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São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2003

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OLIMPÍADA

Entidade investiga acusações de tortura contra comitê dirigido por filho de Saddam, que vê perseguição no caso

COI estuda tirar Iraque dos Jogos de 2004

FÁBIO SEIXAS
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O esporte iraquiano está na mira do Comitê Olímpico Internacional. A Comissão de Ética da entidade, que analisa há três semanas denúncias de torturas contra atletas do país de Saddam Hussein, deve anunciar em abril o resultado das investigações.
Se os casos forem comprovados, o Iraque será eliminado do COI e dos Jogos de 2004.
As acusações foram apresentadas em dezembro pela Indict, uma ONG inglesa que trabalha com exilados e refugiados iraquianos na Europa.
Nos documentos entregues pela Indict em dezembro, há depoimentos de dois atletas. A identidade de um deles é mantida em segredo. O outro é Raed Ahmad, halterofilista que levou a bandeira do Iraque na cerimônia de abertura de Atlanta-96 e, dias depois, pediu asilo político aos EUA.
Ahmad diz que as torturas contra atletas são frequentes e que o Comitê Olímpico Iraquiano é discriminatório. E acusa Udai Hussein, um dos filhos de Saddam, que preside a entidade e é o principal dirigente esportivo do país.
Segundo a Indict, Udai persegue não apenas competidores que vão mal em torneios. Suas famílias também sofrem torturas.
A ONG conta que um atleta foi obrigado a deitar sobre piche quente após falhar em uma competição e que Udai forçou a mulher e os filhos de outro a denegri-lo diante das câmeras da TV.
Apesar de o COI dizer que as investigações correm em sigilo, Charles Forrest, presidente da Indict, disse à Folha, por telefone, não estar satisfeito com os trabalhos da comissão.
"Eles ainda não entrevistaram nenhum dos atletas que nós apresentamos. Não estão levando o caso a sério como deviam", declarou. "Estamos falando de tortura e sofrimento. Se houver guerra e Saddam Hussein cair, os casos se tornarão públicos e o COI verá que errou, porque deixou a situação chegar a esse ponto."
Mas Taha Hassan, assessor de Udai Hussein no comitê iraquiano, afirmou que uma eventual punição é que seria absurda.
"São denúncias requentadas, criadas pelos governos norte-americano e britânico. Não estranho que parta de uma ONG com sede no Reino Unido. Eles querem de qualquer jeito inventar justificativas para atacar o Iraque. Em 1997, fomos alvos de uma extensa investigação da Fifa [Udai foi acusado de dar chibatadas em atletas de futebol] e nada foi provado. Agora será a mesma coisa."


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