São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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FUTEBOL

Síndrome do futebol louco

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O que não falta no futebol atual é escândalo. Há um bom tempo o assunto principal na ""grande imprensa esportiva" não é a bola rolando mesmo.
Para o futebol brasileiro, isso está sendo ótimo internamente, já que a estrutura podre do esporte nacional pode sofrer algumas alterações, mas, externamente, a imagem do país está sendo bastante afetada.
Vemos agora um ar bem patriótico (normalmente visto só em época de Copa) com as recentes disputas comerciais com o Canadá. Governo, empresas, sindicatos de trabalhadores, imprensa, praticamente toda a sociedade saiu em defesa da vaca nacional e mostrou força ao chamado Primeiro Mundo.
O Brasil está apostando em seus produtos, seja avião ou gado, e vem ganhando destaque no mercado mundial, aparecendo, por exemplo, entre os três primeiros na lista dos melhores países para se investir no globo.
O futebol, produto brasileiro mais reconhecido no exterior, continua encabeçando lista de melhores do mundo, prova é que o país está para completar 80 meses como o líder disparado do ranking de seleções da Fifa.
Porém o futebol brasileiro está mostrando tanta sujeira ao planeta que pode acabar colocando em risco a boa imagem de todos os outros produtos do país.
No último campeonato nacional, o mundo viu uma tragédia em São Januário, sendo que alguns jornalistas estrangeiros vivenciaram pessoalmente a confusão no estádio vascaíno, que aglomerou gente como gado.
Eurico Miranda, que comandou a ""boiada" na ocasião, está envolvido em possível desvio de dinheiro de um tradicional investidor norte-americano.
O HMTF, fundo dos EUA, ""fechou as torneiras" desconfiando do poder de gerenciamento dos dirigentes nacionais -é o melhor que pode fazer, já que o seu parceiro Corinthians teve a ""coragem" (leia-se ""cara-de-pau") de resgatar Luxemburgo.
A Parmalat encerrou seu ciclo no Palmeiras, mas ainda sofre, por exemplo, com a falta de profissionalismo de Argel, limitado zagueiro que segue no time paulista por força da multinacional e que não aceita a reserva.
A Nike, que injetou milhões em nosso país para patrocinar seleção, clubes e atletas, acabou dando nome a uma CPI -seu contrato com a CBF poderia sim ser investigado por uma única CPI do Futebol, mas não ser vendido como o ""mal" do país.
Os ""gringos" seguem importando nossos jogadores, de já discutível qualidade, mas estão começando a ""pagar" pelos passaportes falsos dos mesmos, por ""gatos", por alguns inescrupulosos empresários nacionais etc.
O prodígio mais recente do futebol brasileiro, Ronaldinho, nem bem alcançou à Europa e tem que responder por documento falso (no caso, é carteira de motorista, e não passaporte).
Pelé, o maior prodígio que o país já teve, acenou com acordo com a ""banda podre" do futebol e depois deu as mãos ao seu ex-desafeto Ricardo Teixeira.
Tantos exemplos negativos recentes desestimulam o investimento estrangeiro no futebol nacional. Não é à toa que os clubes do país estão com dificuldades para pegar patrocinadores.
Estou com saudade de escrever sobre o melhor do futebol (acho que a última vez foi na Eurocopa), mas tenho que dizer algo: a vaca brasileira não deve ser mesmo louca, mas o futebol nacional é certamente maluco.

Europa
A Copa dos Campeões voltou. Destaque para o Real Madrid, time que tem portas abertas para Juan Figer e que bateu por 3 a 2 a Lazio, que teme pelo passaporte de Verón. Na Copa da Uefa, holofotes na Roma, que teme por vários passaportes e que perdeu por 2 a 0 para o Liverpool, que preserva seus hooligans.

América do Sul
A Libertadores ganhou o noticiário no campo especialmente por algumas surpresas, como as derrotas do Peñarol e do Deportivo Cali em casa. Porém já registrou 38 mudanças de datas e horários em sua tabela original. O Vasco (difícil desassociar de Eurico Miranda) protagonizou sete alterações na tabela.

Canadá
A candidatura a sede da Copa-2010 do maior ""inimigo" brasileiro hoje teve mais repercussão mesmo no Brasil. Copa louca?

E-mail rbueno@folhasp.com.br



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