São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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FUTEBOL

No ano passado, 701 jogadores trocaram o futebol brasileiro pelo de outro país, a maior marca de todos os tempos


Exportação de "pé-de-obra" bate recorde

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O futebol brasileiro bateu o recorde de exportação de jogadores no ano passado.
De acordo com dados do Departamento de Registro e Transferência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) aos quais a Folha teve acesso, 701 atletas foram jogar no exterior em 2000.
O levantamento revela que, a cada dia no ano, quase dois jogadores brasileiros -1,92- foram vendidos para times do exterior.
No total, clubes de 66 países investiram em jogadores nacionais. Foi a primeira vez que o Brasil ultrapassou a barreira de 700 jogadores negociados para clubes estrangeiros em um ano. Em 1999, 658 atletas foram "exportados".
Apesar do alto investimento dos grandes clubes estrangeiros em jogadores como Vampeta, ex-Corinthians, Marcelinho, ex-São Paulo, e Roque Júnior, ex-Palmeiras, a maioria dos brasileiros trocou o país para atuar em times desconhecidos e sem prestígio no cenário mundial.
Portugal, que segue na liderança no ranking de importações, é um exemplo dessa realidade. Mais da metade dos 190 jogadores que foram para lá não está atuando em clubes da primeira divisão -uma das exceções é o atacante Pena, que deixou o Palmeiras para jogar no Porto, uma das equipes mais tradicionais do país.
A grande parte deles foi jogar em times que disputam divisões inferiores ou que apenas participam de competições regionais. Os investimentos dos clubes de Portugal impressionaram no ano passado. O número é quase cinco vezes o total de atletas que deixaram o Brasil com destino ao segundo maior investidor, o Japão. Em 2000, 41 brasileiros foram para o outro lado do mundo jogar no futebol do país asiático.
Além da fama dos jogadores brasileiros, o grande número de atletas nacionais em clubes portugueses se explica. Para os dirigentes de Portugal, os brasileiros são baratos -a maioria aluga o seu passe. Já os brasileiros gostam de atuar em Portugal pelo fato de o idioma ser o mesmo.
O ranking de transferências também aponta os mercados emergentes para os jogadores. A Coréia do Sul -da Ásia oriental, como o Japão- é o principal. Em 1999, os sul-coreanos não contrataram oficialmente nenhum jogador do Brasil. Em 2000, dez atletas foram jogar em times locais. O país vai abrigar, em conjunto com os japoneses, a Copa-2002.
O Líbano (Ásia ocidental) também surpreendeu -os clubes contrataram oito jogadores em 2000. No ano anterior, o Líbano havia comprado apenas o passe de um atleta. A Argentina, que há anos evita investir no mercado brasileiro, levou 13 atletas no ano passado. Mesmo assim, nenhum grande jogador brasileiro foi parar em um desses três países.
Já a França, que tinha como tradição investir em jogadores desconhecidos, começou a contratar brasileiros famosos como os ex-são-paulinos Edmílson, que está no Lyon, e Marcelinho, que foi para o Olympique. No total, os franceses contrataram 13 jogadores.
Para conseguir sucesso no exterior, alguns atletas se mudaram para países considerados exóticos no mundo do futebol, como Indonésia e Cingapura (ambos da Ásia meridional), que empregaram um brasileiro cada.
Em 2000, três atletas deixaram clubes nanicos do Rio para jogar no Haiti (América Central), um dos países mais pobres do mundo. Giovani Glauber Soares também decidiu ousar. Ele saiu do Internacional, do Mato Grosso, para jogar na Albânia, uma das nações consideradas mais atrasadas da Europa. Ele foi atuar no Teuta.
Os dados da CBF revelam ainda os países que voltaram a investir no futebol nacional no ano passado. Romênia, Chipre, Bósnia, Eslováquia, Malta, Suécia, Trinidad e Tobago, Escócia, Albânia e Aruba contrataram jogadores do Brasil em 2000. Em 1999, nenhum desses países haviam comprado passes de brasileiros.


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