São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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Isolado, Nastás antecipa eleição e abdica da Davis

Com denúncias de irregularidades e combatido pelos tenistas, dirigente abre mão de indicar capitão e diz que por "razões pessoais" sai em maio

FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem apoio nem mesmo entre seus aliados, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis, Nelson Nastás, decidiu antecipar a eleição, com o compromisso de não ser candidato, renunciar ao cargo em maio e dar total autonomia aos jogadores para montar a comissão técnica da Copa Davis.
Em comunicado oficial divulgado ontem, a CBT afirma que Nastás, 53, não quer ser "partícipe, ainda que involuntariamente, de eventual boicote à Copa Davis".
O dirigente declara que tomou a decisão por "razões pessoais" e que atendeu pedido de 12 federações que não fazem parte da oposição intitulada Tênis Brasil.
A eleição para a sucessão de Nastás, no poder desde 1994, foi marcada para 15 de maio, data sugerida pelas federações.
Com isso, o presidente espera que o boicote à Copa Davis, anunciado inicialmente por Gustavo Kuerten e que ganhou adesão da maioria dos principais tenistas profissionais do país, não ocorra.
Guga disse que não integraria a equipe contra os paraguaios pelo Zonal Americano, entre os dias 9 e 11 de abril, na Costa do Sauípe, nem em outros confrontos enquanto Nastás estivesse no cargo.
"Dessa forma, a CBT espera que os jogadores, em especial Gustavo Kuerten e o técnico Larri Passos, repensem sua posição", afirma o comunicado da confederação.
O estopim que causou a grave crise na CBT envolveu justamente o principal torneio entre países.
Em fevereiro, dois dias antes do Torneio da Costa do Sauípe, o único evento de primeira linha no país, Nastás anunciou, sem consulta aos jogadores, que Jaime Oncins substituiria Ricardo Acioly no cargo de capitão.
Descontentes com a gestão de Nastás, os jogadores, que já haviam pedido sua saída em reunião em setembro, no Canadá, após o rebaixamento na Copa Davis, passaram a falar em boicote.
Na terça-feira da semana passada, Guga anunciou sua decisão. Depois dele foi a vez de André Sá, Flávio Saretta e Ricardo Mello adotarem a mesma posição.
Sem poder contar com os jogadores que defenderam a equipe nos dois últimos confrontos na Davis, Oncins entregou o cargo.
Além da crise na parte técnica, Nastás enfrentou também problemas com a oposição, que o acusa de várias irregularidades.
Um dia após o anúncio de Guga, a sede da CBT foi devassada por policiais que cumpriam mandado de busca e apreensão. Um inquérito policial investiga o presidente da entidade por formação de quadrilha e falsidade ideológica.
Com esse cenário, a oposição tentou viabilizar uma assembléia extraordinária para pedir a destituição de Nastás do cargo.
O movimento disse ontem não saber se iria dar prosseguimento ao processo para tentar afastá-lo.
A CBT classificou o comunicado de ontem como "uma saída conciliadora" para a atual situação do tênis, mas a oposição não cessou os ataques ao dirigente.
Segundo ela, antes do comunicado, Nastás teria proposto a aprovação das contas referentes aos anos de 1999 a 2004 "no escuro" e de um estatuto falso em troca da renúncia ao cargo.
"Aceitar as condições oferecidas pelo Nastás seria uma incoerência inconcebível de nossa parte", afirma o presidente da Federação Catarinense, Jorge Lacerda Rosa.
"Queremos que ele saia, mas não a qualquer preço", afirmou Carlos Alberto Braga, presidente da Federação do Espírito Santo.
O presidente da CBT repudiou as informações. "Tal proposta jamais aconteceu", afirmou em uma nota de esclarecimento.
Nastás disse que o que ofereceu inicialmente foi uma licença e a criação de um colegiado, com cinco federações -três indicadas pela oposição e duas pela CBT-, para administrar a confederação até a data da eleição.


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