São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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A pouco mais de um ano do Mundial, organizadores vivem crise interna

Copa dividida vira dor de cabeça para a Fifa


Japoneses e sul-coreanos confirmam temores iniciais e duelam para hospedar melhores seleções e para se livrar de torcedores violentos durante a competição


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL À CORÉIA DO SUL

Só um terremoto na região poderia impedir a Ásia de abrigar pela primeira vez na história uma Copa do Mundo de futebol.
O comentário de um dos membros da Fifa sobre o Mundial de 2002 revela a aprovação da entidade máxima do futebol sobre o andamento das obras na Coréia do Sul e no Japão, sedes conjuntas da primeira Copa do milênio.
A crise asiática, que assustou Coréia e Japão em 1997 e provocou calafrios na Fifa, que temeu que os sul-coreanos, abalados economicamente, não cumprissem o cronograma estabelecido, já passou. Para o futebol, pelo menos, é esta a avaliação da Fifa.
O que mais tem causado dor de cabeça hoje à entidade máxima do futebol são, na verdade, disputas internas entre os organizadores do Mundial -coreanos, de um lado, japoneses, de outro.
Ao receber a Folha e apresentar pela primeira vez à imprensa brasileira em que pé estão os preparativos para a próxima Copa, o lado coreano não se esforça para disfarçar o conflito.
A começar pelo lobby das duas partes para ter as melhores seleções. Hospedar a equipe brasileira, no caso, é um dos troféus mais disputados pelos organizadores.
(A seleção de Emerson Leão, aliás, é considerada a favorita pelos coreanos para vencer a competição, segundo pesquisa do Gallup. De pouco mais de 1.500 torcedores entrevistados, 43,3% apostam nisso. Em segundo lugar vem a França, com 19,8%.)
Ao mesmo tempo em que disputam alguns times, coreanos e japoneses tentam se livrar de problemas -leia-se Inglaterra e Alemanha, cujos torcedores ficaram conhecidos pela violência.
Não foi à toa que os japoneses, irritados com o que chamam de tentativa da Coréia de mandar para os vizinhos os hooligans ingleses, estudam unilateralmente proibir bebidas alcoólicas em seus estádios e arredores.
E com isso, reclamam os sul-coreanos, ver se convencem os hooligans a ficar na Coréia.
As divergências entre os dois lados -e os ressentimentos, diga-se de passagem- não são novos. Datam do início do século passado, quando os japoneses dominaram a Coréia (1910-1945) e tomaram uma série de medidas contrárias à cultura local.
Até hoje, os coreanos referem-se à dominação japonesa como um dos maiores exemplos de genocídio cultural da história.
Sob controle japonês, o ensino da história coreana chegou a ser banido das escolas, as aulas passaram a ser dadas em japonês e a população local foi obrigada a trabalhar para o Exército rival.
Hoje, ambos símbolos do capitalismo, Coréia do Sul e Japão duelam por outras questões. Concordam em muitos pontos, como a necessidade de lutar contra a entrega de ativos a empresas e bancos dos EUA por preços considerados baixos e a importância de combater o que chamam de ""mazelas da globalização", que estaria indo longe demais.
Quando o assunto é futebol, no entanto, e a Copa do Mundo de 2002, os dois lados não se entendem. E a Fifa, responsável pela decisão de dividir o Mundial em dois países, está tendo de se virar.


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