem o seguinte: o piloto deve conduzir sozinho e sem ajuda. Era um daqueles itens chamados obrigatórios a qualquer livro de regras, óbvios, filosóficos até. Agora mudou, ganhou força de lei.
É dele que sai quase tudo anunciado pelo presidente da FIA, da proibição a toda e qualquer ajuda eletrônica à proibição do rádio e da telemetria ativa. É esse item que explica o único argumento/ameaça exposto pela FIA em Heathrow, o de levar o regulamento às últimas consequências.
Sim, parece um alicerce muito básico, pueril diante de tantos interesses. Mas não é possível ignorar que sua simplicidade se transforma em uma ferramenta de grande pretensão. Mosley, como bom advogado, fez a lição de casa e foi além do que o público esperava, o que causou boa impressão na mídia. Foi além, também, do que os times esperavam. Muito além. Tanto que quem se pronunciou a respeito nem foram eles, foram as montadoras, que rapidamente tiraram do freezer suas discussões preferidas, a liga paralela em 2008 e a compra da grande fatia da Slec que está nas mãos de bancos de investimentos.
Uma manobra coerente. Enquanto Mosley posa de paladino da competitividade, as fábricas escancaram que o problema é puramente uma disputa de poder. Mas, como já disseram, ninguém torce para a Fiat ou para a Renault. Ou seja, o público e a mídia ficarão com o dirigente enquanto a pirotecnia de suas determinações funcionarem. E muitas delas devem causar algum efeito, a começar pelo fim do rádio.
A rigor, ele foi abolido para resguardar a proibição da telemetria. Um estudo qualquer do Grupo Técnico da FIA mostrou que o dispositivo poderia ser usado para receber e enviar dados entre o carro e os boxes, o que está, a partir de agora, vetado. Enfim, uma boa justificativa para calar Ross Brawn, estrategista das corridas da Ferrari e das marmeladas.
Schumacher, claro, lembrou-se da segurança, mas o argumento é contestável, já que esse é o papel dos fiscais de pista e até daquele sujeito que segura o pit board, a placa de sinalização utilizada pelos boxes (com o rádio, aliás, um tanto quanto redundantes).
Além da telemetria -duro golpe para os grandes times, que já tinham se acostumado a corrigir problemas nos carros à distância-, o confinamento no Parque Fechado entre treino e GP parece particularmente interessante.
A medida foi tomada para impedir motores específicos para a classificação, cruciais diante da tentativa única que cada piloto terá a partir deste ano. Mas fará muito mais, obrigará os times que perderem motores ou até mesmo partes do carro a trabalhar nos mesmos sob supervisão dos fiscais e diante do público e dos concorrentes, algo impensável em uma F-1 que conta com câmeras nos boxes para coibir a espionagem.
Finalmente, parece excessivo comentar o fim do controle de largada, do de tração e do câmbio eletrônico, mesmo que ganhem algum tipo de carência após as equipes encherem a FIA com infindáveis relatórios e planilhas de custo -vão dizer que vai gerar mais gasto do que economia mudar tudo agora, a menos de dois meses da abertura do Mundial.
Vão bater o pé. E vão parar no instante que os fãs ligarem a TV.

Em crise
A FIA anunciou ontem que Jordan e Minardi vão levar US$ 32 milhões a mais da TV neste ano. Para salvar o pescoço das duas, justificou a entidade. O dinheiro era o quinhão da falida Arrows.

Sem crise
David Richards, o Ecclestone do Mundial de rali, afirmou que a categoria espera a adesão de duas novas montadoras até 2006 -já tem seis. E que está para confirmar duas novas etapas -favoritos são México e Japão-, além de reabilitar o rali da África. Audiência? Cresceu 12%, a ponto de, em 2002, pela primeira vez na história, o rali da Inglaterra ter superado o GP de F-1 local na TV.

Pretensão
Gustav Brunner, projetista da Toyota, disse que o time japonês espera chegar em quarto no Mundial deste ano. Não explicou como. No ano passado, fora o décimo, melhor apenas que a falida.

E-mail: mariante@uol.com.br


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