UOL


São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

Torcidas em movimento

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O historiador Boris Fausto, que se declara um corintiano entristecido com o rebaixamento do Palmeiras para a Série B, sugeriu nesta semana uma solução original para o caso.
Em artigo na página 2 da Folha, Fausto defendeu a idéia de que o Palmeiras deve ser extinto (não disputando portanto a Segundona) e, em seu lugar, deve ressurgir o Palestra, que seria convidado a disputar a Série A. Uma justa homenagem, segundo ele, a um glorioso clube redivivo.
Pode parecer apenas um modo retorcido e disfarçado de virar a mesa, mas não deixa de dar o que pensar.
Como se sabe, o Palestra Itália teve seu nome mudado para Palmeiras na época da Segunda Guerra, quando era grande a hostilidade a tudo o que fosse italiano ou alemão. Processo idêntico foi vivido pelo Cruzeiro, que também se chamava Palestra Itália.
Surgido como clube da comunidade italiana de São Paulo (assim como o Juventus da Mooca), ao longo de sua existência, o Palestra/Palmeiras conquistou aficionados de várias origens e etnias. Deixou de ser apenas dos "oriundi". Ao mesmo tempo, toda a população paulistana recebeu em alguma medida a influência da língua, da cultura, da afetividade e do humor italianos. Como diz, com certo exagero, o próprio Boris Fausto, todo paulista é meio italiano.
Nesse aspecto, São Paulo se assemelha à Argentina, onde os sobrenomes dos jogadores não deixam dúvidas quanto à sua ascendência: Maradona, Passarella, Tarantini, Canniggia, Bertoni, Dalessandro etc.
Mesmo tendo deixado de ser "o clube dos italianos", o Palmeiras não conquistou uma gama tão variada de torcedores quanto o Corinthians. Este abarca de nisseis a todos os matizes do negro, passando por descendentes de espanhóis, árabes, portugueses e não poucos italianos (o nome Citadini, por exemplo, vem de onde?).
O cineasta Ugo Giorgetti (de "Boleiros" e "O Príncipe"), palmeirense que anda às turras com seu time, chega a dizer que a torcida palmeirense ainda é muito homogênea e impermeável. "Praticamente não há negros", provoca, também com exagero, mas não sem um fundo de razão.
De todo modo, na ponta mais visível da torcida, que são as chamadas organizadas, uma comparação sumária diria que a massa do Corinthians é muito mais variada e, digamos, democrática que a do Palmeiras.
Talvez por isso as torcidas uniformizadas alvinegras -em particular a Gaviões da Fiel- tenham historicamente assumido um papel mais transformador, em contraste com um certo conservadorismo alviverde.
Repito: estou me referindo à parcela mais visível e ruidosa dos torcedores, o que não corresponde necessariamente à maioria, e muito menos a cada indivíduo. Trocando em miúdos: pode até ser que a maioria dos palmeirenses seja mais democrática e progressista que a maioria dos corintianos. E certamente há palmeirenses muito progressistas e corintianos muito conservadores.
A impressão que se tem, contudo, é que a massa corintiana, popular e heterogênea, tem uma influência mais direta sobre suas lideranças. A Gaviões, com todos os seus defeitos, é hoje mais que uma torcida: é uma autêntica organização social e cultural popular.
A Mancha Alviverde, salvo engano, ainda está longe disso.

Artilheiro na Baixada
Excelente notícia (menos para os torcedores lusos, é claro) a contratação de Ricardo Oliveira pelo Santos. O jovem goleador tem tudo para conquistar, no time santista, o destaque e a visibilidade que merece. Já escrevi aqui que considero Ricardo Oliveira um dos atacantes mais completos do futebol atual. Se não houver nenhum acidente de percurso, ele tem tudo para fazer história.

Fora de foco
A diretoria corintiana, que nos últimos anos manteve uma política bastante sensata de contratações, parece estar se atrapalhando neste início de ano. Por enquanto só contratou um zagueiro (Capone), um meia (Fumagalli), e está na iminência de trazer um atacante (Liédson). Nada contra eles, mas até os tijolos do Parque São Jorge sabem que a principal carência do time é um meia-armador.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Revoluções
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.