São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

A alma do negócio


Enquanto SP vê contratos milionários de patrocínio, times do Sul dão goleada ao centrarem foco no torcedor


OS CONSERVADORES , que amam as camisas de futebol limpas, sem patrocinadores, tiveram dois duros golpes na quinta--feira que passou. O primeiro, a renovação do contrato do São Paulo com a empresa coreana LG. O segundo, o anúncio de que a Samsung patrocinará o Palmeiras por um ano. Os contratos dão um chute na crise. O São Paulo colocará no cofre cerca de R$ 16 milhões por ano.
Ainda falta o Corinthians acertar com seu novo parceiro. O sonho era chegar à casa dos R$ 20 milhões anuais. A realidade diz que não se pode desprezar os R$ 15 milhões.
Em 1981, quando o CND aprovou a propaganda nas camisas de clubes brasileiros, o futebol se dividiu entre os conservadores e os visionários.
Uns queriam os mantos como eram: sagrados. Outros arrotavam que a salvação estava na entrada desse dinheiro.
Como se vê a cada venda de um craque nascido do lado de cá do oceano, salvação é que não foi. O que não significa desprezar a receita.
Mas o número que realmente impressiona não está nos novos acordos. No ano de seu centenário, o Internacional não descarta contratos de publicidade, por mais medíocres que sejam. Mas sua conta fecha mesmo graças ao projeto sócio-torcedor. São 77 mil torcedores que pagam R$ 20 por mês e têm direito a 50% de desconto nos ingressos.
Faça a conta. Anualmente, o Inter arrecada R$ 18 milhões, em torno de 15% a mais do que o São Paulo arrecadará com o novo acordo com a LG.
"Nosso contrato de patrocínio com o Banrisul é ridículo", diz o assessor de futebol do Inter, Fernando Carvalho. Mesmo assim, o clube não reclama por receber cerca de R$ 3 milhões do banco estatal. Não se trata de desprezar os patrocínios de camisa, mas de criar alternativas, dinheiro que venha de outras fontes.
Carvalho aposta no Inter na luta pelo título brasileiro, como o principal rival do São Paulo, de Muricy, e do Corinthians, de Ronaldo. Base mantida depois do título da Copa Sul- -Americana, elenco com jogadores acima da média, como Nilmar e D'Alessandro, o Internacional quer acabar com o jejum de 30 anos sem o Brasileirão. Pode conseguir.
Como o Inter, o Grêmio segue o mesmo caminho. Tem 35 mil sócios pagantes e o mesmo contrato de patrocínio do rival colorado. Enquanto a dupla Gre-Nal arrecada R$ 3 milhões/ano com publicidade, o Flamengo tem o maior contrato do país, também na casa dos R$ 16 milhões. E, no entanto, se há uma ameaça à hegemonia paulista consolidada nos últimos cinco Brasileirões, ela vem do RS, não do RJ.
O ano será de centenário do Inter e do clássico Gre-Nal. Em junho, completam-se cem anos da primeira vez que a dupla se enfrentou, com vitória gremista por 10 a 0. Até lá, o Grêmio tentará faturar sua terceira Libertadores e o Inter lutará por sua segunda Copa do Brasil. "No primeiro semestre, essa é a taça que nos interessa", diz Fernando Carvalho. São ameaças consistentes, tanto para Palmeiras e São Paulo, no torneio sul-americano, quanto para o Corinthians, no mata-mata nacional. Mas a grande goleada gaúcha, por enquanto, está em mostrar ao país que, no futebol, o torcedor é a alma do negócio. Muito mais do que a propaganda.

pvc@uol.com.br


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