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FUTEBOL
Torcidas em movimento
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O historiador Boris Fausto, que se declara um corintiano entristecido com o rebaixamento do Palmeiras para a Série
B, sugeriu nesta semana uma solução original para o caso.
Em artigo na página 2 da Folha, Fausto defendeu a idéia de que o Palmeiras deve ser extinto
(não disputando portanto a Segundona) e, em seu lugar, deve
ressurgir o Palestra, que seria convidado a disputar a Série A. Uma justa homenagem, segundo ele, a
um glorioso clube redivivo.
Pode parecer apenas um modo
retorcido e disfarçado de virar a
mesa, mas não deixa de dar o que
pensar.
Como se sabe, o Palestra Itália
teve seu nome mudado para Palmeiras na época da Segunda
Guerra, quando era grande a hostilidade a tudo o que fosse italiano
ou alemão. Processo idêntico foi
vivido pelo Cruzeiro, que também
se chamava Palestra Itália.
Surgido como clube da comunidade italiana de São Paulo (assim
como o Juventus da Mooca), ao
longo de sua existência, o Palestra/Palmeiras conquistou aficionados de várias origens e etnias.
Deixou de ser apenas dos "oriundi". Ao mesmo tempo, toda a população paulistana recebeu em
alguma medida a influência da
língua, da cultura, da afetividade
e do humor italianos. Como diz,
com certo exagero, o próprio Boris Fausto, todo paulista é meio
italiano.
Nesse aspecto, São Paulo se assemelha à Argentina, onde os sobrenomes dos jogadores não deixam dúvidas quanto à sua ascendência: Maradona, Passarella,
Tarantini, Canniggia, Bertoni,
Dalessandro etc.
Mesmo tendo deixado de ser "o
clube dos italianos", o Palmeiras
não conquistou uma gama tão
variada de torcedores quanto o
Corinthians. Este abarca de nisseis a todos os matizes do negro,
passando por descendentes de espanhóis, árabes, portugueses e
não poucos italianos (o nome Citadini, por exemplo, vem de onde?).
O cineasta Ugo Giorgetti (de
"Boleiros" e "O Príncipe"), palmeirense que anda às turras com
seu time, chega a dizer que a torcida palmeirense ainda é muito
homogênea e impermeável. "Praticamente não há negros", provoca, também com exagero, mas
não sem um fundo de razão.
De todo modo, na ponta mais
visível da torcida, que são as chamadas organizadas, uma comparação sumária diria que a massa
do Corinthians é muito mais variada e, digamos, democrática
que a do Palmeiras.
Talvez por isso as torcidas uniformizadas alvinegras -em particular a Gaviões da Fiel- tenham historicamente assumido
um papel mais transformador,
em contraste com um certo conservadorismo alviverde.
Repito: estou me referindo à
parcela mais visível e ruidosa dos
torcedores, o que não corresponde
necessariamente à maioria, e
muito menos a cada indivíduo.
Trocando em miúdos: pode até
ser que a maioria dos palmeirenses seja mais democrática e progressista que a maioria dos corintianos. E certamente há palmeirenses muito progressistas e corintianos muito conservadores.
A impressão que se tem, contudo, é que a massa corintiana, popular e heterogênea, tem uma influência mais direta sobre suas lideranças. A Gaviões, com todos os
seus defeitos, é hoje mais que uma
torcida: é uma autêntica organização social e cultural popular.
A Mancha Alviverde, salvo engano, ainda está longe disso.
Artilheiro na Baixada
Excelente notícia (menos para os torcedores lusos, é claro) a contratação de Ricardo
Oliveira pelo Santos. O jovem
goleador tem tudo para conquistar, no time santista, o
destaque e a visibilidade que
merece. Já escrevi aqui que
considero Ricardo Oliveira
um dos atacantes mais completos do futebol atual. Se não
houver nenhum acidente de
percurso, ele tem tudo para
fazer história.
Fora de foco
A diretoria corintiana, que
nos últimos anos manteve
uma política bastante sensata
de contratações, parece estar
se atrapalhando neste início
de ano. Por enquanto só contratou um zagueiro (Capone), um meia (Fumagalli), e
está na iminência de trazer
um atacante (Liédson). Nada
contra eles, mas até os tijolos
do Parque São Jorge sabem
que a principal carência do time é um meia-armador.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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