São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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"Fominha", Bubka salta nos bastidores olímpicos

Aposentado e ainda recordista, cartola acumula cargos e sonha em comandar COI

Ex-atleta, que vê marca de 1994 perdurar até hoje, leva o esporte para o leste e é apontado a 11ª pessoa mais influente do olimpismo


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filho de pai militar, que repetia em casa a rigidez do Exército, Sergei Bubka descobriu o atletismo aos nove anos.
Em meio a centenas de crianças de um clube de salto com vara da ex-URSS, iniciou uma das mais impressionantes trajetórias do esporte mundial. Tão impressionante que hoje, quase oito anos após a aposentadoria, ele ainda é o recordista mundial de sua prova (6,14 m).
O atleta Bubka rodou o mundo, ganhou regalias de um regime severo, viu seu país se dividir e outro nascer. Por quase 20 anos foi ídolo, lenda, e é dono de feitos nunca superados.
Quando, enfim, aposentou-se, percebeu que não poderia mais ficar longe daquele mundo. E traçou uma meta.
Agora cartola, começa a ostentar o mesmo respeito dos tempos de saltador. Bubka, 44, foi eleito neste mês o 11º dirigente que mais influenciará o esporte mundial em 2008 pela publicação "Around the Rings", especializada em olimpismo.
"Esporte é a minha vida. É por isso que eu faço todos os esforços, uso todo meu conhecimento e minhas habilidades para promover seu desenvolvimento e resolver os problemas que eu enfrentei quando era atleta", afirmou Bubka à Folha.
A mesma obstinação de saltador, que superou 35 vezes o recorde mundial -18 delas em estádios cobertos-, conquistou seis Mundiais e um ouro olímpico, o ucraniano demonstra agora como cartola.
O dirigente foi figura-chave para a escolha da Ucrânia e da Polônia como sedes conjuntas da Eurocopa de 2012, badalado torneio entre as seleções de futebol do continente. E ajudou na vitoriosa campanha de Sochi (Rússia) à organização da Olimpíada de Inverno de 2014.
Bubka também preside o comitê olímpico de seu país, é executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI), lidera a comissão de atletas da entidade máxima do esporte e é vice-presidente sênior da federação internacional de atletismo.
A notoriedade de atleta aliada à habilidade para articulações políticas o transformaram em influente dirigente olímpico. Cotado até para ocupar a principal cadeira do COI.
"Sou jovem e preciso aprender. Não penso agora em ser presidente do COI, mas a vida muda a cada dia. Fico feliz em ser útil", disse Bubka.
Com o acúmulo de cargos, o ex-saltador afirma que descobriu a importância de fazer trabalho em equipe, situação bem distinta da que vivenciou quando era um competidor.
"A vida de dirigente é tão dura quanto a de atleta, mas quando eu competia, estava sozinho, no máximo precisava dos conselhos do meu técnico", afirmou o maior nome do esporte ucraniano em todos os tempos.
Como membro do COI, uma de suas missões é ajudar a supervisionar a organização dos Jogos de Pequim. Na associação de atletas, além de zelar pelos direitos dos que estão na ativa, comanda programa de apoio aos aposentados.
O ucraniano viveu de perto o auge esportivo da URSS e assistiu à sua queda. De repente, tinha nova pátria para defender.
Não à toa se empenhou tanto para levar dois dos mais importantes eventos do mundo para o leste. Tradição esportiva não falta à região, mas as condições financeiras não são mais as mesmas da ex-potência. Acredita que as competições possam ajudar a alavancar a economia de seu país de origem.
"Quando você se candidata para algo como uma Olimpíada, deve ter clareza sobre o que isso implica. A preparação é complexa e necessita de aeroportos, hotéis, estradas etc. É um grande erro achar que os Jogos são só estádios e centros esportivos. Isso pode ajudar a Ucrânia a incrementar seu desenvolvimento muito mais rápido", declarou o dirigente.
Nos Jogos de Atenas-2004, o país conquistou 23 medalhas, nove delas de ouro. Foi a 12ª delegação no quadro geral. O Brasil ficou em 16º lugar, com dez medalhas (cinco ouros).
Os sucessos das últimas empreitadas, porém, não aceleram os sonhos de Bubka. Olimpíada é meta só a longo prazo.
"É claro que é necessário se esforçar para ter a honra de receber um dos maiores eventos do mundo, mas isso deve ser feito de forma inteligente. Para a Ucrânia o primeiro passo é a Eurocopa de 2012", concluiu.


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