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FUTEBOL
O craque e o ídolo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Por causa do interesse que
minha coluna do último
domingo despertou em muitos
leitores, resolvi continuar a discussão.
Sugeri que somente deveriam
ser chamados de craques aqueles jogadores fora-de-série, com
muita habilidade, criatividade,
que executam bem os principais
fundamentos técnicos da posição e que são importantes na
conquista de títulos.
Isso tudo, após uma média de
suas atuações no período de
dois anos. No mínimo.
Foi apenas uma sugestão. Esses conceitos foram e devem ser
questionados. Qual a intensidade dessas qualidades?
E o craque que não foi um
grande campeão? Existe?
Estadual é um título importante? Como seriam classificados jogadores polêmicos e irregulares, como Marcelinho, do
Corinthians, e Rivaldo?
Os craques devem ser diferenciados dos gênios? As dúvidas
são infinitas.
Alberto Helena Júnior chama
a atenção de que, hoje, existem
mais jogadores que dominam
melhor os fundamentos técnicos
do que no passado, mas que os
de ontem eram muito mais criativos. Por causa dessa qualidade, fundamental na definição
do craque, havia mais atletas
excepcionais.
Os craques são decisivos, mas
não ganham títulos sozinhos.
Quando atuam ao lado de bons
jogadores e em equipes organizadas, brilham intensamente.
Muitos leitores somente consideram craques os jogadores que
têm conduta profissional e particular correta ou exemplar.
Confundem ídolo com craque.
O ídolo é uma pessoa a quem se
tem grande respeito e afeto.
Nem todo craque é ídolo. Teoricamente, todo ídolo deveria ser
craque.
O atleta e o ser humano deveriam ser analisados separadamente. Na prática, misturam-se.
Não quero ser moralista nem
julgador das condutas humanas. Todos somos pecadores.
Uns mais. Outros menos.
A definição de craque é muito
confusa. Fernando Pessoa disse
que a vida não tem significado.
Tem existência. Assim também
é o craque. Não tem explicação.
Ele é.
Na semana que passou, foi
anunciado o tão esperado código genético humano: sequência
de genes que determinam as características de um indivíduo. É
uma das maiores conquistas da
ciência.
O anúncio também teve algumas decepções e surpresas. Há
somente 30 mil genes, número
bem inferior aos 100 mil imaginados. O genoma humano é do
tamanho de um rato e pouco
maior que o de um verme. Bem
que eu desconfiava que o ser humano não era lá essas coisas!
Na verdade, o mais importante são as combinações dos genes.
99,99% dos genes de uma pessoa
são idênticos aos de outras, independentemente da cor e raça.
Os racistas e xenófobos ficaram
frustrados. Concluiu-se ainda
que o ambiente e a cultura são
muito mais importantes do que
se pensava.
Uma das principais consequências da descoberta será a
prevenção de doenças. Isso ficará mais evidente quando se descobrir a função de cada gene.
Já sabemos quais são os fatores que facilitam o aparecimento de doenças degenerativas e,
mesmo assim, pouco fazemos
para preveni-las. No inconsciente, sentimo-nos imortais.
Há também o lado negativo.
Os hipocondríacos não descansarão enquanto não acharem
um gene torto, doente, que ocasionará alguma enfermidade.
Atualmente, existe uma supervalorização da genética. É a
moda.
Tudo é genético: a tristeza, a
alegria, a escolha sexual, as
doenças, a violência, a minha
preferência por sorvete de coco,
o destino, a criatividade e a mediocridade dos jogadores, a simpatia e a técnica do Guga, a chatice do Marcelinho, do Corinthians, e muitas outras coisas.
A excessiva importância dos
genes retira a responsabilidade
do indivíduo para com seus desejos e destino. Será que não tem
importância o ambiente, os sonhos, os encontros e os desencontros pela vida, as frustrações
e os mistérios?
Os psiquiatras biológicos e os
apaixonados pela ciência responderão: "Claro que sim! Mas
somente se os genes permitirem". Amém!
Na convocação dos jogadores
brasileiros para a partida contra os Estados Unidos, Leão enfatizou que quer definir um time, um elenco, e uma postura
superofensiva. Isso é muito bom!
Vamos ver na prática.
Imagino que o Christian passeava em Paris e recebeu a notícia: "Você foi convocado para
jogar ao lado do Romário".
O jogador deve ter pensado:
"Quando estava com prestígio
atuei na seleção e fui mal. Sou
reserva desse fraco time do Paris
Saint-Germain e jogo na mesma
posição do Romário. Só pode ser
trote".
O melhor da entrevista coletiva de convocação foi a ausência
da pose, prepotência e falta de
transparência da época do Luxemburgo.
As coisas precisam ser descobertas, transparentes, ditas e
analisadas. Tintim por tintim.
Coisa por coisa.
Parabéns à Folha, pelos 80
anos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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